Alvalade é o bairro mais próximo do conceito da cidade de 15 minutos
Lisboa pode ser uma cidade de 15 minutos? Que medidas são necessárias para que tal aconteça? Estas são duas perguntas a que os participantes do próximo Conselho de Cidadãos vão tentar responder nos dias 25 de março e 1 de abril. Manuel Banza, analista de dados com gosto pelo urbanismo, cruzou os dados de sete freguesias e já tem uma resposta. Sim, é possível Lisboa ser uma cidade de 15 minutos e Alvalade é o bairro que está mais perto deste conceito.
"Acho que Lisboa tem um grande potencial, até porque não é uma cidade assim tão grande quando comparamos com outras capitais da Europa, mas temos que ser claros: existem freguesias que têm mais potencial do que outras. As freguesias da zona histórica de Lisboa têm uma mais-valia, por exemplo, porque foram criadas antes de existir o automóvel", explica Manuel Banza ao DN. "Eu gostava que o Conselho de Cidadãos se focasse no facto de as freguesias terem características diferentes, logo têm necessidades diferentes e, por isso, têm de ter respostas diferentes. Não há uma fórmula para transformarmos Lisboa numa cidade de 15 minutos, são os bairros que têm de ser de 15 minutos, e as fórmulas terão de ser diferentes para cada um deles", defende.
Este conceito nasceu pela mão do urbanista Carlos Moreno e ganhou projeção na campanha de reeleição de Anne Hidalgo para a Câmara de Paris em 2020. Em causa está a ideia de que a partir de um qualquer ponto da cidade, cada pessoa deve conseguir satisfazer as suas necessidades - comércio, saúde, educação, cultura, espaços verdes - num raio de ação de 15 minutos.
Para a sua análise, Manuel Banza escolheu sete das 24 freguesias de Lisboa: Alvalade, Arroios, Belém, Benfica, Campo de Ourique, Lumiar e Marvila. "Acabei por escolher freguesias que cobrissem quase todas as zonas da cidade e Arroios, que foi a primeira que testei porque é onde moro", explica o analista de dados. Os parâmetros tidos em conta foram a proximidade de escolas e universidades, estações de metro, ciclovias, supermercados e mercados, espaços verdes, culturais e de cowork.
Analisados os dados, Manuel Banza chegou à conclusão de que Alvalade é a freguesia que "apresenta os melhores resultados". Tem unidades de saúde, estações de metro, dispõe de uma boa cobertura de ciclovias separadas da estrada, diversos espaços verdes e de cowork, muitas escolas e universidades e muito comércio. "Parece não faltar nada a Alvalade, quem vive lá consegue ter todos os serviços a pé e, se forem 15 minutos de bicicleta, ainda mais consegue. É um bom exemplo de um bairro que não foi criado para os 15 minutos, mas que aposta na proximidade", revela.
Arroios tem, segundo Banza, "potencial" para ser uma freguesia de 15 minutos, "se conseguisse melhorar alguns pontos, como é o caso dos espaços verdes e do arvoredo, mas também das ciclovias". "É uma freguesia com uma alta densidade populacional que tem muito comércio, é muito rica em transportes, tem espaços culturais por perto, dispõe de várias escolas e está bastante perto de universidades, é uma das freguesias com mais espaços cowork e tem vários hospitais e clínicas por perto".
Já Belém tem um problema quando se olha para os 15 minutos de bicicleta, pois tem poucas ciclovias. "O que tem de bom? Uma grande diversidade e um grande número de espaços verdes, escolas e hospitais por perto", diz.
Um dos pontos fortes de Benfica é a proximidade a escolas e universidades e, apesar de nenhum hospital estar dentro da freguesia, existem alguns perto, apresentado ainda bastantes espaços verdes. Tem é poucos espaços de cowork e pouca infraestrutura ciclável. "Às vezes torna-se fácil de comparar Campo de Ourique com Alvalade porque tem muita variedade de serviços e muitas escolas. Tem uma estação de metro por perto e vai passar a ter uma estação própria, muitos espaços de cowork, muitos espaços culturais. É das freguesias com menos aposta nas ciclovias, mas já tem GIRA e circuitos 30+bici", diz.
O Lumiar tem estações de Metro, vários hospitais por perto, mas poucos espaços culturais e poucas ciclovias e os espaços verdes existem maioritariamente nas zonas limite do bairro. Espaços verdes não são um problema em Marvila - o Parque da Bela Vista é um bom exemplo -, que ainda tem vários quilómetros de ciclovia que atravessam mais de metade do comprimento da freguesia, mas oferece poucos espaços culturais.
Manuel Banza é fã do conceito dos conselhos de cidadãos. Para a reunião que se avizinha deixa algumas propostas, como a aposta na rede ciclável, a melhoria do espaço público com mais árvores e jardins, o reforço dos comboios de bicicletas e a expansão do Amarelo, estes dois últimos dedicados aos alunos.
"Seria também importante criar programas de apoio ao comércio local para aqueles estabelecimentos estão fora dos critérios das Lojas com História, mas que cumpram critérios que provem que são um sucesso para a vida do bairro. Podem ser padarias, projetos de inovação social, como cooperativas de consumo que promovam produtos sustentáveis ou de economia circular... Tudo o que sejam serviços com um projeto social que faça sentido e que fomentem a vida de bairro e a ligação entre vizinhos", defende.