Este é um tema novo. Como avalia a influência destes meios de desinformação?.Nos EUA a discussão sobre factos alternativos é, na realidade, uma discussão sobre o viés da informação. As pessoas dizem que há factos, em que baseiam as suas convicções, que não estão a ser apresentados como factos. Estão a reclamar que os factos informativos são apenas uma parte da história..É isso que justifica o rápido crescimento das fake news?.Há várias coisas diferentes. A informação que é muitas vezes repetida tende a tornar-se verdadeira para as pessoas. A fonte que a difundiu não fica na memória. Mas a informação vem à cabeça rapidamente e as pessoas acreditam na sua veracidade. Quando as pessoas ouvem repetidamente a mesma história, assumem que é verdade. Esse é um dos "efeitos da verdade", de como a repetição pode aumentar a credibilidade da informação. Parte da natureza insidiosa das fake news é a possibilidade que dão às pessoas de replicarem. Há um outro dado muito importante: quando as pessoas obtêm informação, mesmo que seja falsa, se elas gostariam de que fosse verdadeira, isso acrescenta um resultado positivo - mostra que há mais pessoas que pensam o mesmo..E isso dá credibilidade à informação?.Sim. Se mais alguém pensa que é verdade e estamos juntos nessa crença, então eu sinto que é mais verdadeira a informação. Porque estamos do mesmo lado. Em alguns casos, as pessoas não ligam sequer aos factos. A desinformação pode ser sobre um facto e esse facto ser falso. Mas as crenças sobre o significado que tem esse facto fazem-nos partilhar a informação à mesma, porque acreditamos ser verdade..A ideologia é uma forma de diminuir a nossa capacidade de apreciar um facto?.Sim, em alguns casos é. Embora seja também porque as fake news são vistas como um reforço da nossa ideologia. Mesmo que seja mentira, isso não põe em causa a crença maior. Há este acontecimento, ele reforça as coisas em que acredito, eu fico feliz por saber que é verdadeiro. Se, mais tarde, descubro que o acontecimento é falso, não importa, mantenho a crença e há outras razões para defendê-la. Saber que uma coisa é mentira pode ser irrelevante..Como a psicologia social encara isso? .Desde os anos 1980, vários estudos trabalharam esse tema das "explicações causais". Mesmo que se desminta um facto, as pessoas continuam a acreditar que é verdadeiro. Como é que se pode lidar com isso? Uma maneira talvez seja mostrar que há informações opostas. Ou seja, tentar criar "explicações causais" diferentes da original. No nosso contexto, isso é difícil. Quando recebemos uma informação que reforça a nossa ideologia não ouvimos o que dizem aqueles que se opõem à nossa ideologia. É aqui que a "bolha de informação" se torna perigosa. Porque impede o contraste entre informações que permite mudar a crença inicial que se baseava numa informação falsa..A "bolha de informação" cria uma zona propícia para a informação não verificada?.Sim, absolutamente. É um perigo absoluto. Um dos temas mais disputados nos EUA é o controlo das armas. O presidente diz que se toda a gente tivesse armas, não haveria quem pudesse entrar num sítio e disparar sobre os outros. Mas este debate faz-se sempre por convicções. Nunca se pede às pessoas que imaginem o contrário. Que pensem num cenário em que as armas pudessem tornar um cenário mais perigoso e não mais seguro. As pessoas podem resistir a isso, mas se conseguíssemos que o fizessem, seria uma maneira eficaz de lhes mostrar que podem estar erradas..As crenças determinam a maneira como acreditamos na informação?.As pessoas tendem a acreditar muito mais nelas próprias. Se são elas a pensar na forma de contrariar a crença inicial, é mais provável que mudem a forma de pensar..O antídoto para as fake news é levar as pessoas a pensar de maneira mais complexa?.As pessoas são muito pouco dadas a desconfiar de si próprias [risos]..A falta de informação é uma forma de sermos tendenciosos?.Há um viés que vem da falta de conhecimento, sim. Se só sabemos uma parte da história, somos encurralados numa direção. Às vezes somos tendenciosos porque queremos acreditar numa coisa, mas noutras é porque aquilo é tudo o que conhecemos. Se as pessoas querem agir corretamente, podem ser levadas a pensar, a ter mais informação, e a formar crenças baseadas na informação real..O que o tem surpreendido mais? .Verificar que a forma como as pessoas gostam ou não gostam da fonte da informação as faz dar mais ou menos credibilidade aos temas. Mais do que a forma como consideram a fonte honesta, experiente ou pouco tendenciosa. Gostar ou não é mais importante do que isso..Isso aumenta o risco de fake news?.Sim, absolutamente. Parte do que fazem as fake news, além de criarem uma narrativa que reforça crenças, é comunicar com as pessoas de uma forma forte. Se estamos dispostos a forçar a verdade para apoiar um político, isso é uma comunicação poderosa..Há alguma relação sobre isso com a polarização política?.A bolha de informação é parte disso. Há pouco tempo, as fontes noticiosas eram comuns à maioria das pessoas. As pessoas recebiam a informação dos jornais, das televisões. Tinham os mesmos factos. Agora não. Como recebem a informação de fontes diferentes, formam crenças diferentes, baseadas em factos diferentes..Da psicologia à bolha informativa.Duane Wegener é um professor de Psicologia Social na Ohio State University. Inaugurou uma nova pesquisa sobre o efeito da desinformação. Depois de uma conferência no ISPA, em Lisboa, revela como as fake news se aproveitam de uma "bolha de informação". Com as redes sociais, cada um de nós consome informação de forma "segmentada". Isso alimenta as nossas crenças. Há um outro dado relevante: tendemos a confiar em quem gostamos. Se uma informação falsa nos é enviada por alguém de quem gostamos, isso faz-nos acreditar nela.