Afastada ligação terrorista de afegãos detidos no Porto

Os dois afegãos detidos pelo SEF e pela PSP no Porto estiveram na Síria, mas a combater contra o daesh
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Os dois cidadãos afegãos detidos no Porto não têm, afinal, ligações a organizações terroristas, uma suspeita admitida pelas autoridades portuguesas, de acordo com a edição desta quinta-feira do JN. Pediram asilo na PSP e acabaram em tribunal e à guarda do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).

De acordo com informação recolhida na investigação em curso os afegãos, um de 20, outro de 26 anos, saíram do seu país muito jovens em direção ao Irão. São xiitas e juntaram-se depois, como milhares de outros xiitas, às tropas que combatem o daesh na Síria. Integraram o "Islamic Revolucionary Guard Corp" (Guardas da Revolução), um corpo militar criado para defender as fronteiras iranianas e que enquadra os voluntários xiitas.

Essa foi a explicação dada para terem numa pen fotografias de combates no território sírio e que, segundo escrevia o JN, levantaram suspeitas às autoridades portuguesas. Segundo o jornal eram "fotos de armamento, explosivos e exibição de combatentes com armas de guerra da Síria" o que terá causado "alarme, por fazer recordar imagens de terroristas do daesh". Sendo xiitas fica afastada essa hipótese, uma vez que, quer o daesh, quer a Al-qaeda integram apenas muçulmanos sunitas.

A detenção aconteceu no passado dia quatro de julho. Os cidadãos estrangeiros dirigiram-se a uma esquadra da PSP para pedir asilo. Ao que o DN apurou, como se tratavam de estrangeiros e não entendiam a língua que falavam chamaram o SEF. Este serviço de segurança chamou tradutores em língua persa e farsi e entendeu detê-los, por "permanência irregular em território português". Nas declarações que os dois cidadãos prestaram referiram ter viajado, durante dois anos, por diferentes países europeus tendo chegado a Portugal de comboio, desembarcando no Porto. De acordo com o SEF, após revista de segurança, "não foi encontrado qualquer documento de identificação, bilhetes ou outro documento que atestasse a factualidade por eles descrita. Tinham na sua posse cerca de dois mil euros, uma pen drive e ainda dois telemóveis".

Foram presentes a tribunal, na quarta-feira de manhã, e o juiz validou a detenção e aplicou a medida de coação de instalação em Centro de Instalação Temporária no Porto, sob custódia do SEF, tendo sido apreendidos, por ordem do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP), os pertences referidos.
Os afegãos tinham anteriormente pedido asilo, que foi recusado, à Finlândia. Como, de acordo com a Convenção de Dublin, que regulamenta os procedimentos com os refugiados no espaço europeu, o país que recebe o primeiro pedido de asilo, mesmo que não o aceite, assume responsabilidade pelos requerentes, o SEF requereu às autoridades finlandesas a chamada "retoma a cargo". Ao que o DN apurou junto a fonte deste serviço que está a acompanhar o processo, a Finlândia disponibilizou-se de imediato para receber de volta os dois cidadãos afegãos.

Em dezembro de 2015 o SEF deteve no Algarve um cidadão indiano, separatista sikh, por suspeita de ser terrorista, de acordo com informação na base na Interpol. Paramjeet Singh, que tinha vindo passar férias com a família, vivia afinal em Inglaterra há mais de 20 anos, como refugiado político.

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