Luís, de 12 anos, estava no recreio no intervalo das aulas quando caiu fulminado ao lado dos colegas e de uma professora. Ninguém conseguiu reanimá-lo. Ainda foi transportado com vida para o Hospital Santos Silva, em Gaia, mas morreu pouco depois. Sofria de uma doença congénita incurável. Na escola EB 2,3 de Canidelo, estão todos em choque. A mãe diz que o "coração lhe pregou uma surpresa" e quer que o filho seja autopsiado para ajudar outras crianças com problemas..Desde que o Luís nasceu que os pais sabiam que o desfecho poderia ser este. A criança tinha uma cardiopatia ventricular que não teria cura. Não podia fazer exercício físico nem sofrer situações de stress. "Era uma criança muito calma e meiga", diz a mãe, Olga Pereira ao DN. .Eram 12.11 quando Luís Gonçalo Pereira se sentiu mal e caiu no solo no recreio. Estava acompanhado por uma professora e por vários colegas. Entrou em paragem cardiorrespiratória e duas professoras, com conhecimentos de suporte básico de vida, tentaram reanimá-lo. Pouco depois chegou a ambulância do INEM e o mesmo foi realizado pela equipa médica. ."Foram cerca de 30 minutos de desespero com toda a gente impotente sem poder ajudar o menino", afirmou ao DN Isabel Pinho, funcionária da escola. .O rapaz ainda foi transportado com vida ao Hospital Santos Silva onde, minutos depois de ter entrado, faleceu. "Era uma doença congénita e estávamos avisados pelos médicos que isto poderia um dia acontecer. A verdade é que nunca estamos à espera desse dia", desabafa a mãe. Mas existiam suspeitas de que algo não estava bem. .Na passada quarta-feira, o rapaz teve uma consulta médica numa cardiologista, necessária dado o seu historial clínico, para a cirurgia de remoção de um sinal que seria feita nas próximas semanas. De acordo com a mãe, a cardiopatia de Luís não era das mais graves. "Não era obstrutiva, apenas a massa muscular que envolve as paredes dos vasos sanguíneos é mais grossa do que o normal", explica Olga..A doença exigia apenas alguns cuidados, nomeadamente não fazer grandes esforços físicos e seguir a medicação. A consulta da passada quarta-feira deixou, no entanto, Olga com alguma desconfiança. Nos exames que foram realizados, sobretudo ecografias, a mãe viu que os vasos sanguíneos do filho tinham ficado ligeiramente mais grossos. Apesar de não ter formação médica, reconheceu que algo de errado se passava e tinha já marcado uma consulta com o cardiologista que desde a infância tem seguido o Luís. .Olga sabia também que com o crescimento a massa muscular em torno dos vasos poderia também aumentar e a verdade é que o Luís cresceu muito desde as férias de Verão. "O coração pregou-lhe uma surpresa", diz a mãe entre soluços. "Na escola foram também todos excelentes", reconhece. .O Luís, recorda Isabel Pinho, "era um menino muito dócil" e o que se passou no recreio deixou tanto os professores como os alunos "em estado de choque". Todos sabiam que o aluno tinha problemas. Desde o infantário que não fazia educação física e a alimentação era diferenciada. Mas "nunca passou pela cabeça de ninguém que isto poderia acontecer à frente de todos". Isabel recorda o desespero das duas professoras em recuperar a vida do aluno, "com a carita já roxa e sem sentidos"..Muitas crianças correram para o local para de imediato se afastarem. "Algumas delas choravam, foram minutos de terror aqueles que se viveram aqui. Não me lembro de nada do género que possa ter acontecido aqui ao longo dos muitos anos que já trabalho", acrescenta a funcionária. Olga está "desfeita". O Luís era filho único. Era bom aluno mas agora, no 7.º ano, sentiu dificuldades nas novas disciplinas. O corpo do Luís está no Instituto de Medicina Legal do Porto. Olga quer que o filho seja autopsiado e que o caso seja estudado para ajudar outras crianças com a mesma doença.