A pressão política quebrou o governador rockstar
Ser muito considerado por investidores indianos e estrangeiros e ter conseguido revolucionar o funcionamento do Banco Central da Índia não chegou para convencer o governador da instituição a ficar. Raghuram Rajan, tido como uma rockstar da economia, surpreendeu colegas e governo com o anúncio de que não ficará para um segundo mandato, devendo deixar o banco já em setembro.
Sempre um passo à frente dos mercados, considerado um dos melhores analistas financeiros do mundo, imune a pressões, fundamental no regresso da Índia ao crescimento económico, de discurso claro e objetivo, atento aos detalhes e, por último mas de enorme importância, um homem que decidiu pôr-se ao serviço de Nova Deli apesar de ter excelentes propostas de trabalho nos maiores centros financeiros do mundo. Assim era descrito Rajan, quando foi nomeado governador, em 2013. As sete características que o projetaram não o tornaram imune a críticas ferozes de deputados do próprio partido do governo de Narendra Modi, com Subramanian Swamy à cabeça.
Ainda em 2014, na campanha eleitoral, o deputado dizia à Reuters ter esperanças de que se criassem as condições necessárias ao afastamento de Rajan. Mas o governador resistiu. Já em maio, voltou a atacar, afirmando que o governador não era "a pessoa certa para aquele cargo neste país" e que a decisão de subir as taxas de juro para conter a inflação tinha prejudicado muito a economia. A esse segundo round juntou-se o líder do partido do governo, Amit Shah, acusando o governador de ser responsável pelo colapso da indústria e pela subida do desemprego.
[citacao: Gostaria de ver onde nos levarão as medidas de desenvolvimento postas em marcha, mas depois de reflexão profunda e de uma troca de impressões com o governo tomei a decisão de voltar à academia quando terminar o meu mandato]
Menos de 15 dias depois, novo golpe: Swamy escrevia ao primeiro-ministro Modi pedindo-lhe que pusesse fim ao mandato do governador, acusando-o de prosseguir "políticas desastrosas" para a economia indiana. A justificação, segundo a imprensa indiana, era a manutenção da taxa de juro em alta - "uma receita para o desastre", e a duplicação do malparado nos balanços dos bancos públicos nos últimos dois anos.
E à terceira foi de vez. Contrariando a tradição de manter o governador por dois mandatos, os visíveis sinais de cansaço levaram Rajan a ceder. "Gostaria de ver onde nos levarão as medidas de desenvolvimento postas em marcha, mas depois de reflexão profunda e de uma troca de impressões com o governo tomei a decisão de voltar à academia quando terminar o meu mandato, a 4 de setembro", escreveu numa carta à sua equipa, acrescentando estar "sempre disponível para servir a Índia".
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Apesar de já se especular sobre a possibilidade de Raghuram Rajan não ficar para um segundo mandato, a decisão do governador apanhou o governo de Modi de surpresa - sobretudo pelo momento e pela forma como foi anunciada. O primeiro-ministro não comentou a saída, mas o ministro das Finanças, Arun Jaitley, reagiu. Num tweet, apenas minutos depois de a carta ser conhecida, elogiou "o bom trabalho desenvolvido" pelo governador e disse que o governo iria respeitar a decisão de Rajan e que "a decisão sobre o seu sucessor será anunciada em breve". Fonte do governo indiano avançou à Reuters que há sete candidatos possíveis que serão agora avaliados para se escolher quem ocupará o cargo depois do verão.
Antigo economista-chefe do FMI, Rajan ficou célebre pela forma como antecipou a crise financeira de 2008. Quando assumiu a liderança do Banco Central da Índia, a inflação estava a disparar e a rupia afundava dramaticamente. Sob a sua liderança a economia estabilizou-se, a inflação foi controlada, as contas dos bancos públicos foram limpas e o setor financeiro deixou de estar limitado às instituições estatais, tornando-o ainda mais admirado internacionalmente.