Ainda falta vacinar 1,2 milhões. Mas há portugueses que estão a faltar à chamada
É uma verdadeira luta contra o tempo. Faltam 15 dias e ainda há que vacinar quase 1,2 milhões de portugueses, acima dos 65 anos e profissionais de risco, para se cumprir a meta de proteger a população mais vulnerável até ao Natal contra a covid-19. Há dias que os centros de vacinação aceleraram o ritmo, mas, segundo garantem ao DN fontes próximas do Núcleo de Coordenação da Vacinação, mesmo assim, será difícil de concretizar esta meta.
Para isso, era preciso estar a vacinar-se mais de 70 mil pessoas por dia, o que não tem sido conseguido, mesmo nos dias em que as autoridades de saúde anunciam que se bateram recordes. Por exemplo, ontem mesmo, um comunicado da Direção-Geral da Saúde (DGS) divulgava que no dia 2 se tinha batido um recorde de doses de vacinação. Ao todo, 105 mil doses, mas destas 64 440 respeitavam à dose de reforço contra a covid-19, as restantes respeitavam à vacinação contra a gripe. Ou seja, ainda faltavam, pelo menos, entre sete a oito mil inoculações para se atingir o mínimo da meta diária estabelecida.
Neste momento, e do total dos 2,5 milhões de portugueses que deveriam ser vacinados com a terceira dose, há 1,4 milhões que já a receberam e 1 182 068 que ainda têm de a receber.
Em termos percentuais, o DN sabe que 76% da população com mais de 80 anos já foi inoculada, mas que as percentagens descem significativamente quando se passa para a faixa etária entre os 70 e os 79 anos, em que está vacinada apenas 46,6% desta população, para a dos 65 aos 69 anos, em que é apenas 38, 6% da população que tem a terceira dose, ou para a faixa etária entre os 50 e os 64 anos, que inclui profissionais de risco, em que só 25,8% recebeu a terceira dose.
Portanto, "apesar de os centros de vacinação terem recuperado alguma capacidade vão ter muita dificuldade em cumprir com o programa inicialmente definido", afirmaram ao DN as mesmas fontes, acrescentando que uma das razões para que tal aconteça também é "fruto da excessiva concentração deste processo em poucos centros de vacinação, o que provoca desorganização e deslocamentos excessivos aos cidadãos idosos".
Aliás, este pode mesmo ser um dos motivos que está a fazer com que "muitos portugueses não estejam a responder à chamada", disseram-nos. Há relatos de que há agendamentos que não se concretizam, "as pessoas faltam e não avisam, não se sabe bem porquê, mas isto obriga a novo processo de agendamento", explicam-nos.
De acordo com o plano deixado pelo vice-almirante, Gouveia e Melo, e aceite pelo Governo, a 27 de setembro, quando deixou a liderança da Task Force, criada para levar a cabo o primeiro processo de vacinação contra a covid-19, nesta altura estava previsto que 1,7 milhões já tivessem recebido a terceira dose, mas tal ainda não aconteceu. Recorde-se que a este grupo de 2,5 milhões de pessoas ainda se juntaram mais de 300 mil pessoas, com mais de 50 anos, que terão recebido na primeira fase a vacina da Johnson, e cuja inoculação começou esta semana.
As fontes do DN asseguram que "o programa de vacinação continua a sobreviver com agendamentos caóticos e com grande incómodo para os mais idosos e até de perigo, face às condições atmosféricas, a que muitos estão sujeitos quando têm de esperar três ou mais horas para serem vacinados", acrescentando: "Cada dia é um dia a menos e que a gestão que está a ser feita não tem sentido de urgência."
Do lado dos profissionais de saúde, o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, confirma ao DN que houve, de facto, "um incremento no ritmo de vacinação desde há duas semanas porque os centros de vacinação passaram a estar abertos aos fins de semana e aos feriados", mas, argumenta, "continua a haver sobreposição de doentes devido a falhas no agendamento central e local".
Nuno Jacinto diz que esta situação se mantém desde o início do processo havendo "doentes que são chamados em sobreposição pelos serviços centrais e pelos serviços locais" e, agora, "como estamos com um esquema de casa aberta praticamente diário, com muitos utentes a recorrerem a este sistema, a vida de quem está nos centros de vacinação ainda é mais complicada".
Além de que, "continuamos a ser os mesmos a desempenhar estas tarefas, os profissionais dos cuidados primários", um alerta que já tinha feito, assegurando que é a atividade aos doentes não covid que fica prejudicada. No entanto, reconhece que, nestas duas semanas, "houve pessoal contratado diretamente para este trabalho".
O que se vê acontecer na região de Lisboa, utentes em espera duas, três ou mais horas, para serem vacinados, vê-se também em outros locais do país, embora numa dimensão menor, mas num caso ou noutro sem vislumbre de que tal venha a ser melhorado. Mas se quem está nos centros de vacinação, não tem mãos a medir, no Núcleo de Coordenação da Vacinação, agora liderado pelo médico militar, coronel Carlos Penha Gonçalves, passa-se o mesmo.
Segundo apurou o DN junto de fontes próximas deste grupo, neste momento os militares já tiveram de o reforçar com mais quatro elementos do seu pessoal, um já está em funções e as restantes chegam até ao final da próxima semana.
Neste momento, este grupo que deveria ter 16 elementos, metade do que tinha a Task Force, oito militares e oito do Ministério da Saúde (MS), embora este tivesse de começar a aumentar o número de técnicos para liberta os militares desta função, tem agora 12 militares e três civis colocados pelos MS, uma técnica do Infarmed, uma enfermeira da DGS e um técnico do SUCH, quando, reforçam, "este grupo deveria servir para fazer a transição para os serviços da Saúde".
O DN ainda questionou ontem à tarde o MS sobre esta situação iria ser alterada com reforço de técnicos dos seus organismos, mas não obteve qualquer reposta até à hora de fecho desta edição.
Com a ameaça da nova variante, Ómicron, que parece ter um grau de transmissibilidade três vezes superior ao da Delta, e com a evolução da doença a atingir números só igualáveis ao mês de fevereiro, a vacinação com a terceira dose torna-se ainda mais importante.