"A reabertura das termas é que era bom para Monte Real"

O Papa Francisco aterra sexta-feira em Monte Real. População diz que isso pouco influenciará as suas vidas. Ganham os hotéis e o presidente da junta volta a acreditar na aviação comercial na base aérea
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Onze unidades hoteleiras, serviços de apoio como escolas e centro de saúde, monumentos, espaços verdes, posto da GNR e base área, fazem de Monte Real uma freguesia ímpar em equipamentos. Mas, aquela que já foi, em tempos remotos, concelho perdeu atividade e pessoas, acabando ligada a Carvide na reorganização administrativa das freguesias. O encerramento das termas, há três anos, é apontado como a machadada final e, a isso, diz a população, não há visita do Papa que lhes valha.

Francisco aterra na base aérea de Monte Real dia 12 às 16:35, seguindo para Fátima de helicóptero, sem passar pela localidade. O regresso, a 13 pelas 14:00, será feito por via terrestre, altura em que as pessoas têm a esperança de o ver, entre a saída da A 17 e a estrutura militar onde o avião o espera para regressar a Roma. "Estamos a pensar preparar uma coisa especial, há a hipótese dele fazer o trajeto de papamóvel, vamos ver", desvenda o presidente da União de Freguesias de Monte Real e Carvide, concelho de Leiria. Hipótese que os responsáveis do Santuário negam. E, quem vive na zona, entende que a visita pouco mudará nas suas vidas, mesmo nos dias 12 e 13.

"A venda está cada vez pior. Sofremos muito com o encerramento das termas. As pessoas vinham para cá, alugavam casas ou pensões e, depois, vinham aqui comprar ". Compravam fruta, legumes, hortaliça, tudo o que Conceição Serafim tinha para lhes vender no mercado local, aberto todos os dias e onde ela trabalha há 16 anos. Tem 63 e, quando se lhe pergunta pela importância da visita papal, não hesita: "Escreva aí: "A reabertura das termas é que era bom para Monte Real, agora o Papa nem vem à freguesia". Repete: "O que precisamos é que as termas reabram. Estão fechadas há mais de três anos. Diziam que só abriam depois de arranjarem o rio, foi arranjado e não reabrem!" Um protesto idêntico repetido a quantos falamos das comemorações de sexta-feira e sábado na Cova de Leiria.

As termas inserem-se no Palace Hotel Monte Real, que desde 2014 informa num letreiro: "Fechado temporariamente para manutenção", Encerradas desde fevereiro de 2014, ano em que o alagamento de uma das margens do rio Lis inundou a unidade.

O encerramento das termas, os "supermercados em todo o lado", fazem com que o mercado tenha cada vez tenha menos fregueses. E a visita papal vai passar ao lado de Conceição Serafim, "vou muitas vezes a Fátima, mas não vai ser agora. É muita confusão e estamos perto [54 Km], podemos ir em qualquer dia". Aponta para a banca do pão: "Aquela vai, fale com ela".

Cristina Cruz, 54 anos, há cinco no mercado, vai praticamente todos os 13 de maio a Fátima. Este ano, não fugirá à regra, a diferença é que viajará em carro próprio. "Somos quatro amigas e vamos de táxi. Venho trabalhar na sexta-feira, fecho isto, e vamos depois do almoço. Levamos um farnel e ficamos lá até acabar a procissão das velas." Prevê pagar entre 40 a 45 euros pelo transporte e regressar a casa por volta das 01:30. Sábado começará cedo e com ela a atender os clientes no mercado.

Monte Real tem 13 km2, oito mil habitantes e seis mil eleitores, informa Faustino Guerra, que não tem parado em reuniões, com as autoridades locais e as forças da ordem. "Haverá muita segurança, as pessoas podem não se aperceber, mas há muita. Estão envolvidas todas as autoridades, desde policiais a militares". Em relação à visita propriamente dita, pouco diz porque nem sequer "tem o itinerário".

Vigilância máxima nas estradas

A GNR é força responsável pela segurança na visita do Papa, operação que prepara há 15 meses. Algum desse dispositivo já é visível, muitos militares nas estradas, a área de apoio de Fátima na A1 encerrada, movimentações por todo o lado. "Está a ser montada uma operação de larga escala com uma equipa multidisciplinar", explica o major Bruno Marques, do Comando Territorial de Lisboa, sem dizer quantos operacionais envolve. Além do pessoal fixo, há unidades de reserva envolvidas. E, quando fala na equipa multidisciplinar, fala no patrulhamento territorial, investigação criminal, operações especiais, busca e socorro.

Joaquina Ferreira, 71 anos, cozinheira, espera, ver o Papa ou, pelo menos, toda a comitiva que o acompanha. "Moro em Picoto, é perto, e vou para a estrada com os meus filhos. No dia 13 que é quando ele vem de carro, porque no dia 12 vai de helicóptero. Costumo ir ao Santuário, mas desta vez vai haver muita confusão. Assim, vou para junto da rotunda depois da saída do autoestrada. Acho que qualquer coisa hei de ver. Gosto muito deste Papa, tinha de tentar tudo para o ver."

Faustino Guerra salienta que este é um papa que traz muita gente atrás, uma personalidade a quem atribui uma popularidade idêntica à de João Paulo VI. Confessa estar apreensivo em relação ao próximo fim de semana. "Vai haver uma grande afluência para ver o Papa, temos de afinar todos os pormenores.". E, embora a generalidade dos eleitores digam sentir pouco a visita do Papa, o presidente da junta lembra que as 450 camas da localidade estão ocupadas, "o que é bom". E a visita de Francisco leva-o a voltar a acreditar no alargamento da base aérea à aviação comercial. Há uma dúzia de ano pensei que fosso possível, perdi a esperança e, agora, voltei a acreditar. Era a melhor coisa para Monte Real e para toda a população envolvente, até para Fátima".

Célia Carreira, 50 anos, e Sofia Santos, 32, bancárias, e António Lopes, empresário, vivem em Leiria e trabalham em Monte Real. Acreditam que a visita pouco os irá atrapalhar nas deslocações de casa para o emprego e vice-versa. E não pretendem assistir às cerimónias, até porque não têm tolerância de ponto. "Não concordo que haja tolerância, ainda por cima é a uma sexta-feira e sábado. E Fátima é melhor visitar à noite".

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