A última geração dos fones com cancelamento de ruído é mesmo música para os seus ouvidos

A tecnologia não é nova mas está mais avançada do que nunca. E se a nova proposta da Apple quase o obriga a deixar a carteira na loja para os levar para casa, há outras opções. Uma, da Sony, tem qualidade para rivalizar com a marca da maçã. Mas os prémios europeus EISA escolheram uma marca dinamarquesa.
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Devemos a música portátil de alta qualidade à Sony. Em 1979, Masaru Ibuka, melómano e cofundador da empresa japonesa, cansado de viajar em trabalho com um volumoso gravador de cassetes TC-D5 para ouvir a sua música, encomendou ao vice-presidente executivo para o Design Norio Ohga um leitor portátil pequeno que lhe permitisse ouvir a sua música em qualquer lugar, no avião ou quando estivesse a jogar golfe.

O resultado foi o primeiro Walkman. E o mundo mudou.

Junto com o leitor de cassetes, a Sony teve de inovar ainda noutra área: os fones. Até então, estes dispositivos eram essencialmente utilizados por profissionais, em estúdios de gravação ou na rádio. Ou por entusiastas. Eram geralmente volumosos, pouco portáteis. Os engenheiros da Sony precisaram de encontrar uma solução leve mas resistente, que simultaneamente não comprometesse muito a qualidade de som. Nasceram os H-AIR, ainda hoje reconhecíveis como os fones típicos dos anos 80.

Façamos um salto quântico de 40 anos e centremo-nos no mais recente membro da família de auscultadores de alta gama da Sony. Os WH1000XM4 (a marca japonesa parece fazer questão de batizar os seus produtos com designações difíceis de memorizar) são simplesmente, de acordo com o insuspeito britânico The Guardian, "dos melhores fones sem fios com cancelamento de ruído que o dinheiro pode comprar".

Baratos, convenhamos, não são. Mas por 359 euros (na Amazon.es), estão longe de ser dos mais caros do género (já voltamos ao assunto). A qualidade do som é excelente, segundo todas as críticas profissionais disponíveis, e o sistema ativo de supressão de ruído ambiente chegou a um ponto em que até a maioria dos audiófilos tem pouco a reclamar.

Este tipo de tecnologia não é novo. A teoria vem dos anos 50, aplicada à aviação. Grosso modo, trata-se de captar o som ambiente através de um microfone incorporado e criar uma "onda sonora contrária", que anule o ruído, mas modulada de forma a que não interfira com o áudio que se pretende ouvir.

Consegui-lo sem degradar a música é extraordinariamente complicado, naturalmente. Afinal, está-se a acrescentar ruído para tentar neutralizar outro ruído. Em 1989 a Bose criou o primeiro modelo comercialmente disponível que conseguia fazê-lo e ainda hoje é uma das marcas de referência neste tipo de tecnologia (procure por Bose Noise Cancelling Headphones 700, o modelo de referência), mas na realidade só o processamento do áudio digital tornou possível concretizar a teoria de forma eficaz.

O Digital Sound Processing (DSP) -- o mesmo tipo de tecnologia que, por exemplo, nos sistemas Dolby Atmos permite dar ao ouvinte a sensação de que o som vem do teto quando na realidade sai de uma única coluna por baixo do televisor -- faz com que seja possível modular a onda sonora de supressão de tal forma que anula quase por completo o som ambiente, praticamente sem interferir no áudio que se quer ouvir.

Os aparelhos de última geração fazem isto de forma superior, mantendo a sua "assinatura sonora" -- nos caso dos Sony, um som que tende a ser rico nos baixos.

Os WH1000XM4 pesam apenas 245 gramas, são compatíveis com Bluetooth 5.0 e a bateria promete durar 30 horas com a supressão de ruído ligada.

Este sistema, como é habitual nestes aparelhos, é regulável. Pode ser ativado para eliminar (quase) por completo o som ambiente ou deixar passar algum -- algo muito útil, e aconselhado, para utilização na rua.

Provavelmente o único ponto em que os Sony perdem para os AirPod Max é na noção de luxo que estes transmitem. E, não há volta a dar, na ideia de marca.

Lançados em meados de dezembro, estes topo de gama da Apple incorporam o melhor no áudio que a empresa de Cupertino diz conseguir fazer, tanto nos materiais como na tecnologia que contêm.

O que se reflete no preço que pedem por eles: 629 euros. Mas vêm em cinco cores diferentes...

O mercado audiófilo está cheio de marcas de "boutique" ou de consumo médio, que normalmente não surgem nas grandes superfícies comerciais ou sequer nas revistas "mainstream", mas que produzem produtos de altíssima qualidade, muitas vezes por preços nem particularmente elevados.

É o caso dos IO-6, da marca de áudio dinamarquesa DALI. A revista Forbes classificou-os mesmo como os primeiros fones com supressão de ruído para audiófilos, "brilhantes, soberbos, capazes de debitar música exatamente da forma como foi gravada".

O preço? 324 euros, em Portugal, no representante nacional. Menos do que os Sony, quase metade dos Apple. E concebidos e desenhados na Europa, com materiais de altíssima qualidade.

Não estivéssemos em confinamento, seria muito aconselhável ir experimentá-los. Mas tendo em conta que foram vencedores dos prémios EISA 2020-2021, pode sempre confiar nos ouvidos do júri internacional, composto por membros de 29 países.

O que é que tem a perder? As ligações à Alexa ou ao Google Assistant no toque de um botão, dos Sony, ou à Siri, nos Apple. Mas no que mais importa, a música, aí de certeza que fica a ganhar.

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