A rua é o palco para o melhor do circo contemporâneo
Um mastro chinês vai ser instalado no Largo da Oliveira em Guimarães. É por ele que vai subir e descer (e dançar) João Paulo Santos. Um pêndulo gigante, com quatro metros de altura, vai colocar os performers a voar sobre o Parque da Juventude, em Vila Nova de Gaia. E o Largo São João do Couto, em Braga, servirá de cenário para as acrobacias da companhia Circus Katoen.
O circo chegou à cidade, anunciava-se noutros tempos. Com o festival Vaudeville Rendez-Vous o mais correto será dizer: o circo chegou às cidades, e está espalhado por todo o lado. A partir de hoje e até domingo, as ruas de Vila Nova de Famalicão, Braga e Guimarães serão ocupadas por mais de 70 artistas nacionais e estrangeiros.
O festival, que já vai na sua quarta edição, nasceu em Vila Nova de Famalicão, a terra do Teatro da Didascália, uma companhia que usa "bastantes ferramentas ligadas ao circo", embora não se limite a isso. Desde o início, a ideia era fazer um festival de verão, fora de portas. "Queríamos contactar com público que geralmente não vem ao teatro. O facto de realizarmos um festival no espaço público permitia--nos chegar a essas pessoas", explica o diretor artístico, Bruno Martins.
No primeiro ano, além do circo, houve outros espetáculos, de dança, teatro, música. Mas rapidamente a organização percebeu que "o circo era uma linguagem que merecia uma atenção especial e não havia ainda nenhum festival que lhe desse o destaque que nós achávamos que merecia". E justifica: "Vemos no circo contemporâneo uma linguagem transversal, que vai beber ao teatro, à dança, à música, a muitas artes e até a linguagens fora das artes performativas, como a engenharia, por exemplo. Queríamos pensar a importância desta linguagem neste território e não só." No ano passado, o Vaudeville estendeu-se a Braga e a Guimarães, com o apoio das autarquias que são os principais financiadores, uma vez que os espetáculos são de entrada livre.
A programação é ambiciosa. "Queremos fazer um festival que possa ser a porta de entrada para performances inovadores, que têm um grau de experimentalismo e de sofisticação que nós achamos que é importante serem vistas pelo público português e também pelos artistas", afirma Bruno Martins. "Por outro lado, sentimos que temos uma missão: queremos coproduzir obras de artistas portugueses e promover ações que apoiem a nova criação ligada ao circo contemporâneo, ao mesmo tempo que procuramos mecanismos de promoção dos artistas portugueses." O Vaudeville faz parte de duas redes internacionais, a CircusNext e a Circostrada, que promovem a circulação de artistas no espaço europeu. Entre as várias ações paralelas do festival, haverá um debate sobre os modelos de apoio ao circo contemporâneo e ainda um showcase, que permitirá o contacto entre artistas e programadores de vários países.
Duas criações enchem de orgulho o diretor do festival. Sentido é uma coprodução do Vaudeville com a Associazione Culturale Sarabanda, de Itália. O criador Boris Vecchio tem estado, na Fábrica Asa, em Guimarães, a criar em residência com três intérpretes portugueses. Depois da estreia no festival, o espetáculo será apresentado em Turim e Génova (Itália): E ainda Demudar, também uma coprodução do festival com o INAC - Instituto Nacional de Artes Circenses, que acabou de se instalar em Vila Nova de Famalicão e que já é um polo incontornável de formação e de reflexão sobre o circo. "Está tudo ligado. Há um território que pensa sobre esta linguagem, há um festival de circo contemporâneo e há condições para nos próximos anos haver mais criação e mais público." No ano passado, o Vaudeville teve cerca de 12 mil espectadores.
Veja a programação completa no site do festival.