Seis semanas depois da conclusão da fase regular disputou-se este sábado, por fim, a primeira meia-final do campeonato nacional. Sim, caro leitor, foram precisamente 42 os dias de intervalo entre saber-se quais as quatro equipas apuradas para esta fase decisiva da prova e a sua respetiva realização!.E mesmo com a indefinição, que se arrasta há demasiado tempo, por parte da Rugby Europe e da World Rugby, quanto às datas (e adversários!) da seleção nacional nos compromissos referentes ao play-off para o Mundial 2019 e repescagem para o European Championship, nada justifica este longo período de espera - que quase pareceu um defeso de verão enquanto todas as outras modalidades se encontram na fase determinante da temporada - que certamente afetou o desempenho das equipas envolvidas..E para complicar ainda mais as coisas, o diferendo entre federação e árbitros agudizou-se e estes, através da seu representante, a ANAR, mostram-se indisponíveis para apitar jogos face ao não pagamento há largos meses de despesas de deslocação e a questões relacionadas com observação, formação e captação de novos árbitros. E também os clubes, para ajudar à festa, recusaram a proposta federativa de contribuírem financeiramente para a resolução do problema..Idiossincrasias típicas do râguebi português que continua assim a trilhar caminhos de incompetência e amadorismo que já se torna difícil fundamentar. E tal com o Titanic, a modalidade afunda-se enquanto a orquestra vai tocando....E antes de falarmos do jogo em si uma palavra para o árbitro que se voluntariou para o dirigir, Pedro Sarmento, um verdadeiro herói que em condições muito difíceis (choveu a bom chover a maior parte do encontro) e com os jogadores apostados em complicar-lhe a vida, lá foi dando boa conta do recado. E na decisão mais árdua - acabar o jogo com quase todos os jogadores envolvidos à pancada e público adepto de Agronomia a entrar no relvado, depois de assinalar falta favorável a Direito que poderia dar o empate - dificilmente poderia ter agido de outro modo. E aí faltou claramente cabeça fria aos jogadores de Monsanto....Quanto ao jogo jogado, basta apresentar este número bem elucidativo - quebras da linha de vantagem para Agronomia, 1 e quebras da linha de vantagem para Direito, 0 - para se perceber como os dois semifinalistas se comportaram ao longo dos 80 minutos, com um ambiente dos grandes jogos entre dois emblemas de enorme rivalidade entre si..Logo aos 4' e ao bom estilo sul-americano num lance iniciado num desaguisado entre PJ Van Zyl e Gonçalo Uva, os 30 jogadores desataram a libertar a adrenalina acumulada numa batalha na qual as claques de futebol dos nossos principais clubes não desdenhariam participar. Isto perante o olhar calmo do árbitro que, sem auxiliares oficiais nem vontade de mandar logo todos para casa, se limitou a assinalar uma falta agrónoma que Nuno Sousa Guedes aproveitaria para inaugurar o marcador (0-3)..Direito estava por cima do jogo, com os seus jogadores mais aplicados e disponíveis para o combate do que Agronomia, equipa que se apresentou nervosa e incapaz de responder à pressão do momento... e à eficácia defensiva dos advogados que caíam como matilha em cima dos rivais e placavam tudo o que mexesse, com destaque para os intransponíveis centros Manuel Vilela/Duarte Pereira e o capitão exemplo Vasco Uva..E uma penalidade frontal, e dentro dos 22 metros, falhada incrivelmente por José Rodrigues aos 11' exemplificava da melhor forma a nervoseira que atacava e tolhia os homens de Frederico Sousa. Isto perante advogados que adoram estes jogos decisivos e, determinados e a vencerem a batalha entre packs, aos 38' já venciam por 9-0 graças a novos pontapés de Sousa Guedes. A única área onde Direito baqueou com estrondo foi nos alinhamentos, onde apesar dos 2,02 m do saltador Gonçalo Uva, os homens de Monsanto foram de uma confrangedora nulidade, reduzindo drasticamente a quantidade de bolas jogáveis para as suas linhas atrasadas que passaram o jogo a placar e a ver a bola passar por cima de si, de um lado para outro, com sucessivos e exagerados pontapés....Em cima do intervalo Vasco Fragoso Mendes viu cartão amarelo e com o homem a mais, a avançada da casa chegava por fim aos 5 metros contrários e montaria uma boa sequência de fases à mão, com o pilarão fijiano (eram três no quinze titular agrónomo mais um sul-africano contra zero estrangeiros dos visitantes) Robert Wakabaka a mergulhar para o ensaio inaugural do encontro, que fazia os 9-7 para Direito ao intervalo..O ensaio como que libertou Agronomia que voltou melhor, mais confiante e assentou finalmente praça no meio-campo contrário. E aos 53' o defesa Manuel Cardoso Pinto, que tinha passado ao lado do jogo até aí, no seu habitual jeito de enguia a que nos habituou ao longo da época, passou por 3, 4, 5 adversários para marcar junto à bandeirola e virar o resultado para 12-9..Mesmo denotando um maior cansaço e sem conseguir esticar o seu jogo, o quinze de Miguel Leal nunca baixou os braços. E aos 62' João Silva, num belo pontapé de 41 metros, empatava a partida (12-12). Mas sentia-se agora que o jogo pendia para a equipa da casa, que mesmo sem deslumbrar (a pesada oval não estava de todo favorável às suas rápidas e habilidosas linhas atrasadas) e já perto dos 80' uma derrocada num maul permitira a José Rodrigues passar de novo a sua equipa para a frente (15-12)..Nos instantes finais, o nervosismo estendeu-se das bancadas para o relvado e o capitão agrónomo Fernando Almeida foi excluído com amarelo. Logo depois e na sequência de uma falta assinalada num alinhamento a favor de Direito, os jogadores envolveram-se em nova cena de pancadaria ao bom estilo de filme de far-west e Pedro Sarmento, farto do favor que tinha andado a fazer a clubes e federação, resolveu acabar de vez com a meia-final e ir tomar um retemperador e quente banhinho..E assim Agronomia, pelo segundo ano consecutivo apurava-se para a final do Nacional, em que irá tentar conquistar o seu segundo título depois de 2007, enquanto que Direito - quinze mais laureado com 7 triunfos em 12 edições neste modelo competitivo -, em época de contenção de custos, voltava a ficar de fora do jogo decisivo tal como em 2017..Amanhã, no Restelo (16.00), Belenenses e Dramático de Cascais vão discutir entre si quem será a outra equipa presente na final do próximo sábado, que se realizará a uma hora mais apropriada aos aperitivos para almoço: 12.30.