António Lobo Antunes junta-se a intelectuais de 21 países contra o populismo na Europa

Escritores, historiadores, pensadores, alguns laureados com Nobel, assumem-se num Manifesto divulgado hoje em vários jornais. E afirmam que a Europa está a ser atacada, que a Europa não é só geografia é uma ideia, de unidade, de valores e princípios de liberdade e de democracia.
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Historiadores e escritores de 21 países europeus lançaram um manifesto contra a proliferação dos movimentos populistas na Europa. O escritor português António Lobo Antunes é um dos 30 intelectuais que integra este grupo.

O manifesto, que foi hoje publicado em vários jornais europeus, incluindo o The Guardian, os intelectuais, alguns laureados com Nobel, afirmam que a Europa vive um desafio que não enfrentava desde o início do século, mais propriamente desde a década de 1930, a partir da recessão.

A Europa, sublinham, vive um período de desintegração, com o Brexit à porta e com os movimentos nacionalistas e populistas a ganharem terreno em muitos países do velho continente. Historiadores e escritores concordam que a Europa, como ideia unida, está a "desmoronar-se diante dos nosso olhos."

No documento é ainda sublinhado ser preciso "redescobrir o voluntarismo político ou aceitar que o ressentimento e o ódio" poderão contaminar o sentimento europeísta.

O escritor português, juntamente com Milan Kundera, Salman Rushdie e Bernard-Henri Lévy e outros 26, lamentam que a ideia de uma Europa unida tenha sido "abandonada do outro lado do Canal" - numa referência ao Brexit. E lançam um apelo aos europeus, que sejam feitos todos os esforços, no sentido de se combater a onda crescente de nacionalismo e populismo que se assiste na União Europeia.

No documento, os intelectuais sublinham o facto de as eleições europeias, marcadas para maio, serem um teste que é preciso ultrapassar. Estas poderão ser "as mais calamitosas que já conhecemos", se não forem feitos esforços para se combater estes movimentos.

A vitória destes movimentos, "destruidores e a desgraça para aqueles que ainda acreditam no legado de Erasmo, Dante, Goethe e Comenius" será "um desastre e um desdém para a inteligência e cultura", permitirá a "explosão da xenofobia e do anti-semitismo."

Os signatários, onde se incluem ainda os romancistas Ian McEwan, o historiador Simon Schama e os prémios Nobel Svetlana Alexievitch, Herta Müller, Orhan Pamuk e Elfriede Jelinek. Rushdie referiu ao jornal The Guardian que "a Europa está em maior perigo agora do que em qualquer momento nos últimos 70 anos."

O escritor afirma ainda, quando ao Brexit, esperar que "o parlamento no Reino Unido tenha a coragem de pedir um segundo referendo. Isso poderia resgatar o país da calamidade do Brexit e percorrer um longo caminho rumo ao resgate da UE também ".

McEwan assume ter assinado o manifesto por estar "muito pessimista" sobre o atual momento na Europa, mas "tem esperança", que o sentimento ou esta tendência mais extremista mude.

Pamuk defende que a ideia de uma Europa unida também é importante para os países não ocidentais. "Sem a ideia da Europa, a liberdade, os direitos das mulheres, a democracia e o igualitarismo são difíceis de defender na minha parte do mundo. Acrescentando: "O sucesso histórico da Europa facilitou a defesa dessas ideias e valores que são cruciais para a humanidade em todo o mundo".

"Não há Europa além desses valores, exceto a Europa do turismo e dos negócios. A Europa não é uma geografia, são as ideias. E a ideia da Europa está a ser atacada." Por isso, este grupo apela a tomadas de posição nas eleições da UE em maio - a primeira que não incluirá a Grã-Bretanha - contra os partidos populistas, nacionalistas ou anti-imigração.

Aqui fica a lista completa dos intelectuais que uniram no Manifesto agora difundido: Vassilis Alexakis, Svetlana Alexievitch, Anne Applebaum, Jens Christian Grøndahl, David Grossman, Agnès Heller, Elfriede Jelinek, Ismaïl Kadaré, György Konrád, Milan Kundera, Bernard-Henri Lévy, António Lobo Antunes, Cláudio Magris, Ian McEwan, Herta Müller, Lyudmila Ulitskaya, Orhan Pamuk, Rob Riemen, Salman Rushdie, Fernando Savater, Roberto Saviano, Eugenio Scalfari, Simon Schama, Pedro Schneider, Abdulah Sidran, Leïla Slimani, Colm Tóibin, Mario Vargas Llosa, Adam Michnik e Adam Zagajewski

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