O mote da 18.ª edição do Festival Terras Sem Sombra, que se inicia este fim de semana em Ferreira do Alentejo, é inspirado por um dos maiores poetas que o Alentejo teve, o Conde de Monsaraz (1852-1913) - "Há uma paz infinita na solidão das herdades." Para José António Falcão, presidente da Pedra Angular - Associação de Salvaguarda do Património do Alentejo, entidade organizadora do Festival, a escolha deste verso, associado ao subtítulo "Quietude, Natureza e Música (Séculos XII-XXI)" justifica-se pelo momento atual do mundo e pelo modo como a paisagem física, humana e cultural daquela região constitui um contraponto de tranquilidade e ponderação, cada vez mais raro: "Foi nossa intenção propor uma reflexão bastante compreensível sobre o papel da paz e da natureza na Europa, tanto a do passado como a do presente. A paz pressupõe, na ótica de grandes criadores musicais, o conhecimento e a aceitação do "outro", mas também um regresso à natureza, ideias muito importantes no atual contexto", disse ao DN..Esta 18.ª edição marcará (pelo menos, assim se espera) um regresso a uma certa liberdade de movimentos de público e artistas, depois da interrupção em 2020 e das restrições de 2021. Habitualmente, o festival realiza-se de janeiro a julho, regressando em novembro. Por prudência, à semelhança do que aconteceu no ano passado, a organização quis evitar de novo o Inverno, por causa da covid-19. Daí este calendário, entre abril e outubro, que faz a transição para a normalidade e evita os meses mais problemáticos. Como nos diz José António Falcão, "temos um motivo de orgulho: em 2021, o Terras sem Sombra conseguiu adotar, com a orientação das autoridades de saúde pública, uma metodologia que evitou problemas de contágio. Damos grande atenção às questões de segurança sanitária.".Os objetivos desta nova temporada são os de sempre: "Apresentar, no território do Alentejo, uma temporada artística de grande qualidade e marcado a nível internacional, mas valorizando a música portuguesa e os seus intérpretes. Só assim faz sentido, na nossa perspetiva, a descentralização cultural de que a região carece. Três outras ideias-chave: recuperar o tempo perdido em 2020; ir ao encontro de novos públicos; e, principalmente, dar a conhecer o Alentejo tal qual ele é, não como o pintam", refere..Dar a conhecer o Alentejo para além do estereótipo e do postal ilustrado passa por incluir, em todos os lugares onde passa o Terras (e são muitas, no Alto e Baixo Alentejo) atividades relacionadas como o Património Cultural e Histórico e a salvaguarda da Biodiversidade: "O Alentejo guarda muitos recursos e segredos ainda pouco conhecidos e que marcam a diferença. Queremos dá-los a conhecer, até porque acreditamos que são a chave para a sustentabilidade.".Já vão longe os tempos em que o Terras Sem Sombra começou a percorrer o Alentejo, surpreendendo com um festival em itinerância, que não se limitava a realizar iniciativas nas capitais de distrito. Se fosse tempo de balanços, José António Falcão admite existir, na equipa, um sentimento de dever cumprido: "Antes da criação do festival, em 2003, o Alentejo estava