Açores: Federalismo e mais autonomia nas eleições para o PSD regional

A definição de um "novo rumo" para o PSD/Açores é a proposta da candidatura de Alexandre Gaudêncio à liderança da estrutura, querendo o candidato mobilizar para o partido cidadãos com "provas dadas".
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22 anos depois de ter sido governo nos Açores, com Mota Amaral, e seis governos do PS depois, o PSD Açores está em ebulição para a escolha do novo líder que há-de candidatar-se em 2020. As eleições internas estão agendadas para 29 de setembro - após o atual líder regional, Duarte Freitas, eleito em 2013, ter anunciado que estava de saída. Há dois candidatos à liderança, ambos jovens, ambos da ilha de São Miguel - o advogado Pedro Nascimento Cabral, e o autarca Alexandre Gaudêncio.

Neste tempo o PSD regional teve cinco líderes. Álvaro Dâmaso, gestor e ex-presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, considerado 'delfim' de Mota Amaral, Carlos Costa Neves, ex-ministro da Agricultura e do Ambiente, eurodeputado, e natural da ilha Terceira, o popular presidente da câmara de Ponta Delgada, Manuel Arruda, o amigo pessoal do ex-primeiro ministro Pedro Passos Coelho, Victor Cruz, atual CEO do grupo Bensaúde, o maior grupo económico dos Açores, e Berta Cabral, a emblemática economista que tinha sido presidente da Câmara de Ponta Delgada - onde deixou marca, nomeadamente no transporte municipal, sendo que as camionetas que circulam pela cidade continuam a ser chamadas de "as bertinhas". A primeira mulher à frente do partido regional foi prejudicada, em 2012, pela associação ao plano de austeridade de Passos Coelho, e perdeu as eleições face ao delfim de Carlos César, Vasco Cordeiro, atual presidente.

O ex-eurodeputado Duarte Freitas agarrou no partido, decidido a renová-lo - e uma das suas mais famosas medidas foi cortar com o passado retirando a integração clássica de Mota Amaral nas listas do partido. Pouco carismático, perdeu para Vasco Cordeiro que se manteve na liderança do governo das nove ilhas.

Agora, dois jovens disputam a liderança. Alexandre Gaudêncio, presidente da Câmara da Ribeira Grande - a segunda cidade mais importante da ilha de São Miguel - que ganhou notoriedade política com uma vitória expressiva, nas eleições autárquicas de 2013, derrubando o candidato socialista Ricardo Silva.

Homem de ação e aproveitando bem o palco do poder local, diz que quer transformar o PSD/Açores numa verdadeira escola de formação política e de valores promovendo a formação, em particular no poder local, através da criação de uma academia em conjunto com o Instituto Sá Carneiro. As mulheres são também uma das suas bandeiras, na promoção da igualdade de género e de oportunidades - garantindo igualdade nas listas.

Gaudêncio quer um "partido autónomo" da estrutura nacional, que ponha sempre os Açores à frente do partido, algo que admite que se perdeu nos últimos anos, daí a necessidade de apostar na "matriz social-democrata" - com margem para aprofundar a autonomia no quadro constitucional português, havendo setores como a justiça, saúde e segurança que podem ser melhorados.

O advogado de Ponta Delgada Pedro Nascimento Cabral também defende a tónica autonómica, mas vai mais longe. "Só depois de esgotarmos a autonomia se poderá evoluir para um novo patamar de sistema político constitucional que é um Estado português federal com três parcelas: continente, Açores e Madeira", declarou o antigo líder da JSD/Açore, casado e pai de dois filhos.

Filho de um jornalista e militante histórico do PSD/Açores diz que não quer que a região se "conforme com o sistema autonómico para sempre". Defende a criação de partidos regionais, a organização de listas de cidadãos ao parlamento dos Açores, a extinção do cargo de representante da República - cujos poderes, entende, devem ser assumidos pelo Presidente da República - e a redução do número de deputados, a par da reforma do sistema eleitoral e do funcionamento do parlamento, que deve contemplar um debate quinzenal com a presença do presidente do Governo.

É, garante, a candidatura do incoformismo. Considera que a região está numa situação "absolutamente degradante" nos seus vários setores, apresentando a educação e a saúde como exemplos. Também nos transportes aéreos e marítimos de passageiros e carga se assiste, segundo o advogado, a uma "constante incerteza", a par da "catástrofe que são as empresas públicas regionais", com milhões de prejuízos. Preconiza, por isso, um certo liberalismo e o regresso aos "valores de mercado".

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