Antigos distribuidores da Central de Cervejas pedem intervenção de Costa
Três pequenos distribuidores independentes do sul e Alentejo que viram cessar unilateralmente o contrato que os unia há décadas à Sociedade Central de Cervejas e Bebidas (SCC), vendo com isso desaparecer até 90% do seu volume de negócio, pediram a intervenção de António Costa. Os empresários, que já avançaram com processos contra a dona da Sagres, entregaram nesta semana uma carta ao gabinete do primeiro-ministro e questionam o porquê da estratégia da cervejeira de acabar com os contratos com os distribuidores independentes para avançar com distribuição própria, através da Novadis, quando esse é um negócio que tem vindo a acumular prejuízos desde o arranque: cerca de 40 milhões de resultados negativos em quatro anos.
"Não comentamos em público diferendos ou questões que temos com parceiros ou clientes comerciais", reage Nuno Pinto Magalhães, diretor de comunicação e relações institucionais da SCC, sobre a carta entregue a António Costa. A cervejeira fala em "visão estratégica de longo prazo" e que "começa a ver sinais positivos".
A entrada da dona da Sagres e da Luso na distribuição própria ocorreu em 2012, altura em que comprou a Sodicel, com quem trabalhava desde 1959, a maior distribuidora da zona centro, cobrindo os distritos de Leiria, Castelo Branco, Lisboa e de Santarém. Os 233 funcionários e todos os ativos transitaram para a cervejeira. Na época só a Sodicel representava 10% das vendas. Meses depois, em novembro de 2013, a Central constituiu a Novadis e, em março de 2014, deu um novo passo no sentido da criação da sua rede de distribuição própria com o anúncio de que a Novadis ia assegurar diretamente a entrega para a restauração na zona de Lisboa, pondo fim à relação de largos anos que mantinha com a Unilogos e com a Torres on Trade.
O mesmo processo de substituição foi levado a cabo em outras regiões, como Alentejo e Algarve, embora ainda mantendo relação com pequenos distribuidores. Atualmente, a companhia, que tem 900 colaboradores, "assegura o route do market, vendas e distribuição, do nosso portfólio e de terceiros, para cerca de 70% dos pontos de venda do canal Horeca. Os outros 30% são assegurados por distribuidores independentes", adianta Nuno Pinto Magalhães.
A criação de uma rede própria levou ao fim de muitos acordos que ligavam a cervejeira a pequenos distribuidores independentes, tendo motivado alguns processos em Tribunal. Foi o caso de três pequenos distribuidores do Alentejo e Algarve, a Carlos Romero, a Candeias e Filhos e a algarvia António Francisco Gonçalves Lda, que avançaram com ações, pedindo, em conjunto mais de 5,2 milhões de euros por prejuízos inerentes à cessação inesperada da atividade, de clientela e à sua imagem, tal como avançou em março o DN/Dinheiro Vivo.
Até agora, apenas uma das ações tem data de julgamento. "A 1.ª sessão de julgamento está marcada para o dia 13 de setembro, no Tribunal Judicial de Faro e até ao momento a SCC não avançou com nenhuma proposta de acordo", adianta Paulo Gonçalves, da António Francisco Gonçalves, que já encerrou atividade.
Na carta onde pedem a intervenção de António Costa, a que o DN/Dinheiro Vivo teve acesso, os empresários questionam a estratégia da SCC ao criar uma distribuidora própria já que a mesma tem vindo a acumular prejuízos. Em 2014, primeiro ano completo após formação da distribuidora, a Novadis registou um resultado líquido negativo de 7,54 milhões; em 2015 esse valor sobe para 13,77 milhões, no ano seguinte os prejuízos recuam para 10,79 milhões e voltam novamente a reduzir em 2017, fechando com 7,8 milhões de resultados negativos, de acordo com os dados do Informa, a que o DN/Dinheiro Vivo teve acesso.
"Os resultados refletem uma visão estratégica, a longo prazo da SCC, para garantir o melhor nível de serviço aos nossos clientes, através de um distribuidor próprio", refere Nuno Pinto Magalhães. "Para sermos o maior distribuidor de bebidas a nível nacional, com um portfólio completo, repleto das marcas preferidas dos consumidores, com condições competitivas para os nossos clientes, associado a um serviço de excelência, requer tempo e investimento, que aliás se reflete na tendência dos resultados anuais", reforça o diretor de comunicação e relações institucionais da SCC.
A redução dos resultados negativos nos últimos dois anos de operação são bons sinais para a cervejeira. "Em linha com a estratégia definida pela companhia, começamos a ver resultados positivos, no nosso serviço aos clientes, beneficiando de sinergias e eficiências, na expectativa que os resultados acompanhem a tendência verificada no ano anterior", defende o responsável da cervejeira controlada pela Heineken.
Mais de metade do território já é coberto pela Novadis, mas a Sociedade Central de Cervejas não adianta se há planos para expandir a rede. "Neste momento a Novadis cobre, de forma estável, cerca de 70% do território nacional."