bastante arredado das principais rotas artísticas e culturais, hoje faz parte da vanguarda da música europeia. Foi um salto gigantesco. Por outro lado, existe um trabalho em rede com mais de metade dos municípios do nosso território, a Direção Regional de Cultura, a EDIA e outras instituições, o que representa uma mais-valia digna de nota. Esta é uma intervenção coletiva, ancorada nas comunidades locais." Não se pense, todavia, que aqui se dorme à sombra do trabalho feito: "Há grandes desafios pela frente, como ir ao encontro dos mais novos ou relançar a articulação do Festival com o turismo. Existe todo um caminho a trilhar na afirmação do potencial turístico do Alentejo como destino musical, patrimonial e biodiverso.".ABRIL.Ferreira do Alentejo.MÚSICA.02/04, 21:30 FIGUEIRA DE CAVALEIROS.Lagar da Herdade do Marmelo.Teatro de Sombras: Música para Violino, Saxofone e Piano.Trio: Klavis.PATRIMÓNIO CULTURAL.02/04 [15:00] PEROGUARDA.Uma Aldeia no Coração do Alentejo: Peroguarda.Atividade orientada por Maria João Pina (museóloga), Virgínia Dias (escritora), José António Falcão (historiador de arte) e Luís Ferreira Alves (fotógrafo) e Alexandre Alves Costa (arquiteto).BIODIVERSIDADE.03/04 [09:30].Quando a Botânica é também Gastronomia: Carrasquinhas, Catacuzes, Funchos & Cia..Cerro das Águias (Ferreira do Alentejo) Ponto de encontro: Museu Municipal de Ferreira do Alentejo Atividade orientada por José João Cavaco (funcionário público aposentado) e José Luís Margarido (engenheiro técnico agrário).MAIO.Vidigueira.MÚSICA.14/05 [21:30] VILA DE FRADES.Igreja Matriz de São Cucufate Mater Amabilis: O Culto de Maria na XVI e XVII.Ensemble Vocal Cupertinos.Direção Musical Luís Toscano.PATRIMÓNIO CULTURAL.14/05 [15:00] VILA DE FRADES.Do Saber-Fazer ao Saber-Provar: O Vinho da Talha, Património Cultural da Humanidade.Ponto de encontro: Centro Interpretativo de Vinho da Talha.Atividade orientada por Carlos Cristo (historiador), Arlindo Ruivo, Joaquim José Galante de Carvalho, Alexandre Frade, Teresa Caeiro (vitivinicultores)..BIODIVERSIDADE.15/05 [09:30] SELMES.Entre Dois Alentejos: A Serra do Mendro.Castelo de Vide.MÚSICA.28/05 [21:30] CASTELO DE VIDE.Igreja Matriz de Santa Maria da Devesa.Rompendo as Trevas: Lamentações da Semana Santa, de Joseph Hector Fiocco.Ensemble Bonne Corde.PATRIMÓNIO CULTURAL.28/05 [15:00] CASTELO DE VIDE."Não Hei-de Dizer Senão a Verdade": Garcia de Orta, Um Castelo-vidense no Mundo.BIODIVERSIDADE.29/05 [09:30] PÓVOA E MEADAS.No Reino das Aves: A Barragem de Póvoa e Meadas.JUNHO.Santiago de Cacém.MÚSICA.11/06 [21:30] SANTIAGO DO CACÉM.Auditório Municipal António Chaínho, Do Cativeiro à Liberdade: Antonín Dvorák, Bohuslav Martinuů e Ján Levoslav Bella.Efficio Piano Trio.PATRIMÓNIO CULTURAL.11/06 [15:00] SANTIAGO DO CACÉM.Lugares de Cerromaior: Manuel da Fonseca em Casa.BIODIVERSIDADE.12/06 [09:30] SANTA CRUZ.Nos Contrafortes da Serra de São Francisco: O Barranco de Santa Cruz.Ponto de encontro: Paços do Concelho de Santiago do Cacém.Beja.MÚSICA.18/06 [21:30] BEJA.Teatro Municipal Pax Julia.Viagem Musical ao Centro da Europa: Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia (Séculos XIX-XX).Piano Valentin Magyar.PATRIMÓNIO CULTURAL.18/06 [21:30] BEJA.De Velas Desfraldadas na Planície: O Moinho Grande.BIODIVERSIDADE 19/06 [09:30] VALE DE ROCINS (SALVADA)."Deus te Acrescente": Rituais do Pão em Terras de Salvada.JULHO.Alter do Chão.MÚSICA.02/07 [21:30] ALTER DO CHÃO.Cineteatro de Alter do Chão.Natureza e Transformação: A Canção Europeia, do Século XIX aos Nossos Dias.Soprano Carla Caramujo.Piano Lígia Madeira.PATRIMÓNIO CULTURAL.02/07 [15:00] SEDA.Identidade e Património: A Vila e a Freguesia de Seda.Ponto de encontro: Casa do Álamo.Atividade orientada por Jorge António (arqueólogo).BIODIVERSIDADE.03/07 [09:30] CUNHEIRA.O Mel: Economia, Sociedade e Biodiversidade.Ponto de encontro: Casa do Álamo.Mértola.MÚSICA.16/07 [21:30] MÉRTOLA.Igreja Matriz de Nossa Senhora Entre-as-Vinhas.Laus Deo: Visões da Polifonia Renascentista na Península Ibérica.Quarteto Cantoría.PATRIMÓNIO CULTURAL.16/07 [15:00] MÉRTOLA.De Espaço Religioso a Espaço: A Tradição Islâmica dos Banhos Públicos.BIODIVERSIDADE.17/07 [09:30] MÉRTOLA.Por esse Rio Abaixo: A Biodiversidade nas Margens do Guadiana.Mourão.MÚSICA.30/07 [21:30] MOURÃO.Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candeias.A Leste, Muito de Novo: Quartetos de Shostakovich, Novák e Bartók.Janácek Quartet.PATRIMÓNIO CULTURAL.30/07 [15:00] MOURÃO.Beleza Inexpugnável: O Castelo de Mourão.Ponto de encontro: Jardim Municipal.Atividade orientada por Luís Bibiu (técnico superior de Património Cultural).BIODIVERSIDADE.31/07 [09:30] GRANJA, LUZ E MOURÃO.O Grande Lago: Em torno de Alqueva.Ponto de encontro: Jardim Municipal.Atividade orientada pela EDIA.SETEMBRO.Odemira .MÚSICA.03/09 [21:30] ODEMIRA.Igreja da Misericórdia.Da Terra da Água: Uma Pequena História da Música Polaca.Piano: Raul M. Sunico.Admirável Mundo Novo: Obras de Gershwin, Copland, Cage, Reich.PATRIMÓNIO.02/09 [15:00], VALE DE SANTIAGO.Vale de Santiago: História, Património, Tradições.BIODIVERSIDADE.04/09 [09:30], SÃO LUÍS.Da Ponte do Sol Posto ao Pego das Pias: Ribeira de Torgal - Património Natural e Cultural.Montemor-o-Novo.MÚSICA.17/09 [21:30] MONTEMOR-O-NOVO.Igreja do Convento de São Domingos, Europa Plural: Nove Séculos de Polifonia no Velho Continente, Voces Cælestes, direção musical Sérgio Fontão.PATRIMÓNIO CULTURAL.17/09 [15:00] MONTEMOR-O-NOVO.Rota das Fontes ponto de encontro: Paços do Concelho.Atividade orientada por Ricardo Pereira (diretor do Museu de Sines).BIODIVERSIDADE.18/09 [09:30] CABRELA E MONTEMOR-O-NOVO.Serra de Monfurado: Património Cultural e Natural, ponto de encontro: Cineteatro Curvo Semedo.OUTUBRO.Sines.MÚSICA.22/10 [21:30], SINES.Centro das Artes, O Sonho da Razão: Música Italiana do Século XVIII Il Giardino Armonico, direção musical Giovanni Antonini.PATRIMÓNIO CULTURAL.22/10 [15:00] HERDADE DE MONTE CHÃO.Saxa Sacra: Monumentos Megalíticos de Monte Chãos Ponto de encontro: Castelo de Sines.Atividade orientada por Ricardo Pereira (responsável pelo Museu de Sines).BIODIVERSIDADE.23/10 [09:30] PORTO COVO.Onde o Atlântico e o Mediterrâneo se encontram: O Sobreiral dos Nascedios do Moinho.dnot@dn.pt