Como antevê o retrato da saúde em Portugal? Vejo o SNS extenuado pelo tremendo esforço exigido pela crise pandémica, mas com potencial humano, conhecimento médico-científico e resiliência organizacional para se recompor e melhorar o seu desempenho. Importa, no entanto, que sejam feitas as reformas e os investimentos necessários para tornar o SNS mais atrativo quer para os profissionais de saúde, quer para os próprios utentes..Qual seria para si o governo ideal para o país? Um governo com estabilidade governativa, capaz de firmar compromissos com a oposição em áreas-chave para o desenvolvimento do país e consciente da importância do investimento na qualificação, ciência e inovação para a competitividade económica, para a coesão social e territorial e para a sustentabilidade ambiental..De que forma poderá o país voltar a colocar a economia na rota de crescimento? Portugal tem de saber retirar os devidos ensinamentos da crise pandémica. As sociedades mais qualificadas e com economias mais especializadas, digitais e inovadoras responderam melhor à pandemia e estão em melhores condições de triunfar no mundo pós-covid. Por isso, a aceleração do crescimento económico do país deve ser promovida pelo investimento em projetos e infraestruturas de ensino, investigação e tecnologia, em ecossistemas de inovação e em interfaces academia/empresas. Desta forma, Portugal terá um contexto mais favorável ao desenvolvimento de produtos inovadores, cujo valor acrescentado possibilite um salto na competitividade do país e nos rendimentos da população..Salário mínimo: um desafio ou uma oportunidade? Vai ajudar ou desajudar o país? Subir o salário mínimo não chega para valorizar e dignificar o emprego. Como alertou recentemente o economista Eugénio Rosa, Portugal está a tornar-se um país de salários mínimos, ao mesmo tempo que se verifica uma estagnação dos salários dos trabalhadores mais qualificados. São precisas, por isso, medidas de fundo que criem condições para que no setor público e no setor privado se paguem melhores salários. Isto passa, a meu ver, por um alívio da carga fiscal e contributiva dos empregadores, por investimentos que promovam o crescimento da produtividade (designadamente em formação e requalificação profissional) e pela atração de investimento direto estrangeiro...A natalidade é um dos desafios nacionais. Que medida(s) poderá o novo governo implementar para colmatar a falta de nascimentos? O aumento da natalidade também passa pela questão salarial. Bons salários complementados com um sistema generoso de incentivos (incluindo creches gratuitas), com medidas para equilibrar o emprego e as obrigações familiares (flexibilidade nos horários de trabalho, por exemplo) e com uma maior equidade de género nos deveres parentais podem fomentar a natalidade, à semelhança do que acontece noutros países europeus..Envelhecimento ativo é outra preocupação. O que fazer em 2022 para cuidar dos mais velhos (que tanto sofreram, ficando isolados com a pandemia)? É preciso atuar a dois níveis: ao nível da saúde, alargando e qualificando a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados e promovendo comportamentos mais saudáveis (alimentação, desporto, convívio, etc.), que representem um ganho na qualidade de vida dos idosos; e ao nível da proteção social, melhorando a resposta pública de lares e cuidados domiciliários e aumentando os apoios aos cuidadores informais. Numa perspetiva de longo prazo, o país deve ter uma estratégia para promover a formação, investigação, desenvolvimento e inovação no domínio do envelhecimento ativo e saudável..O ensino que grandes tendências terá em 2022? Em 2022, as instituições de ensino superior vão, sobretudo, procurar recuperar dos efeitos da crise sanitária. Isto significa acelerar a execução de projetos de ensino, investigação e inovação que se atrasaram por causa das restrições impostas pelo combate à pandemia. As instituições esperam, assim, retomar os seus anteriores parâmetros ao nível da formação, da mobilidade académica, da produção científica, da transferência de tecnologia e da prestação de serviços à comunidade. Quanto às grandes tendências de futuro, direi que a inovação pedagógica com base na transição digital será uma delas, mas também o aprofundamento