Antram não aceita voltar às negociações com a greve a decorrer
A Associação Nacional dos Transportes Rodoviários de Mercadorias (Antram) não aceita o desafio lançado pelo sindicato dos motoristas de matérias perigosas para uma reunião negocial a realizar esta quinta-feira, às 15:00, na Direção-geral do Emprego e Relações de Trabalho (DGERT).
Pedro Polónio, vice-presidente da Antram, afirmou que não podem regressar à mesa das negociações com a greve a decorrer.
"Não podemos negociar com a espada na cabeça", disse Pedro Polónio junto ao Ministério das Infraestruturas, onde foi assinado, na presença do Governo, o acordo entre a Fectrans, sindicato que não está em greve, e a Antram em relação ao contrato coletivo de trabalho, que deverá entrar em vigor a 1 de janeiro de 2020.
"Nós reunimos com quem se quer sentar à mesa para negociar de uma forma franca e transparente e que reflita a verdade daquilo que ficou escrito. Neste momento, essas condições não estão reunidas nem com o Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM) nem com o Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP). Bem gostaríamos que as greves fossem levantadas", disse Pedro Polónio.
O ministro das Infraestruturas, à saída da reunião entre a Antram e a Fectrans, apelou aos sindicatos para acabarem com a greve. "O tempo da greve terminou, é tempo de parar a greve para garantir boas relações de trabalho", disse. Pedro Nuno Santos explicou que "as vias de diálogo estão abertas" e deu como exemplo o acordo alcançado na noite de quarta-feira com a Fectrans, que considera ser "muito importante" para os motoristas.
O impasse mantém-se com os sindicatos a disponibilizarem-se para retomar as negociações, mas sem prescindirem da greve, enquanto os patrões só regressam à mesa das negociações com o fim da paralisação. Perante este cenário, o ministro Pedro Nuno Santos voltou a recordar que há mecanismo na lei para promover a negociação, que "devem ser explorados ao seu limite".
Apesar do apelo do Governo, Pedro Pardal Henriques, que representa o sindicato dos motoristas de matérias perigosas, disse que a greve vai manter-se. Perante a recusa da Antram em aceitar o desafio para uma nova reunião com o sindicato, o porta-voz do SNMMP afirmou que a associação que representa os patrões "está protegida pelo Governo, pelas forças que deveriam estar a servir o país e que estão a servir o poder económico".
Ainda assim, disse acreditar que é possível retomar as negociações. "Continuo a acreditar que vai haver esta reunião. Eu vou estar às 15:00 na DGERT", garantiu.
Em relação ao acordo assinado entre a Fectrans e a Antram, Pardal Henriques reage com ironia e desvalorizou o entendimento alcançado esta noite. "Os portugueses já viram que quem está do lado do Governo é apoiado e é patrocinado com pompa e circunstância", afirmou. Pelo contrário, "quem se mete com o PS, leva", acrescentou.
O representante do sindicato dos motoristas de matérias perigosas afirmou que o "Governo patrocinou um acordo que foi assinado à revelia do que os motoristas pretendiam". "Os motoristas têm reclamado condições que não são as que estão no acordo", considerou sem poupar nas críticas. "Foi um acordo de fantochada para tentar esvaziar, mais uma vez, o direito à greve destas pessoas", acusou.
O porta-voz do SNMMP, Pardal Henriques, desafiou na tarde desta quarta-feira a Antram para o retomar das negociações. "Queria lançar um desafio público ao dr. André Almeida, à Antram, para que amanhã às 15:00 possa estar na DGERT (Direção Geral do Emprego e das Relações de Trabalho) para falar connosco, para que nos sentemos à mesa e encontremos uma proposta que agrade às duas partes para fazer terminar isto", disse o advogado que representa o SNMMP, Pardal Henriques que falou numa "conciliação", mas sem cancelar a greve.
A proposta do porta-voz do sindicato para que haja o retomar das negociações foi lançada aos patrões esta quarta-feira, junto à Companhia Logística de Combustíveis, em Aveiras de Cima, onde está concentrado um piquete de greve. Para Pardal Henriques, é preciso "terminar com esta palhaçada".
Aos jornalistas, referiu que se não se encontrar "uma solução para resolver o problema, a tendência é para piorar, é para o caos aumentar" porque "os postos de gasolina vão começar a ficar secos e a revolta das pessoas vai aumentar".
Com Lusa