A loucura de março que movimenta biliões de dólares

A fase final do campeonato universitário norte-americano vai começar e prolonga-se até abril. Mais do que um fenómeno desportivo, tornou-se uma febre devido à loucura das apostas que até chegaram à Casa Branca
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Em 2014, uma oferta do multimilionário Warren Buffett fez a América abrir a boca de espanto: um bilião de dólares (mil milhões, na escala numérica usada em Portugal) para quem acertasse em todos os resultados da fase final do campeonato universitário de basquetebol. Foi a manifestação máxima da loucura de março que atravessa anualmente os Estados Unidos de lés a lés por esta altura, durante quase três semanas, e que volta a manifestar-se a partir de hoje, com a definição das 68 universidades que vão competir pelo título.

Apesar da expressão March Madness ser bastante anterior - é creditada a Henry V. Porter, um professor e treinador da Athens High School, que primeiro terá usado a expressão em 1939, num artigo de jornal, para qualificar o entusiasmo em redor do torneio escolar no estado do Illinois -, foi com a crescente popularidade dessa espécie de totobolas (brackets é o termo original) do basquetebol universitário, a partir da década de 1980, que a loucura de março foi ganhando a dimensão que hoje tem. Atualmente, esta fase final do torneio NCAA é mais seguida até do que a NBA, pelos adeptos americanos, ao longo destas três semanas que se prolongam até inícios de abril: neste ano, a final joga-se no dia 3.

Mais do que um fenómeno desportivo, a March Madness é já um fenómeno cultural dos EUA, por culpa dessa febre de apostas que se espalha pelo país e que chegou até à Casa Branca, onde o anterior presidente, Barack Obama, divulgava anualmente as suas escolhas para os torneios masculino e feminino - dois desses boletins fazem agora parte do espólio do Museu Nacional de História America. Donald Trump, no entanto, já anunciou que não vai dar seguimento a essa tradição.

Segundo dados da Agência Americana do Jogo, no ano passado terão sido gastos quase nove mil milhões de euros em apostas associadas com os boletins da fase final do basquetebol universitário. E foram mais de 40 milhões os americanos que preencheram pelo menos um destes "totobolas" da NCAA. Ainda assim, a oferta de Buffett em 2014 teve pouco de arriscado: as probabilidades de que alguém consiga acertar em todos os 67 resultados do boletim são de uma em 9,2 triliões. Como é óbvio, ninguém acertou.

O magnata não repetiu essa oferta do bilião de dólares (950 milhões de euros), mas lançou outra, também generosa, exclusivamente para os seus empregados, e que mantém neste ano: um milhão de dólares (950 mil euros) anuais para toda a vida a quem acertar nas 16 equipas finais (Sweet 16). Aqui as probabilidades são um pouco mais simpáticas e, em 2014, por exemplo, 14 pessoas conseguiram-no entre os 11,5 milhões que entraram no concurso da ESPN (há várias ligas espalhadas por diversas empresas de media, além das privadas: em casa, no escritório, com amigos, etc...). Mesmo que nenhum dos 367 mil funcionários do conglomerado de 90 empresas abrigadas na casa mãe, Berkshire Hathaway, consiga chegar ao jackpot, Buffett premiará com cem mil dólares anuais (95 mil euros) vitalícios aquele/a que ficar mais perto da perfeição.

Selection Sunday

Esta loucura de março começa já hoje com o chamado Selection Sunday, o domingo em que um comité de dez especialistas seleciona as 36 equipas que se juntam aos 32 campeões de conferência, apurados automaticamente, de forma a completar o lote final de 68, através de um processo intrincado de análise que mistura análises estatísticas com meras comparações mais ou menos subjetivas (a "arte" da bracketology, como lhe chamam os americanos, é até tema de cursos universitários).

Depois disso, e de hierarquizadas as universidades em cabeças-de-série, a ação em campo começa com a First Four, terça e quarta-feira, uma espécie de pré--eliminatória entre as equipas com pior ranking (entre 61.º e 68.º) para eliminar quatro delas e definir então o puzzle de 64 equipas que vão jogar a primeira ronda, divididas em quatro regiões (South, West, East e Midwest) de 16 equipas cada, listadas de 1 a 16, da mais forte para a mais fraca, teoricamente. Daí para a frente, o esquema repete-se: eliminatórias de um jogo apenas até definir as quatro universidades que vão à Final Four, que neste ano tem lugar em Phoenix, no Arizona, entre os dias 1 e 3 de abril.

Cinderelas e futuras estrelas

Além do folclore dos "totobolas", a March Madness encerra vários outros motivos de interesse, como as tradicionais Cinderelas da competição, equipas pouco cotadas inicialmente que vão derrotando favoritos pelo caminho, ou a observação mais atenta aos talentos que se perspetivam para o próximo draft da NBA.

Neste ano, os principais nomes são os de Lonzo Ball, base da Universidade de UCLA, e Josh Jackson, base/extremo de Kansas. Tal como aconteceu com Ben Simmons no ano passado, haverá uma ausência de vulto: Markelle Fultz, base apontado à primeira posição do próximo draft da NBA, é vítima da fraca temporada da equipa da sua Universidade (Washington) e fica fora do torneio.

Quanto aos principais candidatos ao título, o favoritismo parece repartido entre as equipas de Duke, Kentucky, Kansas e Villanova, com esta última a tentar ser a primeira universidade a defender com sucesso o título desde os Florida Gaters (em 2006 e 2007).

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