da internacionalização, através da atração de estudantes estrangeiros, da dinamização da mobilidade académica e da participação das instituições em projetos, consórcios e redes de conhecimento internacionais. Outra tendência é o reforço da atividade científica das instituições, numa lógica integrada e multidisciplinar e com reflexos no processo de ensino-aprendizagem, que passa a privilegiar a procura ou mesmo a produção do conhecimento. Circunstância que implica a generalização de modelos pedagógicos baseados em projetos, a partir dos quais se desenvolvem a autoaprendizagem, o trabalho em equipa e as técnicas de investigação científica..Alterações climáticas: que contributo irá dar, a título pessoal e através da sua instituição, para colmatar esses efeitos? A título pessoal, procuro ser frugal no meu dia-a-dia, de forma a evitar o desperdício e o consumo excessivo de recursos. Quanto à Universidade do Porto, a instituição está muito empenhada no combate às alterações climáticas, nomeadamente através do projeto Casa Comum da Humanidade, que preconiza um modelo de governação global dos recursos naturais da Terra. A Universidade dispõe de unidades de I&D com competências avançadas no estudo das alterações climáticas e com capacidade para aplicar conhecimento científico na resolução dos impactos ambientais daí decorrentes. Em 2022, vamos continuar a desenvolver projetos em áreas tão cruciais para a sustentabilidade ambiental como a mobilidade inteligente, a transição energética, os combustíveis verdes, a biodiversidade ou as cidades sustentáveis..Qual é aquele livro/desporto/viagem/atividade que tem vindo a adiar e que quer mesmo ler/fazer no novo ano? Voltar a fotografar e revisitar a Indochina, local do planeta da minha predileção..Se fosse um super-herói, qual seria? Confesso a minha ignorância em relação ao universo da Marvel. Estou mais familiarizado com personagens literárias... Direi, pois, que, como caçador, me revejo na perseverança de Santiago, o pescador cubano retratado por Hemingway n"O Velho e o Mar..Um luxo para si, em 2022, é? Ter tempo para fazer aquilo de que mais gosto.
Como antevê o retrato da saúde em Portugal? Vejo o SNS extenuado pelo tremendo esforço exigido pela crise pandémica, mas com potencial humano, conhecimento médico-científico e resiliência organizacional para se recompor e melhorar o seu desempenho. Importa, no entanto, que sejam feitas as reformas e os investimentos necessários para tornar o SNS mais atrativo quer para os profissionais de saúde, quer para os próprios utentes..Qual seria para si o governo ideal para o país? Um governo com estabilidade governativa, capaz de firmar compromissos com a oposição em áreas-chave para o desenvolvimento do país e consciente da importância do investimento na qualificação, ciência e inovação para a competitividade económica, para a coesão social e territorial e para a sustentabilidade ambiental..De que forma poderá o país voltar a colocar a economia na rota de crescimento? Portugal tem de saber retirar os devidos ensinamentos da crise pandémica. As sociedades mais qualificadas e com economias mais especializadas, digitais e inovadoras responderam melhor à pandemia e estão em melhores condições de triunfar no mundo pós-covid. Por isso, a aceleração do crescimento económico do país deve ser promovida pelo investimento em projetos e infraestruturas de ensino, investigação e tecnologia, em ecossistemas de inovação e em interfaces academia/empresas. Desta forma, Portugal terá um contexto mais favorável ao desenvolvimento de produtos inovadores, cujo valor acrescentado possibilite um salto na competitividade do país e nos rendimentos da população..Salário mínimo: um desafio ou uma oportunidade? Vai ajudar ou desajudar o país? Subir o salário mínimo não chega para valorizar e dignificar o emprego. Como alertou recentemente o economista Eugénio Rosa, Portugal está a tornar-se um país de salários mínimos, ao mesmo tempo que se verifica uma estagnação dos salários dos trabalhadores mais qualificados. São precisas, por isso, medidas de fundo que criem condições para que no setor público e no setor privado se paguem melhores salários. Isto passa, a meu ver, por um alívio da carga fiscal e contributiva dos empregadores, por