Aliados dos EUA unem-se pela segurança da rede 5G

Sem mencionar a China e a Huawei, os 32 países mostraram-se preocupados com "o risco global de influência sobre um fornecedor por um país terceiro".
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Durante dois dias, governantes e responsáveis da área das telecomunicações de 32 países estiveram em Praga, num encontro para debater a implementação da tecnologia 5G e os atuais riscos à cibersegurança. Apesar de ter sido organizada pelo executivo da República Checa, a reunião foi vista como uma oportunidade para os Estados Unidos se alinharem com outros países aliados frente ao que consideram ser as ameaças da China e da Rússia, dois estados que ficaram de fora do evento.

No documento final, tornado público na sexta-feira ao início da noite, os representantes acordaram várias medidas para uma aplicação conjunta da tecnologia 5G, reforçando a questão da segurança, numa resposta clara às recentes acusações de vulnerabilidades nos equipamentos da Huawei, que permitiriam ações de espionagem aos utilizadores, por parte do governo da China.

"O risco global de influência sobre um fornecedor por um país terceiro deve ser tido em conta", indica a proposta que se alonga em diversas recomendações no campo político, económico e tecnológico. O documento ainda terá de ser discutido internamente em cada um dos países antes de qualquer adoção ser formalizada.

Albânia, Austrália, Áustria, Bélgica, Bulgária, Canadá, República Checa, Dinamarca, Estónia, Finlândia, França, Alemanha, Hungria, Israel, Itália, Japão, Coreia do Sul, Lituânia, Letónia, Luxemburgo, Malta, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Polónia, Roménia, Eslováquia, Eslovénia, Suécia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos foram os países com representação no evento.

A Casa Branca já emitiu um comunicado a indicar que apoia as resoluções saídas da conferência de Praga, em relação à elaboração, construção e administração de redes 5G e que as vai usar como "guia para garantir a prosperidade e segurança."

Uma ação unificada dos países nesta matéria pode vir complicar a vida à Huawei, que veio já negar todas as acusações dos Estados Unidos. Ainda assim, a administração norte-americana não tem recebido um apoio unânime no sua tentativa de boicote à empresa. Se, por um lado, Austrália e Nova Zelândia se têm mostrado disponíveis para evitar os equipamentos do fabricante chinês, a Alemanha e o Reino Unido indicaram o contrário.

Portugal - que não participou no encontro - também não cedeu à pressão norte-americana. Em fevereiro, Ajit Pai, chairman do FCC (autoridade de comunicações dos EUA), esteve no país para convencer autoridades e empresas portuguesas a excluir Huawei da infraestrutura 5G. Mas Marcelo Rebelo de Sousa na sua recente visita à China lembrou que "o Estado português é livre de escolher quem melhor cumprir as regras e quem estiver em condições de ser escolhido".

O presidente, citado pela TSF, mostrou-se tranquilo com a questão, sublinhando que "a Europa tem uma posição tomada, então Portugal está muito à vontade. O Governo português tem regras e vai seguir as regras para garantir a segurança, a isenção, a transparência - todos os princípios próprios de um Estado de Direito democrático".

Também as declarações dos ministro dos Negócios Estrangeiros foram no mesmo sentido. Augusto Santos Silva afirmou que, mais importante que a questão da Huawei, é a segurança da rede de quinta geração, como um todo. "É uma questão de tomarmos as medidas necessárias para que a infraestrutura digital do 5G, que é poderosíssima, obedeça a todos os requisitos dos Estados do ponto de vista da segurança e dos dados pessoais."

Os Estados-membros da União Europeia têm até ao final de junho para identificar os riscos associados à rede 5G. Depois trabalharão em conjunto em soluções para os mitigar, até ao final do ano. Portugal está na lista de países que já estão a trabalhar para pôr em marcha a atribuição de licenças 5G ainda este ano.

Entretanto, em comunicado citado pela Reuters, a Huawei adiantou também que está a trabalhar com as autoridades europeias para garantir o cumprimento de todas as normas de segurança. "Sentimo-nos encorajados com o ênfase dado à importância da pesquisa e desenvolvimento, aos mercados abertos e à concorrência, mas pedimos aos legisladores que evitem medidas que aumentem a burocracia e os custos e limitem o benefício que o 5G pode trazer."

A rede de quinta geração promete velocidades de download e uso de internet móvel 10 a 20 vezes mais rápidas do que as atuais, permitindo a conexão de um número ilimitado de aparelhos e tratar quantidades impressionantes de dados vindos de cada um deles.

Marta Velho é jornalista do Dinheiro Vivo

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