A primeira vítima de disparo policial desde 2014 tinha 16 anos

O jovem ia no banco de trás de um carro furtado com outros três suspeitos de assalto que abalroaram um carro patrulha. É o primeiro caso do ano
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Tem 16 anos, não trazia arma de fogo e seguia no banco de trás de um carro furtado, com outros três amigos, jovens como ele. O rapaz, do Porto, morreu ontem com um disparo feito por um agente da PSP, depois de ter, alegadamente, participado num assalto a um café com os outros e de ter visto o seu amigo do volante a ir a alta velocidade contra um carro patrulha que lhes tinha bloqueado a estrada.

Foi a primeira morte por disparo de uma força de segurança este ano e também o primeiro caso do género em dois anos e meio.

O Ministério Público e a Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI) vão investigar a morte do jovem assaltante, no Porto, na sequência de um disparo feito por agentes policiais. Disparo que se destinava a intimidar, alega fonte oficial da PSP ao DN, acrescentando que até estava enquadrado no regulamento do uso da força. "Os agentes tinham a vida em risco e podiam responder", justifica. Aparentemente, os quatro jovens não estavam armados com pistolas nem fizeram ameaças como se estivessem. A investigação irá verificar mas, aparentemente, a arma do bando foi o pé no acelerador e o impulso de abalroar um carro patrulha.

Há também dois polícias feridos e carros transformados em metal retorcido. Foi como num filme mas real. O assalto do bando juvenil a um café em Gondomar aconteceu já depois das 3.00 da madrugada. Os quatro suspeitos fugiram num carro furtado do local do crime e foram apanhados pela polícia a conduzir com as luzes apagadas, na zona de Campanhã, no Porto, adiantou fonte da PSP.

Vários carros patrulha da PSP já tinham sido acionados para ir atrás dos quatro jovens que teriam roubado o café mas houve um que estava mais perto e que os avistou, num automóvel suspeito, sem os médios ligados.

Ao verificarem a matrícula, os dois agentes constataram que se tratava de um carro furtado. Começam a perseguição. O carro patrulha tenta então impedir a fuga dos quatro jovens e bloqueia-lhes a passagem, colocando-se à frente, no meio da estrada. Mas o automóvel conduzido por um dos suspeitos continua a acelerar. Os agentes saem a tempo e resguardam-se atrás do carro patrulha. O impacto do choque é grande e os dois polícias ainda são projetados. Um outro carro, que estava estacionado, foi também abalroado.

Na rua, os dois polícias fazem disparos de intimidação para impedir a fuga dos assaltantes. Um dos jovens, o de 16 anos, é atingido. Outro, de 19 anos, que seguia com ele no banco de trás, é detido. Os outros dois, o condutor que abalroou o carro patrulha e o que seguia no "lugar do pendura" fugiram. Segundo apurou o DN, a Investigação Criminal da PSP do Porto já sabe quem são os dois jovens fugitivos. Estão referenciados por assaltos.

A explicação para os zero casos

A criminalidade violenta e grave desceu 5,5% em 2014 e 0,6 por cento em 2015. Esse fator aliado "à ação repressiva dos últimos anos da polícia contra determinados crimes, como os assaltos a gasolineiras ou a supermercados, contribuiu para diminuir o número de situações em que é preciso a polícia usar a arma de fogo", comentou Paulo Rodrigues, presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP/PSP).

Na Guarda Nacional Republicana também ainda não se registaram situações este ano. Mas nessa corporação houve um elemento dissuassor importante do uso de arma de fogo pelos militares e chama-se Hugo Ernano, na opinião do líder da Associação de Profissionais da Guarda (APG), César Nogueira.

"Suspenso de funções até ao dia 22 de dezembro, a receber um terço do ordenado, Hugo Ernano está ainda condenado a quatro anos de prisão de pena suspensa e obrigado a pagar uma indemnização de 50 mil euros ao pai da criança de etnia cigana morta numa perseguição em 2008. Desde a divulgação deste caso, os profissionais da GNR pensam mais de duas vezes antes de disparar", afirma o dirigente.

Segundo os regulamentos, os agentes ou militares só podem disparar em legítima defesa ou de terceiros. Vai-se agora apurar se o disparo de ontem foi justificado.

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