Ano letivo com dois períodos para "motivar" alunos
A proposta não teve reflexos no calendário escolar do próximo ano letivo, divulgado na sexta-feira, mas os diretores acreditam que o Ministério da Educação aceitará pelo menos discuti-la tendo em vista o ano seguinte. A ideia passa por reduzir a divisão do ano das escolas em dois semestres, como sucede no ensino superior. Uma alteração que, diz Filinto Lima, da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), ajudaria muitos alunos a recuperar melhor de avaliações negativas.
"O segundo período é muito importante. Já se marca aí o destino, entre aspas, dos alunos em relação ao final do ano", explica ao DN. "E eles percebem isso", acrescenta. "Alguns deles percebem que já estão chumbados e por isso estão desmotivados no terceiro período."
As hipóteses de recuperação na reta final do ano, defende, são ainda mais baixas quando por força do calendário - em particular a altura em que calha a Páscoa - o terceiro período é encurtado. "No próximo ano letivo, o primeiro período vai ter 67 dias, o segundo 54 e o terceiro apenas 29. Não terá nem metade da duração do primeiro período. Isto é equilibrado?", questiona Filinto Lima,
Para o diretor da ANDAEP, a redução a dois momentos de avaliação poderia mudar a perspetiva dos estudantes: "Podíamos contribuir, de alguma forma, para aumentar a motivação dos alunos no segundo semestre. Hoje, quando têm negativa no segundo período, já sabem que será muito difícil recuperar num terceiro período muito curto."
A proposta da ANDAEP não implicaria mexidas com as atuais férias e interrupções letivas, defende. Apenas se eliminaria uma barreira psicológica. "Também não vai mexer nos bolsos dos contribuintes", assegura. "Apenas vai dar trabalho de organização."
Em teoria, reduzir as avaliações a dois momentos obrigaria os alunos - nomeadamente os que têm dificuldades - a lidar com mais matéria nos testes internos. Mas o diretor da ANDAEP defende que isso se resolveria simplesmente fazendo mais testes em cada período: "O professor poderia dar três ou quatro testes. Na situação atual, num terceiro período com 29 dias, quantos testes vai dar? Se calhar faz um mas de certeza que já não faz o segundo", sustenta.
A crítica dos diretores à atual organização do ano letivo em torno dos feriados religiosos - em particular da Páscoa, que muda todos os anos - acaba por ir ao encontro das críticas feitas no sábado pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof). Mas há aspetos em que as partes não estão de acordo. Nomeadamente em relação às duas semanas de aulas adicionais que os alunos do 1.º ciclo terão em 2016-17. A Fenprof criticou a medida. Os diretores dizem compreendê-la bem.
"O 1.º ciclo é estruturante e sempre são mais 15 dias de matéria, de aprendizagens", diz Filinto Lima, admitindo que isso não basta: "As turmas têm de ser menores."