A nova vida do Bairro do Avillez em tempos de covid-19
À hora de almoço na sala do restaurante Páteo, um dos quatro que compõe o Bairro do Avillez, os clientes começam a chegar, espaçadamente. Os empregados, sempre de máscara, preparados para a nova coreografia de higienização das mesas e talheres trazida à restauração pela pandemia da covid-19
Nas mesas, despidas de adereços e apenas com um frasco de álcool gel com o logótipo do restaurante, o primeiro gesto é a passagem de mais desinfetante com os clientes já sentados. A seguir são colocados os talheres, guardanapos, copos e pratos, em cima da mesa nua, e que previamente foram desinfetados à vista de todos os comensais.
Depois é a vez de chegarem as ementas, grandes e plastificadas para evitar o manuseamento exagerado. Passados uns minutos o pão, manteiga e azeitonas. E a partir dali, tudo parece voltar a ser o que era. O cenário repete-se com a chegada dos restantes pratos. Mais devagar e com mais cuidado, sobretudo na distância para o cliente.
Diogo Cid que há quase três anos trabalha no Bairro do Avillez diz, com os olhos a sorrir, que "é tudo uma questão de adaptação". No primeiro dia de reabertura conta que não tardará a que todos os novos passos entrem na rotina e sejam mais fluidos. "Demoramos um pouco mais no serviço, mas os clientes preferem esperar mais e sentirem-se seguros".
No dia em que se iniciou a terceira fase de desconfinamento devido a pandemia da covid-19, e duas semanas após a autorização da reabertura dos restaurantes, a cena repetiu-se nas várias mesas dos vários restaurantes do Bairro do Avillez, um dos espaços mais icónicos do chef José Avillez.
Nas primeiras horas de reabertura do restaurante os clientes não pararam de entrar, aos poucos. Conduzidos para as mesas ora separadas com 1,5 metros de distância ora com um papel de "não utilização", não se notam grandes diferenças no espaço em relação ao que ele era antes da covid-19. Mas houve mudanças.
As alterações veem-se logo na porta de entrada que agora conta com um pedal para ser aberta sem ser necessário tocar com as mãos. O sistema foi montado em todas as portas de passagem e nas casas de banho. Também as janelas do Bairro estão abertas para haver maior circulação de ar. Há frascos de desinfetante por todos as mesas, e todos o staff, desde a receção aos cozinheiros, usa máscara.
José Avillez que nas semanas de quarentena continuou ativo com a sua equipa a cozinhar mil refeições por semana para projetos de solidariedade social em conjunto com algumas entidades e a junta de freguesia de Santa Maria Maior (o que vai continuar a fazer até final de junho) diz estar confiante no futuro.
"As expectativas são altas mas com noção do que está a acontecer, do receio das pessoas e a ausência de estrangeiros. Mas estou muito contente com o que conseguimos reinventar neste espaço", explicou ao DN.
O Bairro do Avillez assimilou dois espaços que lhe eram externos: a Pizzaria Lisboa que estava noutra rua também no Chiado fica agora no primeiro andar e o Mini Bar (que estava no Teatro São Luiz, em Lisboa), no espaço antes ocupado pelo Beco - e que só irá reabrir no final de junho.
Também a carta do Bairro sofreu algumas mexidas."Fizemos algumas alterações para existirem novidades e tentamos, por causa da covid-19, fazer a simplificação de algumas preparações".
E com isso mexidas nos preços: "Afinamos os preços para baixo, no limite possível com a inserção de alguns pratos que têm um custo mais baixo. E com a introdução da pizzaria acabou por reduzir o preço médio do Bairro no geral".
O chef - que se prepara para abrir, a 1 de julho, o Belcanto, o seu restaurante com duas estrelas Michelin - espera que o governo de António Costa apresente mais medidas para o setor da restauração. "Em geral as medidas do governo têm sido positivas mas ainda faltam coisas. O tema das rendas foi dos grandes erros feitos, os senhorios passaram um pouco ao lado da crise, na perspetiva comercial, não de habitação. E ainda estamos à aguardar mais medidas, a redução da TSU, o possível prolongamento do lay-off, a redução do IVA . É uma calamidade mundial por isso não sei se o governo poderia ter feito muito mais, mas tenho muita esperança que existam mais medidas para o setor, senão alguns vão ficar pelo caminho.
No final da visita, à saída do Bairro do chef Avillez a azáfama e nervosismo inicial acalmava à medida que mais clientes entravam. Estrangeiros, casais, homens de negócios e até o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, acompanhado pelo seu ex-vereador do Urbanismo, Manuel Salgado. Afinal, diz-se que o exemplo deve vir de cima.
O Bairro do Avillez é composto por quatro restaurantes: Taberna, Pateo, Pizzaria Lisboa e Mini Bar (ainda por abrir).