Ana Sofia Bettencourt. Uma noite no arraial com marchas e sardinhas
É noite de festa em Bolembre, uma aldeia de Sintra. Cheira a sardinha assada, a bifanas e a São João. O recinto do arraial começa a encher-se de gente que vai petiscar, conviver e ver o desfile das marchas. Ana Sofia Bettencourt, deputada do PSD, vai em missão parlamentar (o denominado contacto com o eleitorado), mas nem por isso deixará de se divertir nesta noite que, como já se disse, é de festa e servirá também para ouvir os problemas da coletividade: comeu sardinhas, bebeu sangria, comprou manjericos e assistiu às marchas.
O São João comemora-se no espaço do Grupo União Recreativo e Desportivo MTBA - as iniciais das aldeias do Magoito, Tojeira, Bolembre e Arqueiro dos Marinheiros -, fundado há 46 anos. A freguesia a que pertencem, São João das Lampras, tem uma população envelhecida, por isso é fundamental apostar numa política de proximidade, faz questão de sublinhar a deputada social-democrata: "Este tipo de atividades, que se faz muito à custa da carolice, é muito importante num território que se quer coeso. Esta é uma parte rural do concelho, mas não é escamoteável, é genuína. É importante este tipo de atividades em que as pessoas possam encontrar-se."
Começa o passeio por entre as barraquinhas, com o cheiro da sardinha sempre a acompanhar. Não há quem não ofereça o que comer e beber à deputada - sopa da pedra, crepes, sangria, tarte de amêndoa... "O que é que estas meninas fazem aqui?", lança Cristina Camarada, que vai logo dizendo que têm um projeto para fazer um centro de dia, "mas diferente dos outros". E explica: o Centro de Dia MTBA (Manter Todos Bem Ativos) pretende envolver os idosos com os mais novos, para que uns e outros possam ensinar o que sabem - as crianças podem ensinar os idosos a ler, a mexer nos computadores, os mais velhos também têm muito para ensinar, como contar histórias e falar da horta, exemplifica.
A visita ao recinto da festa segue guiada pelo presidente do MTBA, António Pedro. A conversa versa sobre a importância deste tipo de coletividade e até destas festas, atividades de proximidade junto de uma população envelhecida, rural, que pouco tem para se distrair.
As marchas juntam novos e velhos e há quem sublinhe a sua importância sociológica, pois agrega a vontade de pessoas que se empenham na feitura dos fatos durante meses.
A coletividade tem um rancho com um espólio de roupas com mais de 200 anos. E até já está em curso o projeto para construir um museu etnográfico que acolha este acervo, orçado em 50 a 60 mil euros. A Câmara Municipal de Sintra deu metade da verba, diz António Pedro.
Ana Sofia Bettencourt ouviu queixas sobre a falta de dinheiro para construir um novo pavilhão. O existente, onde vai realizar-se o desfile das marchas, é hoje pau para toda a obra: tanto recebe as festas populares como os jogos de futsal. Era preciso um pavilhão para a atividade social e outro para a desportiva, por causa do piso, diz António Pedro. Mas há ainda o problema de licenciamento do espaço, para que possam candidatar-se aos fundos do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ).
O desfile das marchas, a que a deputada assistiu, está quase a começar e as bancadas do pavilhão vão ficando compostas. Nos corredores do pavilhão as mulheres aprumam-se: retocam a maquilhagem, põem mais uns ganchos a segurar os enfeites do cabelo.
Cá fora, a família Bento, que vai marchar por Odrinhas, uma marcha convidada para esta noite, está pronta para se divertir. O pai e a mãe foram os primeiros, já lá vão quatro anos, primeiro por incentivo dos colegas, depois pela "experiência fantástica, pelo convívio e pelas novas amizades". "Marchar a brincar e brincar a marchar", diz Elisabete, que já pegou "o bichinho" à filha e ao filho.