A secretária de Estado de Macron que quer fixar multas para o assédio sexual

Antiga blogger, Marlène Schiappa é a nova secretária de Estado para a Igualdade no governo francês. É um dos membros mais criticados do executivo depois de sucessivas gafes que comprometeram o seu papel.
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Marlène Schiappa é, à primeira vista, a escolha perfeita para garantir a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. Destacou-se como ativista dos direitos das mulheres, nomeadamente das mães trabalhadoras com filhos, apresenta-se como acérrima defensora da laicidade e é autora de diversos livros sobre maternidade, família e violência contra as mulheres. As suas propostas, como a criação de uma força especial para travar o assédio sexual nas ruas de França, sucedem-se, mas também alguns episódios negativos que têm feito subir o tom das críticas nos jornais franceses.

Antes de chegar ao governo, Marlène Schiappa, 34 anos, não só se destacou na blogosfera através do blogue Maman Travaille (A Mamã Trabalha ), e como ativista da defesa dos direitos das mulheres, como também foi eleita como vice-presidente da Câmara de Le Mans, contando ainda com cerca de 15 títulos publicados. As temáticas dos livros de Schiappa vão da dificuldade de coordenar a maternidade com a atividade profissional até a um ensaio publicado este ano sobre a cultura da violação.

No entanto, o livro que está a ganhar mais atenção tem que ver com uma obra que a governante escreveu sobre o amor e as mulheres mais pesadas. As considerações e generalizações sobre as mulheres com mais formas têm recebido críticas por parte das associações feministas.

Schiappa juntou-se ao En Marche! - movimento partidário do presidente Emmanuel Macron, que conseguiu recentemente a maioria da Assembleia Nacional - desde o primeiro momento.

A sua presença nas redes sociais e a sua participação assídua na televisão para debater temas como sexualidade e violência contra as mulheres fez que Emmanuel Macron visse nela uma porta-voz da igualdade de género para a nova geração.

Apesar de o governo e as listas de deputados do En Marche! terem respeitado escrupulosamente a paridade, Schiappa tem-se mostrado uma das figuras mais polémicas do novo executivo. Um dos seus tweets incendiou recentemente as redes sociais, mostrando-a a passear durante a noite na zona de La Chapelle, em Paris, com a mensagem de que as leis da República protegem as mulheres e se aplicam a qualquer hora e em qualquer momento. O passeio noturno foi entendido pelas cerca de 20 mil mulheres que assinaram em maio uma petição para travar o assédio sexual nas ruas da capital francesa como uma afronta às suas queixas, tendo sido largamente contestado.

No dia seguinte, a conta da governante foi suspensa e quando voltou o tweet tinha sido apagado. "Um erro", justificou publicamente o seu gabinete. Antes deste tweet, a secretária de Estado para a Igualdade afirmou querer avançar com uma formação especial para a polícia para travar o assédio nas ruas e, mais recentemente, em entrevista ao Guardian, Schiappa reafirmou que o assédio sexual é um fenómeno "enorme" em França . A solução proposta - e que estará a ser preparada em juntamente com o secretário de Estado da Justiça - é a aplicação de multas que podem chegar aos cinco mil euros.

Mas o descontentamento continua. "O seu passeio pelo bairro de La Chapelle foi ao mesmo tempo ridículo e cheio de mensagens subliminares: as mulheres que se manifestam contra o assédio sexual passaram por mentirosas e a secretária de Estado por uma radical da defesa dos direitos das mulheres", disse ao DN Fatiha Boudjahlat. Boud-jahlat, secretária nacional do Movimento Republicano e Cidadão e cofundadora do movimento Viv(r)e la République, tem criticado a atuação de Schiappa em variadas colunas de opinião no Le Figaro e no Huffington Post.

As posições tomadas publicamente antes da nomeação para o governo também têm assombrado a nova secretária de Estado, que o DN tentou, em vão, contactar. Após a interdição do uso do véu nas escolas francesas, Schiappa pronunciou-se em 2014 contra a interdição de as mães que usam véu acompanharem os filhos nas visitas escolares, afirmando que se tratava de "islamofobia" e não de uma questão de laicidade.

O filósofo Alain Finkielkraut criticou-a publicamente por se revoltar contra o "sexismo e a misoginia" da Igreja Católica e do judaísmo mas não dizer nada contra o islão. Schiappa enviou então uma resposta ao filósofo - que partilhou também com o jornal Libération - afirmando que pertence a uma das mais antigas associações laicas de França e que foi atacada por ser "um dos membros menos experientes do governo, por não vir de uma universidade reconhecida, ser mulher, ser de esquerda e feminista".

No entanto, Fatiha Boudjahlat recusa que as críticas feitas à secretária de Estado sejam devido à sua educação ou experiência política. "O facto de ela sair fora do que é convencional na política francesa não diz nada sobre os seus erros e as suas limitações conceptuais. A ligeireza com que ela fala sobre os temas da igualdade dão-lhe um ar de amadorismo e de fazer as coisas apenas para as redes sociais", considerou.

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