Pedro Sánchez, líder do PSOE e primeiro-ministro em funções, apresenta-se ao debate de investidura na próxima segunda-feira, dia 22, sem garantia de ter os apoios necessários..Ernesto Pascual, doutor em Ciências Políticas e professor na Universidade Oberta da Catalunya (UOC), analisa em entrevista ao DN o comportamento dos partidos políticos durante as negociações para formar governo e a possibilidade de os espanhóis terem de ir de novo às urnas..Pedro Sánchez, líder do PSOE e primeiro-ministro em funções, apresenta-se ao debate de investidura na próxima segunda-feira, dia 22, sem garantia de ter os apoios necessários. Ernesto Pascual, doutor em Ciências Políticas e professor na Universidade Oberta da Catalunya (UOC), analisa em entrevista ao DN o comportamento dos partidos políticos durante as negociações para formar governo e a possibilidade de os espanhóis terem de ir de novo às urnas..Quase três meses após as eleições legislativas e depois de semanas de negociações entre os partidos, o que se pode esperar da votação de investidura de Pedro Sánchez? Acha que a Espanha vai ter governo? A verdade é que Pedro Sánchez está a jogar uma carta de pressão muito forte com o Podemos e, indiretamente, com o Ciudadanos e o Partido Popular. Com o Podemos para lembrar que se houver novas eleições eles terão mau resultado. É uma leitura arriscada. O eleitorado espanhol pende mais para o centro-esquerda, mas não muito. O PSOE pode ganhar, mas se houver pouca participação a direita poderia somar mais votos e formar governo. Também é possível que o PP se abstenha na votação para mostrar o seu sentido de responsabilidade. Temos de lembrar que estamos a ver uma competição entre blocos. Albert Rivera está obcecado em ser o líder da direita e não conseguiu pactuar com os socialistas. Se o PP se abstiver, estará a desacreditar Rivera e a mostrar que pensa mais nele do que no país. A primeira votação vai fracassar, mas vamos ver muita pressão dos dois lados para conseguir que, mesmo com os votos mínimos, seja possível empossar Pedro Sánchez dois dias mais tarde..Falou-se muito na imprensa das exigências de Pablo Iglesias para negociar com os socialistas. Por que esta va ele obcecado em ser ministro? É uma obsessão dele. Eu percebo a estratégia do partido. O Podemos foi esperança e, depois, deceção. Precisa de deixar de parecer uma alternativa política para passar a sê-lo de facto. O Podemos quer mostrar que se for governo pode melhorar a vida das pessoas. A oposição desgasta muito. O partido tem de se mostrar como alternativa real, mostrar que não está fora do sistema. Na direita há quem diga que são comunistas extremistas e, por isso, devem demonstrar que são alternativa. Tendo em conta o número de deputados conseguidos pelo Podemos, era justo o pedido feito até à última por Pablo Iglesias? Isso é a política. Na semana passada, o PSOE falava da reforma do sistema eleitoral para não ter de pactuar. Mas o sistema eleitoral espanhol é pluralista. Durante anos, o bipartidarismo beneficiou do sistema, mas apareceram depois, com o mesmo sistema, dois partidos novos. E nas câmaras municipais onde não havia bipartidarismo os partidos conseguiram pactuar. Em qualquer parte de Espanha pode-se encontrar pactos improváveis entre partidos que conseguiram chegar a acordos. Acontece que os nossos líderes nacionais não têm esta cultura. É legítimo que o Podemos peça para entrar no governo em troca de deputados. Mas a habilidade política de Sánchez vai no sentido de querer excluir o Podemos..Falou de uma possível abstenção do Partido Popular... É uma possibilidade que, para já, foi rejeitada pelo PP e pelo Ciudadanos. Porém, as bases influentes destes partidos, os empresários, não querem novas eleições. Para a economia, para a Bolsa e para os setores industriais, a estabilidade é fundamental. Um novo período eleitoral significaria mais três ou quatro meses parados. Não há Orçamento aprovado. Perante isto as elites económicas poderiam pressionar a direita para não se ir para novas eleições..Rivera mantém o seu não e evita pactuar com Sánchez... O eleitorado do Ciudadanos não percebe isto. A prova disso é que muitos fundadores [do partido] criticam esta posição, que só pode ser entendida se tivermos em conta que [Rivera] quer liderar a direita e ter opções para ser presidente do governo. E não é preciso muito para intuir que a longo prazo a estratégia será errada. O eleitor de centro-esquerda e de centro não entende a escolha de não pactuar com os socialistas..Pedro Sánchez fracassa por se apresentar a votos sem apoios? Estamos perante uma crise sistémica, uma desconexão entre o que os cidadãos votam e pedem (uma negociação entre partidos) e o que esta geração de partidos faz. Querem o bipartidarismo ou uma só cor. A sociedade pede uma cultura política da negociação. E é um fracasso de todos: de Sánchez, que não sabe juntar todos numa negociação política; do Podemos por resistir a ceder; do Ciudadanos por marcar uma linha vermelha e não pactuar; e da direita por ser incapaz de criar uma alternativa diferente. É um fracasso dos líderes políticos. Agora a sociedade é diferente e já não é possível governar sozinho.Espanha pode dar-se ao luxo de ir de novo para eleições? A Bélgica esteve sem governo por um tempo e todos pensávamos que era impossível. Podemos ir para um quarto ciclo eleitoral? A lógica diria que não, mas o sistema democrático e a sociedade podem aguentar. Outra coisa é que existe uma grande desilusão geral sobre a situação política e o resultado de novas eleições pode variar pouco, em função da participação nas províncias. Sánchez pode não ter uma jogada segura nas mãos.Qual é o futuro do Podemos? Há espaço para um novo partido de esquerda como disse recentemente Íñigo Errejón? As fraturas internas no Podemos tiveram os seus benefícios nas eleições. Muitas pessoas acabaram por dar o voto útil ao PSOE. Há uma rutura muito importante entre alguns históricos [do Podemos] como Errejón, Raimundo Viejo, Carolina Bescansa... há desgaste e duas visões diferentes. O futuro do partido passa por sair da expectativa para o poder real. E ao mesmo tempo pode surgir uma nova formação, a esquerda sempre foi muito atomizada. E já vimos que o crescimento rápido dos partidos é possível.O problema catalão pode ser determinante num acordo que viabilize um governo em Espanha? Pablo Iglesias diz que o problema catalão é a base para se chegar a uma coligação. Neste momento, a sentença do Procés [julgamento de dirigentes catalães por causa do referendo de 1 de outubro de 2017 na Catalunha] pode servir para unificar o independentismo catalão. É o momento mais baixo, com o pacto entre PSC e Junts pel Cat em Barcelona, que quebra as relações entre o Junts pel Cat com o PDCat. Mas o independentismo está muito prejudicado. Dar tanta importância, não formando governo, indica que há uma crise sistémica não só com os partidos mas também com o sistema territorial.Depois de tantos meses de negociações entre partidos, o que pensa do Vox? Da mesma forma a que assistimos à expansão do Podemos, vemos agora a expansão do Vox. Mas a diferença é que o Vox deve fazer alguma coisa diferente para não cair na mesma situação de todos os outros partidos. Falava-se do Vox como a nova extrema-direita, a direita radical, mas não é, tem uma base de pós-franquismo sociológico com atitudes relacionadas com os movimentos conservadores. Provavelmente, com o tempo, os eleitores do PP que foram para o Vox (seis em cada dez) voltarão para os populares. O Vox exagerou no campo ideológico.