Ansiedade e preocupação a horas da chegada do super tufão
Queenie esteve três horas à espera de lugar para estacionar o carro no parque de estacionamento de um dos maiores casinos de Macau na véspera da chegada do temível "super" tufão Mangkhut, que deverá aproximar-se do antigo território administrado por Portugal este domingo de manhã. As operadoras de jogo de Macau disponibilizaram 2700 lugares a título gratuito, um passo acompanhado pelo governo nos parques de estacionamento públicos.
Bem fresco na memória de Queenie está o trágico tufão Hato que em Agosto do ano passado causou a morte a 10 pessoas, algumas das quais morreram afogadas quando procuravam retirar os seus veículos de parques de estacionamento subterrâneos que ficaram rapidamente inundados. Mais de 700 carros ficaram na altura inutilizados aquando da passagem daquela que foi a mais violenta tempestade tropical a passar por Macau em mais de cinco décadas. Carros estacionados na rua também foram danificados por queda de árvores e tapumes. "No ano passado o meu carro escapou por pouco, mas vários amigos meus ficaram sem automóvel e eu não quero facilitar", disse Queenie, uma jovem chinesa contabilista natural de Macau, após regressar à península de Macau vinda da zona de aterros do Cotai onde se localizam os casinos-resorts de maior dimensão.
Zonas baixas em alerta máximo
É nas zonas baixas da cidade, junto ao Porto Interior, que o alerta soa mais cedo. Lojistas preparam-se para o pior, retirando bens e erguendo barreiras protetoras para impedir a entrada da água. Em vigor está o sinal de "storm surge", que indica o perigo de subida do nível das águas, que, de acordo com o nível de alerta, pode chegar a 2,5 metros acima do pavimento rodoviário das zonas mais baixas, pelo que o plano de evacuação dessas mesmas zonas teve início às 21h (14h em Lisboa).
A corrida aos supermercados começou mais cedo, no início da semana, quando outra tempestade tropical de menor dimensão percorria o mar do Sul da China, mas numa altura em já parecia inevitável a chegada em força do super tufão Mangkhut. O bem mais cobiçado é a água engarrafada, desde logo as garrafas de cinco litros. A falta de água, que atingiu quase metade da cidade em agosto do ano passado aquando da passagem do Hato, levou a longas filas junto às bocas de incêndio nas ruas de Macau. As autoridades de Macau e da cidade vizinha de Zhuhai, na China continental, articularam esta semana um plano para garantir o abastecimento de água.
Um grande teste
Na verdade, este super tufão surge como o primeiro grande teste às autoridades e à sociedade após a malograda tempestade em agosto de 2017. O governo levou a sério a ameaça constituída pelo tufão que se avizinha e, ao longo da semana, organizou reuniões de emergência da Proteção Civil e várias conferências de imprensa. A incapacidade para responder à devastação do Hato levou a várias críticas respeitantes à impreparação do sistema de resposta a catástrofes e das infraestruturas chave como o abastecimento de águas e eletricidade ou a qualidade de construção de prédios e edifícios que ficaram bastante danificados. A força dos ventos na altura arrancou os vidros a milhares de apartamentos, em vários casos em prédios residenciais de construção recente.
O sistema de Proteção Civil foi reforçado ao longo do último ano, estando agora em cima da mesa uma nova lei que irá trazer novos instrumentos em situações de catástrofe natural. O Secretário para a Segurança do Governo de Macau, Wong Sio Chak, ordenou esta manhã a mobilização de todo o pessoal, sublinhando que a prioridade "é a segurança de residentes e turistas".
Pelas ruas da cidade esta tarde circulavam menos pessoas e carros que o habitual, contudo a acalmia embalada por um dia solarengo não escondia a ansiedade. "Temos que nos precaver ao máximo, mas estamos nas mãos do destino", concluiu Queenie antes de seguir em passo rápido para casa ao anoitecer.