Reler Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner Andresen através dos filmes - a frase poderia servir de subtítulo ao conjunto de obras que a Cinemateca Portuguesa apresenta ao longo do mês de setembro, revisitando memórias, ideias e emoções ligadas à obra dos dois escritores nascidos no ano de 1919 (nasceram, respetivamente, a 2 e a 6 de Novembro)..As duas partes do ciclo prolongam-se até final do mês, tendo como charneira o filme Correspondências (2016), de Rita Azevedo Gomes (dia 16, 18.00), elaborado a partir das cartas entre os dois, durante os anos de exílio de Sena (1957-1978)..Poderá dizer-se que a relação de Sena com o cinema é mais direta ou, pelo menos, mais explícita, no sentido em que o seu legado integra um volume considerável de textos críticos, aliás editados pela Cinemateca com o título Sobre Cinema (1988), sem esquecer, claro, a adaptação do seu fundamental romance Sinais de Fogo, realizada por Luís Filipe Rocha em 1995 (exibição dia 13, 19.00). Quanto à presença direta de Sophia no cinema, ficou modelarmente assinalada através daquela que foi a primeira curta-metragem de João César Monteiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, produzida em 1969 (dia 16, 21.30, em sessão que inclui também O Construtor de Anjos, de Noronha da Costa)..Seja como for, as escolhas da Cinemateca não se esgotam em qualquer lógica "biográfica", propondo antes a visão de títulos que, de alguma maneira, marcaram os dois escritores, porventura contaminando a sua visão do mundo. Daí que Charlie Chaplin, referência sempre emblemática para Sena, seja o primeiro autor a ser recordado, através de Luzes da Ribalta (1952), obra com subtis componentes autobiográficas (dia 2, 21.30; dia 3, 18.30). Daí também que haja um título fulcral de Ingmar Bergman, Saraband (2003), cineasta por quem Sophia nutria especial admiração (dia 19, 21.30)..Mais produções portuguesas na evocação de Sena e Sophia. Erros Meus (2000), de Jorge Cramez, curta-metragem adaptada de uma história de Sena (dia 4, 19.00; dia 13, 15.30), exibição conjunta com Trovadores Malditos (1942), de Marcel Carné;. O Escritor Prodigioso (2005), de Joana Pontes, e Sinais de Vida - Breve Sumário da Vida e da Obra de Jorge de Sena (1984), de Luís Filipe Rocha, ambos abordando a personalidade de Sena, o primeiro em registo documental, o segundo cruzando real e imaginário (dia 5, 18.30);. Os Salteadores (1993), de Abi Feijó, animação baseada no conto homónimo de Sena (dia 12, 19.00; dia 16, 15.30), exibição conjunta com Macbeth (1948), de Orson Welles;. A Viagem (1994), de Jorge Queiroga, adaptado do conto homónimo de Sophia (dia 25, 21.30; dia 27, 15.30), exibição conjunta com L'Atlantide (1932), de G. W. Pabst;. Mar (2018), de Margarida Gil, narrativa que refaz a rota dos descobridores portugueses no século XVI num veleiro chamado À Flor do Mar (dia 30, 19.00, derradeira sessão do ciclo)..A Menina do Mar em edição comemorativa na Festa do Livro no Palácio de Belém. A Menina do Mar foi o primeiro livro infantil de Sophia. Publicado em 1958, com sucessivas reedições, o livro volta a ser reeditado por ocasião do centenário do nascimento de Sophia de Mello Breyner Andresen e numa versão muito especial e limitada..Trata-se da sua leitura dramatizada feita em 1961 pela Valentim de Carvalho num formato inovador, encenada por Artur Ramos, com interpretações de Eunice Muñoz, Francisca Maria, António David e Luís Horta, e música de Fernando Lopes-Graça..A reedição deste livro/CD e DVD vai ser lançada na próxima semana mas hoje, na Festa do Livro no Palácio de Belém, será antecipada a sua apresentação numa cerimónia com o alto patrocínio da Presidência da República. Marcelo Rebelo de Sousa escreve no prefácio da obra o seguinte: "Diferentes leituras, diferentes gerações e diferentes métodos de revisitar um texto fundador, que está no mar com saudades da terra, na terra com saudades do mar. E que, por artes de fantasia, ou da poesia, faz do rapaz solitário e da menina órfã uma unidade anunciada, forte como um polvo, sábia como um caranguejo e feliz como um peixe.".A versão conta com uma nova capa e ilustrações de Beatriz Bagulho, a reedição em CD da leitura de 1961 e o DVD do espetáculo gravado ao vivo no São Luiz Teatro em fevereiro deste ano, criado por Carla Galvão, Filipe Raposo e Beatriz Bagulho, com música criada por Filipe Raposo a partir de música de Bernardo Sassetti.