"A revolução continua" sete anos depois na Tunísia

Governo subiu preços obrigado por credores e tunisinos saíram às ruas para protestar e exigir justiça social
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"A revolução continua". Esta foi uma das frases mais repetidas na Avenida Bourguiba, em Tunes, pelos manifestantes que ontem saíram à rua para assinalar o sétimo aniversário da queda do ditador Zine El Abidine ben Ali. Vigiados de perto pelas forças policiais.

"É um dia de festa hoje, é verdade que estamos felizes, mas temos exigências a fazer. Com a revolução ganhámos muito a nível político, das liberdades individuais. Os media, a sociedade civil e as organizações são livres. Mas do ponto de vista económico nada mudou", disse à reportagem da France 24 Ousama Najar, de 25 anos, que foi selecionado para dar aulas no concurso de professores em 2017 mas continua desempregado.

"Isto é o que o governo fez. Bolsos vazios por causa das decisões injustas do governo... Eu sou professor e a minha mulher é professora mas passamos dificuldades. A liberdade de expressão foi a única coisa que ganhámos depois da revolução de 2011... mas vamos continuar na rua até termos os nossos direitos económicos garantidos, tal como temos a liberdade", afirma à reportagem da Reuters Fouad, mais um dos manifestantes.

Sete anos depois de a Tunísia ter sido a primeira peça do puzzle da Primavera Árabe a cair, nove governo depois da saída de Ben Ali, os tunisinos chocam de frente com as políticas de austeridade, impostas para responder às exigências de credores externos que emprestaram dinheiro ao país. É o caso do Fundo Monetário Internacional, que concedeu recentemente um empréstimo de 2,4 mil milhões de euros à Tunísia. Em troca o governo do país magrebino comprometeu-se a reduzir o défice público e a realizar reformas. O país vive essencialmente do turismo, setor que sofreu muito com o impacto de atentados terroristas.

Os protestos começaram depois de o governo ter aumentado o IVA sobre bens e serviços como carros, chamadas telefónicas, internet, alojamentos em hotéis... Também os preços de bens como combustível ou comida subiram. Nos últimos dias já foram detidas 800 pessoas por vandalismo e atos de violência como atirar cocktails Molotov contra esquadras. Por isso, ontem centenas de agentes da polícia de intervenção foram mobilizados para as ruas de Tunes. A polícia teve que separar apoiantes da Frente Popular e do Ennahda. O primeiro está na oposição e o segundo, islamita, faz parte da coligação no poder.

Face à instabilidade, o governo tunisino prometeu um plano de ação social de mais de 23,5 milhões de euros para 120 mil beneficiários. Mas isso não parece ter convencido os manifestantes. Para não serem associados à violência, membros do Fech Nestanew, movimento "O que estamos à espera?", vestiram-se de palhaços. "Viemos de nariz vermelho para mostrar que somos pacíficos, somos jovens ativistas, estudantes e artistas que exigem justiça social", afirmou à France 24 Rhana Bensalem, estudante de Direito de 25 anos.

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