Antiga estrela do atletismo é candidato-surpresa a presidente

Ganhou inúmeras corridas ao lado do irmão gémeo, Domingos, foi empresário de futebolistas e hoje trabalha no 1.º de Agosto, de Angola. Quer suceder a Bruno de Carvalho
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Dionísio Castro, juntamente com o irmão gémeo, Domingos, marcou uma era no atletismo do Sporting. Na sexta-feira, surpreendeu tudo e todos ao anunciar a sua candidatura ao cargo de presidente do Sporting no caso de haver eleições.

"Infelizmente, o meu clube está numa situação muito delicada, devido às tomadas de posição do presidente do Sporting contra os jogadores e o treinador, que começaram depois do jogo de Madrid. Não estou a gostar nada do rumo que isto está a levar e decidi que devia apresentar a minha candidatura", começa por referir ao DN, garantindo que tem "o apoio de muitos notáveis e figuras do Sporting, que serão conhecidos quando a atual direção cair".

Dionísio Castro apela para que o atual conselho diretivo "peça a demissão antes da assembleia geral de 23 de junho e saia com alguma dignidade, porque quanto mais tempo ficar no poder, mais o Sporting sairá prejudicado". Depois, o antigo atleta dos leões diz estar pronto para "pegar no leme, reequilibrar o clube e levá-lo de volta às grandes vitórias que merece".

Como atleta, Dionísio chegou aos leões em 1985 e saiu em 1998, para ingressar no Pão de Açúcar do Brasil, terminando a carreira em 2000. Pouco tempo depois de abandonar a competição, passou a trabalhar como empresário de jogadores: "Foram 15 anos nessas funções e trabalhei com grandes clubes, mas deixei há já cinco anos, devido à ingratidão de alguns futebolistas, dos quais fui empresário e pai e que me trocaram por outros agentes depois de terem sido aliciados. Levei uma grande facada e os meus valores não permitiam que continuasse a aturar esses malandros, por isso larguei tudo."

Atualmente, continua ligado ao desporto-rei, mas como diretor do futebol nos angolanos do 1.º de Agosto. "Está a ser uma experiência fantástica e nem imagina o prazer que me tem dado acompanhar o crescimento destes jovens, num dos melhores clubes de Angola. E acredite que vários têm potencialidades para jogar em bons clubes de Portugal. Temos treinadores portugueses do escalão de infantis até aos sub-20 e por isso estes jovens já estão habituados ao estilo de jogo europeu", sublinha.

Atualmente, Dionísio tem 54 anos, e longe vão os tempos em que começou a praticar atletismo, juntamente com o irmão gémeo, em Fermentões, freguesia de Guimarães onde nasceu e cresceu. "Somos oito irmãos e viemos de uma família muito humilde. Desde muito novo que eu era carpinteiro e o mano [Domingos] trabalhava nas obras. Tínhamos 14 anos quando começámos a correr pela Casa do Povo de Fermentões, mas esta nossa paixão não foi muito bem aceite pelos nossos pais, que tinham medo que ficássemos doentes. Levámos muita surra, mas a verdade é que Deus deu-nos este dom da corrida e à medida que começámos a ganhar provas e a levar dinheiro para casa, os nossos pais lá perceberam que o atletismo seria o nosso futuro", refere.

As histórias incríveis no Sporting

Aos 18 anos os gémeos separaram--se pela primeira vez quando Domingos foi convidado a representar o Sporting. "Fomos fazer uma corrida a Espanha e o mano destacou-se de tal forma que o professor Moniz Pereira o levou para o Sporting. Eu permaneci em Fermentões e fiquei num estado tal que não comi e não dormi durante oito dias", conta.

O mais curioso é que Dionísio chegou a viver às escondidas na casa onde viviam os atletas do Sporting de fora de Lisboa, junto ao Estádio José Alvalade, fazendo companhia ao gémeo. "Tantas vezes que a cozinheira me dizia "oh Domingos, estás a comer muito!", a pensar que era o meu irmão", diz.

A total felicidade só surgiu quando Dionísio também ingressou no Sporting. "Nos dois anos em que o mano esteve sozinho lá, não conseguiu ganhar uma única prova! O Rui Pignatelli, diretor do atletismo do clube, já dizia que eu é que devia ter ido para o Sporting, e lá fui eu, juntando-me ao meu irmão. Felizmente, as coisas começaram-nos a correr muito bem", sublinha.

"Éramos dois diamantes em bruto, prontos para sermos lapidados pelo professor Moniz Pereira. E também tivemos a sorte de ter chegado numa altura em que "monstros sagrados" como Carlos Lopes e Fernando Mamede estavam a começar a curva descendente, embora ainda fossem atletas de exceção", diz. No entanto, nem sempre tudo correu bem no contacto com as grandes figuras do clube de Alvalade. "Na primeira vez que fomos treinar com o Mamede e com o Carlos Lopes, o mano ultrapassou este último, mesmo à chegada ao estádio. Foi uma "tourada", com o Carlos Lopes a berrar furioso com ele!", conta.

Apesar das muitas conquistas que obteve no Sporting, nem sempre tomou as melhores opções, como numa certa ocasião em Oslo. "Havia uma tentativa de bater o recorde do mundo dos 10 000 metros e eu estava em excelente forma. O professor Moniz Pereira disse-me para eu acreditar na vitória, mas a verdade é que fui aliciado para fazer de lebre e aceitei. Era muito dinheiro, 20 mil contos, ou seja, qualquer coisa como cem mil euros. Entregaram-me o dinheiro antes da corrida e lembro-me de que dei um mergulho para cima das notas, na cama do hotel!", recorda.

O pior foi a reação do treinador quando se voltaram a cruzar. "Estava naturalmente furioso, eu ouvi o que ele tinha a dizer, dei-lhe razão e prometi-lhe que mais tarde iria ter muito orgulho em mim. E felizmente assim foi."

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