A nossa Primavera Árabe

Publicado a
Atualizado a

Nas primeiras horas após o anúncio do brexit, ninguém deu a cara pelo que resta da UE, numa resposta política firme visando reafirmar e refundar a unidade europeia. O diretório não tinha plano B. Talvez por isso, o bizarro núcleo dos seis fundadores, numa retaliação insensata, quer obrigar Londres a formalizar rapidamente a sua saída, esquecendo que o artigo 50 termina com o apelo ao eventual regresso dos Estados pródigos. Por outro lado, os movimentos populistas que em França, na Holanda e na Itália pedem referendos, não para reformar a União Europeia mas para romper com ela, esquecem um pequeno detalhe: o Reino Unido tem a autonomia de uma moeda própria, enquanto Paris, Haia e Roma partilham o colete-de-forças do euro. A saída de um implica a implosão geral. Amanhã, na reabertura dos mercados, se verá até que ponto os grandes investidores, incluindo os bancos centrais por esse mundo fora, continuam a confiar na sustentabilidade do euro como segunda moeda de reserva mundial. Se o euro, e não só a libra, continuarem a tombar, isso significa que os mercados perderam confiança no projeto político que sustenta o euro, querendo por isso livrar-se das suas reservas de uma moeda que pode estar ferida de morte. Tudo se precipita com uma velocidade estonteante. De um lado a paralisia de quem manda sem aclamação geral nem visão global. Do outro, os demagogos e populistas querendo alcandorar-se ao leme de máquinas governamentais que, manifestamente, não compreendem. Já vimos, com a devida distância, este espetáculo de massas embriagadas por uma retórica de ilusões vazias, contra jugos autocráticos. Foi na rua árabe de 2011. E o resultado foi simplesmente desastroso.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt