Imagino que lhe façam esta pergunta muitas vezes, tem um nome muito incomum. Alma Rivera vem de onde?.De pai e de mãe de origem italiana, embora eu tenha nascido cá, nos Açores..Quando é que se aproxima do PCP?.Nós começamos a formar a nossa consciência, política e social, a partir do que vemos, das experiências que temos, do meio em que estamos: desde cedo foi-me permitido perceber que havia graves desigualdades. Com a passagem para a universidade, o envolvimento nas manifestações de estudantes, fui compreendendo melhor o porquê desses problemas e encontrando, na construção desses momentos, colegas que se destacavam e que eram comunistas. Com naturalidade, essa aproximação foi acontecendo..Portanto, essa aproximação foi na universidade?.Sim, embora na secundária já me chamassem comunista....Estudou Direito em Coimbra. Em que ano? Qual era o governo?.Entrei em 2010, ainda estava o Sócrates. Depois, entra o governo PSD. A partir daí foi uma onda gigante de contestação, eram muitos cortes... Foi uma altura em que ficaram bastante claros os interesses divergentes que existiam na sociedade..Era estudante deslocada, sentiu muito esse tempo da troika?.Senti, em vários aspetos, na esfera familiar, entre os amigos, tive colegas que abandonaram o curso. Foi muito elucidativo do que estava em causa..O PAN é ambientalista? "Animalista, talvez".Um dos temas da campanha têm sido as alterações climáticas. O programa do PCP é bastante sucinto nesta matéria. Porquê?.Não é uma questão de extensão. A análise que fazemos é que há um problema a montante, que tem a ver com o modo de produção e o modo de organização económica. O verdadeiro combate à degradação ambiental necessita de uma perspetiva de conjunto, não é só a beata do cigarro. E não basta o castigo, é preciso encontrar também as responsabilidades. Não é honesto encarar o combate à degradação ambiental e à híper exploração dos recursos sem pôr em causa o modelo de produção. Não tenhamos ilusões: algumas das medidas que têm sido "vendidas" como resposta a estes problemas não são só inócuas e ineficazes, são mesmo perversas..Como por exemplo?.Por exemplo, o mercado de carbono. A compra e venda de emissões de CO2 e outros poluentes não limita de forma nenhuma as emissões. Aquilo que provoca é a concentração da capacidade de emissão dos países mais industrializados, que precisavam de adotar outras tecnologias e outras formas de produção. E os países que estão mais atrás também não têm essa capacidade. Ou a lei das beatas, vamos chamar-lhe assim. No início, além da penalização de quem mandasse as beatas para o chão, havia também a ideia de responsabilização dos produtores, dos importadores. Nós estaríamos disponíveis para apoiar essa medida, mas essa foi exatamente a única medida desse projeto de lei [originariamente do PAN] que caiu. No concreto é que se vê os compromissos que existem: quando não há um compromisso de classe, há forças muito poderosas que conseguem vencer. Não consigo compreender como é que conseguimos castigar a jusante, mas não somos capazes de penalizar quem ganha com isso. E nós não temos uma perspetiva de criminalização, de culpabilização do indivíduo por problemas estruturais. O pior disto tudo é ficarmos bloqueados nas questões de pormenor e não discutirmos as questões de fundo, que são determinantes..Mas quando fala do modo de produção, o sistema capitalista não vai mudar amanhã, nem para a semana. E estamos a falar de uma emergência climática. Não falta ao PCP uma resposta mais imediata?.Mas nós temos propostas para o imediato. A transição do transporte individual para o transporte coletivo, a questão da preservação das espécies - temos tido um trabalho, até junto do Parlamento Europeu, único nessa frente. Agora, não nos peçam para ir cobrar mais dinheiro a quem já tem que fazer as contas ao fim do mês. Ou, como já ouvi, pedir um euro a cada um dos portugueses. Não acho justo que quem trabalha no Pingo Doce e traz para casa um salário de 650 euros, na melhor das hipóteses, depois tenha que pagar o mesmo que paga um dos administradores da fundação Soares dos Santos. Há uma coisa que o PEV tem dito que ajuda a situar o problema: não se pode colocar a questão na base de uma luta de gerações. Não se pode culpar alguém do distrito de Santarém, que sempre teve a sua horta, sempre produziu de forma sustentável, não é essa pessoa que tem culpa do agronegócio e da infiltração de tóxicos nos solos. Não é um problema de gerações: não é verdade que todos aqueles que estiveram para trás não quiseram saber ou que andaram a destruir o mundo. É um problema de sistema, de interesses. Se não pusermos em causa o sistema arriscamo-nos a andar a pagar multas para, no fim, chegarmos exatamente ao mesmo resultado. E entretanto achámos que estávamos todos a fazer alguma coisa e não estávamos. Os passes sociais: esta é talvez a medida com maior impacto ambiental das últimas décadas, não tenhamos dúvidas disso. Em abril, na primeira leva de passes [após a redução do preço], venderam-se mais 150 mil passes. Estamos a falar, na pior das hipóteses, de 50 mil carros que terão deixado de circular na área metropolitana de Lisboa. E essa medida... estivemos sozinhos. Em 2016 a medida foi apresentada pelo PCP e foi chumbada no Parlamento, pelo PS, PSD e CDS, com a abstenção do BE..O PAN é um partido ambientalista?.Animalista, talvez. Aquilo que nós achamos é que estão a falhar as respostas às grandes questões e está a faltar uma visão de conjunto sobre a sociedade. Não podemos suspender a preocupação com a vida das pessoas, porque ela também é determinante para o sucesso das medidas ecologistas. Se se abstém nas questões essenciais, no salário mínimo, no Orçamento, como aconteceu em 2016, qual é o compromisso, afinal? Com quem é que estão comprometidos?.Andou na universidade de Coimbra, cujo reitor acabou de anunciar que a carne de vaca será banida das cantinas. Concorda?.Estive cinco anos em Coimbra e não me recordo de ter comido, alguma vez, carne de vaca nas cantinas. Comi pratos muito criativos, porque a certa altura do mês esgotavam determinados produtos nos armazéns, mas não me recordo de ter comido carne de vaca. Portanto, não sei se é uma inovação [risos]. Entrar numa medida um bocadinho de panfleto não me parece que resolva. A carne de vaca tem um problema, que é a forma de produção, mas há formas de produção diferentes.."Uma maioria absoluta deixa o PS de mãos livres para a sua política de sempre".A geringonça foi uma boa experiência para o PCP?.A solução política que resulta das eleições de 2015 foi a demonstração do papel que o PCP teve e tem no país. O PCP impede, em 2015, que haja a formação de um novo governo PSD-CDS....Há uma discussão em curso sobre a paternidade da geringonça....Aquilo que é factual é que há uma mensagem clara, que não tinha sido feita por outros partidos - é o Jerónimo de Sousa que diz, naquela noite, que o PS tem condições para não permitir o governo PSD-CDS. Essa posição é determinante. Essa posição foi benéfica para o nosso povo e, portanto, foi benéfica para o nosso partido e é a demonstração de que cada voto contou..Vemos muitas vezes o PCP e o BE a reclamar os méritos das mesmas medidas. O que é que diferencia os dois?.Por exemplo, o passe intermodal. Não estava nos programas desses partidos e foi conseguido por iniciativa, por ação do PCP e de "Os Verdes". Isso é factual. E não se foi mais longe porque a relação de forças não nos permitiu, por exemplo, que a acompanhar a redução do preço dos passes houvesse um investimento em material circulante, na contratação de trabalhadores. Isso não aconteceu por resistência do PS. Não se trata aqui de andar a reclamar medidas, mas tem de se esclarecer as coisas para que não sejam atribuídos ao PS os méritos de medidas que foram conseguidas contra a sua vontade. É ridículo ver o atual primeiro-ministro de alguma forma a vangloriar-se da subida das pensões quando, se não tivesse sido o PCP, aquilo que teria ficado - por acordo entre o BE e o PS - seria apenas o descongelamento..Mas não houve aqui uma corrida pela paternidade de várias medidas?.Só tem de correr quem está atrás, quem não apresentou esse trabalho. Não há propriamente uma dúvida doutrinal... não estamos a falar de questões filosóficas, mas de medidas concretas, de programas eleitorais, da atividade que foi desenvolvida. Isso está documentado..António Costa tem elogiado bastante o PCP. Esses elogios são um incómodo para o PCP?.O PCP teve sempre uma postura séria, isso é uma realidade. O que para nós é importante é que seja conhecido o trabalho desenvolvido pelo PCP nestes quatro anos..Quem é o principal adversário do PCP nestas eleições? É o PS?.É a política de direita, seja praticada por quem for. É a política de penalização de quem trabalha, de empobrecimento, em benefício de uma parcela muita reduzida, que lucra e vive da desgraça do resto da população. Esse é que é o adversário do PCP, seja praticado por quem for. Daí que uma maioria do PS é negativa - nós sabemos o que foram os governos do PS com maioria, e os do PSD, com CDS ou sem CDS. Já vimos o filme..Uma maioria absoluta do PS seria uma derrota para a CDU....Uma maioria absoluta deixa o PS de mãos livres para a sua política de sempre, para prosseguir um conjunto de objetivos que não servem os interesses do país e que são responsáveis pelos problemas estruturais que temos..A CDU, desde as legislativas de 2015, tem tido resultados eleitorais pouco auspiciosos. O que é que a faz pensar que agora vai ser diferente?.Cada processo eleitoral é totalmente diferente e tem de ser analisado pelo que está em causa em cada momento, não podemos fazer análises simplistas das coisas. Há muitas pessoas a quem o voto na CDU beneficia e tem retorno, porque teve nestes quatro anos: este é um momento de unidade de quem trabalha, de quem vive do seu trabalho, do seu pequeno negócio, que não tem a ganhar com uma política de acumulação de capital. Este é o momento de convergir e de reconhecer quem esteve sempre do seu lado.