A metamorfose republicana

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A Primeira Guerra Mundial manifestou uma das características marcantes do movimento republicano em Portugal: o entusiasmo pelo império colonial africano. A exaltação com a corrida para África tinha ficado bem patente, já em 1890, com a violenta reação da ativa minoria republicana à inevitável e sensata cedência de D. Carlos I ao Memorando da Rainha Vitória (conhecido por "Ultimato"), que nos colocava fora do Mapa Cor-de--Rosa. Muito antes de o nosso Corpo Expedicionário Português (CEP) começar a ser dizimado nos campos de batalha da Flandres, já alemães e portugueses lutavam em Angola e Moçambique. AI República pensou, contudo, que teria de pagar um imposto de sangue na Europa para que Portugal, depois de perdidas a Índia e o Brasil, pudesse manter o seu império em África.O que mudou pouco antes da Revolução de que nasceu a nossa III República, foi o colapso dentro dos republicanos, do anterior consenso sobre África. De um lado, Salazar, líder dos "velhos republicanos" conservadores e tendencialmente sidonistas, que seguiu com total intransigência as pisadas de 1890 e 1916, numa defesa incondicional do direito a manter um império colonial, como a democrática França o fez na Indochina e na Argélia, até a força das armas ter ditado a sua queda. Do outro lado, os "novos republicanos", que verberaram o colonialismoe a guerra em três frentes a que ele conduziu. Sem perceber esta rutura interna ao ideário do republicanismo português sobre o lugar de Portugal em África, não perceberemos nada, nem sobre a Primeira Guerra Mundialnem sobre o 25 de Abril de 74, e ainda menos sobre os gigantescos custos humanos e materiais da descolonização que se lhe seguiu.

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