Advogado dos Direitos Humanos desaparece após ser libertado pela polícia

Família desconfia que o homem ainda esteja " nas mãos da polícia"
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O advogado chinês Li Heping, conhecido por defender ativistas e dissidentes, continua desaparecido desde que foi libertado na semana passada, após passar mais de um ano detido, denunciou hoje à agência EFE a sua mulher.

"Segundo a lei chinesa, o meu marido deveria ter voltado para casa no mesmo dia em que foi anunciada a sentença. Onde está ele agora? Não sei, mas estou certa de que está nas mãos da polícia", afirmou Wang Qiaoling.

Kit Chan, diretora executiva do grupo China Human Rights Lawyers Concern Group (CHRLCG), diz que muitos daqueles que supostamente foram libertados "sob fiança" ou após receber "penas suspensas" não foram imediatamente postos em liberdade.

"Não é raro que as autoridades mantenham os ativistas - e, pelo meio, toda a família - sob apertada vigilância num lugar remoto, durante um período de tempo indeterminado", explicou Chan à agência EFE.

Outros advogados ou ativistas que foram também detidos na onda de detenções ocorrida no verão de 2015 encontram-se na mesma situação, acrescentou.

Neste caso, Chan acredita que o Governo chinês quer evitar que Li ou a sua família se exprimam.

"O julgamento foi feito em segredo, sem a presença dos advogados de Li ou de familiares. Há muitas questões por responder", acrescentou.

"O Governo não liberta os advogados por medo que revelem as torturas (a que foram submetidos) e os crimes que as autoridades cometeram contras estes", disse.

A organização CHRLCG denunciou este ano que advogados como Li Heping sofreram "vários tipos de tortura" durante o período em que estiveram detidos, pouco depois de outro advogado, Xie Yang, ter assegurado que foi vítima de graves abusos psicológicos e físicos sob as mesmas circunstâncias.

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Ativistas e defensores dos Direitos Humanos na China têm sido alvo de crescente repressão, desde que o atual Presidente, Xi Jinping, ascendeu ao poder, em 2013, enquanto organizações não-governamentais passaram a estar sujeitas a um apertado controlo.

Num relatório hoje difundido, Philip Alston, relator das Nações Unidas para a pobreza extrema e os direitos humanos, afirmou que foi perseguido na China por agentes de segurança disfarçados durante uma visita oficial ao país, e que alguns ativistas que encontrou terão sofrido ameaças e retaliações.

O mesmo relatório revela avisos por parte do Governo chinês para que Alston não estabelecesse contacto direto com organizações da sociedade civil para marcar encontros, requisitos do Governo para que apresentasse detalhes sobre encontros privados e perseguições por agentes de segurança disfarçados de cidadãos.

Alston disse que o Governo avisou-o a ele e ativistas considerados "sensíveis" para que não se encontrassem e que uma reunião foi cancelada depois de a pessoa em causa ter sido colocada sob custódia.

O porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros chinês Geng Shuang rejeitou comentar o relatório, afirmando que não o leu, mas disse que o Governo "apoiou" os pedidos de Alston para entrevistar pessoas durante a visita.

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