investimentos que promovam o crescimento da produtividade (designadamente em formação e requalificação profissional) e pela atração de investimento direto estrangeiro...A natalidade é um dos desafios nacionais. Que medida(s) poderá o novo governo implementar para colmatar a falta de nascimentos? O aumento da natalidade também passa pela questão salarial. Bons salários complementados com um sistema generoso de incentivos (incluindo creches gratuitas), com medidas para equilibrar o emprego e as obrigações familiares (flexibilidade nos horários de trabalho, por exemplo) e com uma maior equidade de género nos deveres parentais podem fomentar a natalidade, à semelhança do que acontece noutros países europeus..Envelhecimento ativo é outra preocupação. O que fazer em 2022 para cuidar dos mais velhos (que tanto sofreram, ficando isolados com a pandemia)? É preciso atuar a dois níveis: ao nível da saúde, alargando e qualificando a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados e promovendo comportamentos mais saudáveis (alimentação, desporto, convívio, etc.), que representem um ganho na qualidade de vida dos idosos; e ao nível da proteção social, melhorando a resposta pública de lares e cuidados domiciliários e aumentando os apoios aos cuidadores informais. Numa perspetiva de longo prazo, o país deve ter uma estratégia para promover a formação, investigação, desenvolvimento e inovação no domínio do envelhecimento ativo e saudável..O ensino que grandes tendências terá em 2022? Em 2022, as instituições de ensino superior vão, sobretudo, procurar recuperar dos efeitos da crise sanitária. Isto significa acelerar a execução de projetos de ensino, investigação e inovação que se atrasaram por causa das restrições impostas pelo combate à pandemia. As instituições esperam, assim, retomar os seus anteriores parâmetros ao nível da formação, da mobilidade académica, da produção científica, da transferência de tecnologia e da prestação de serviços à comunidade. Quanto às grandes tendências de futuro, direi que a inovação pedagógica com base na transição digital será uma delas, mas também o aprofundamento da internacionalização, através da atração de estudantes estrangeiros, da dinamização da mobilidade académica e da participação das instituições em projetos, consórcios e redes de conhecimento internacionais. Outra tendência é o reforço da atividade científica das instituições, numa lógica integrada e multidisciplinar e com reflexos no processo de ensino-aprendizagem, que passa a privilegiar a procura ou mesmo a produção do conhecimento. Circunstância que implica a generalização de modelos pedagógicos baseados em projetos, a partir dos quais se desenvolvem a autoaprendizagem, o trabalho em equipa e as técnicas de investigação científica..Alterações climáticas: que contributo irá dar, a título pessoal e através da sua instituição, para colmatar esses efeitos? A título pessoal, procuro ser frugal no meu dia-a-dia, de forma a evitar o desperdício e o consumo excessivo de recursos. Quanto à Universidade do Porto, a instituição está muito empenhada no combate às alterações climáticas, nomeadamente através do projeto Casa Comum da Humanidade, que preconiza um modelo de governação global dos recursos naturais da Terra. A Universidade dispõe de unidades de I&D com competências avançadas no estudo das alterações climáticas e com capacidade para aplicar conhecimento científico na resolução dos impactos ambientais daí decorrentes. Em 2022, vamos continuar a desenvolver projetos em áreas tão cruciais para a sustentabilidade ambiental como a mobilidade inteligente, a transição energética, os combustíveis verdes, a biodiversidade ou as cidades sustentáveis..Qual é aquele livro/desporto/viagem/atividade que tem vindo a adiar e que quer mesmo ler/fazer no novo ano? Voltar a fotografar e revisitar a Indochina, local do planeta da minha predileção..Se fosse um super-herói, qual seria? Confesso a minha ignorância em relação ao universo da Marvel. Estou mais familiarizado com personagens literárias... Direi, pois, que, como caçador, me revejo na perseverança de Santiago, o pescador cubano retratado por Hemingway n"O Velho e o Mar..Um luxo para si, em 2022, é? Ter tempo para fazer aquilo de que mais gosto.