Água do Sado em análise para se saber se foi contaminada

Agricultores de Setúbal querem saber se as terras poderão ter dióxido de enxofre. MP investiga
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Estarão as águas do Sado contaminadas com o dióxido de enxofre libertado pelo incêndio nos armazéns da Sapec? A pergunta só vai ter resposta nos próximos dias, quando se conhecer o relatório do Instituto Hidrográfico sobre as análises feitas às amostras recolhidas pela Polícia Marítima, que também ouviu os receios dos proprietários dos terrenos nas margens do rio. E tanto a agricultura como a aquicultura temem ter sido afetados pelas escorrências provenientes do combate ao fogo.

"A haver contaminação não será nada comparado ao derrame de um petroleiro", reconhece o comandante Luís Lavrador, capitão do porto de Setúbal. Em caso de cenário mais pessimista, diz que qualquer decisão terá de passar pela consulta de várias entidades, embora admita que o leito do rio deverá ir atenuando a contaminação, "diminuindo-a até chegar ao mar".

Ainda assim, Luís Lavrador percebe que os proprietários consultados entre Praias do Sado, Faralhão ou Gâmbia estejam preocupados com o incêndio que defla- grou na madrugada de terça-feira no Parque Industrial da Mitrena, onde se concentram seis empresas que armazenam ou processam substância perigosas.

Além do enxofre na Sapec Agro, a lista prossegue com a Portucel (transformadora de papel) Tanquisado (terminal de granéis líquidos), Sapec Química (produtora de químicos, metais e combustíveis), Sopac (produtora de adubos) e Abubos Deiba (comercialização de adubos). Todas se inscrevem nas chamadas "indústrias de Seveso", a diretiva que controla os perigos associados a acidentes graves. Distante da Mitrena, há em Setúbal uma sétima empresa com este estatuto: a Secil, produtora de cimentos, na serra da Arrábida.

José Ramos quer saber se a sua pequena horta na zona tem enxofre. "É que isto fica aqui. Semeio alfaces, cebolas, coentros. Como é a partir de agora?", questiona, enquanto o vizinho João Mira se interroga sobre a qualidade das laranjas. "Não deixo a minha neta comer mais nenhuma, porque estiveram aqui uns senhores que aconselharam a esperar mais uns dias pelos resultados", relatava ontem ao DN.

As recolhas de amostras de água, que começaram logo na terça-feira, foram feitas em várias zonas do Sado, onde as autoridades admitem que possa haver contaminação e onde, à partida, têm a certeza de que o dióxido de enxofre não chegou, para que possa ser feita a comparação. No primeiro dia a investigação foi conduzida apenas pela Polícia Marítima, mas nos seguintes juntaram-se elementos da Agência Portuguesa do Ambiente e do Porto de Setúbal. A Polícia Marítima revela ainda que entregou no Ministério Público de Setúbal o expediente relativo às ações realizadas.

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