Impecavelmente penteadas e maquilhadas, elas brilharam nos II Jogos Europeus de Minsk no passado fim de semana, não só pelas lantejoulas dos fatos mas pelas três medalhas conquistadas na ginástica acrobática em dois dias. Bárbara Sequeira, Francisca Maia e Francisca Sampaio Maia conquistaram duas pratas e um bronze. "Uma honra" para a ginástica portuguesa, que ainda luta por mais apoios e maior visibilidade e reconhecimento na opinião das medalhadas..A estudante de Psicologia que arrisca chumbar de ano por representar Portugal.Bárbara Sequeira é a mais velha das três. Começou no Ginásio Clube da Maia e juntou-se ao Acro Clube da Maia pouco depois da criação do clube em 2004. Tem 23 anos, é estudante de Psicologia da Universidade do Porto e está "muito feliz" e "realizada" pelas medalhas, apesar de haver "muitos sacrifícios" à mistura. "Eu e a Francisca Maia estamos a estudar na universidade e estamos em época de exames e tem sido difícil conciliar, mas são escolhas que nós fazemos", confessou ao DN a ginasta-estudante, que se arrisca a chumbar de ano: "Um professor não me deixou comparecer a exame por causa das faltas dadas, mesmo que a Federação as tenha justificado, e outra professora não me deixou ir à frequência porque os serviços académicos não aceitaram o facto de eu ser atleta ainda sem estatuto de alta competição.".No caso dela como esteve parada durante quatro anos o estatuto de alta competição ainda vai demorar algum tempo a chegar. Bárbara fez uma pausa depois de ser trimedalhada no campeonato da Europa de 2013, mas voltou quatro anos depois porque a ginástica é um desporto que a "faz feliz" e "é uma parte essencial "da vida dela..Além de estudar e praticar desporto trabalho num empresa de eventos para crianças. Costuma vestir a pele de Mini, Pato Donald e outros heróis da Disney para alegrar a criançada..A estudante de Medicina que treina quatro a cinco horas por dia.Treinam sempre em conjunto. Estão juntas há mais de um ano. Foram os treinadores delas que as resolveram juntar. Treinam todos os dias, exceto ao domingo, das cinco às nove da noite e aos sábados das 09.00 da manhã às 13.00. Criaram uma cumplicidade "difícil de vergar" e já sabem como cada uma vai reagir a determinado momento ou exercício sem terem de falar umas com as outras..Uma cumplicidade que começou no primeiro treino no Acro Clube da Maia, segundo Francisca Maia ou Chica como a tratam as colegas. Tal como Bárbara também ela começou no Ginásio Clube da Maia e só mais tarde se juntou ao Acro. Hoje com 20 anos a estudante de Medicina do terceiro ano da Universidade do Porto passou pelas mesmas dificuldades de Bárbara para conciliar aulas, exames, treinos e competição. Mas não por falta de tempo, já que ela "tem conseguido" conciliar isso tudo com as coisas que os jovens fazem habitualmente, "sair e estar com os amigos"..Mas com o bónus das medalhas. "Três medalhas em dois dias é algo fantástico. Nós fomos lá para fazer o melhor possível e foi para isso que estivemos a treinar, era isso que queríamos. Fomos as primeiras da ginástica acrobática a entrar em ação e isso criou alguma tensão por um lado, mas por outro deu-nos o efeito surpresa e de não termos ninguém como referência antes de nós", disse Chica ao DN explicando que a modalidade não é olímpica e por isso "não dá para pensar nisso"..E quando alguém se lesiona não tenta ser médica e deixa "para quem sabe". Adora viajar e por vezes "dá" para conciliar as provas com o turismo..O primeiro bebé do clube que sonha com os Jogos Olímpicos.Francisca Sampaio Maia, Kika, é a mais pequenina, e está sempre com um sorriso nos lábios. Tem 14 anos e passou para o décimo ano de escolaridade. Nasceu na altura da criação do Acro Clube da Maia no verão de 2004 e por isso o treinador chama-lhe "o primeiro bebé do Acro Clube da Maia". A ligação dela à ginástica foi imediata e passou grande parte da infância no ginásio, até porque o pai era um dos treinadores do clube. Começou com três anos e passou por todas as fases da formação até chegar à classe de elite onde está agora. "Sacrifícios sempre houve e haverá enquanto praticarmos este desporto, tanto físico como mental", disse ao DN após mais um treino de quase cinco horas..A ginasta espera que a receção à chegada ao Porto as faça cair na realidade: "Vai servir para abrirmos os olhos para o que conseguimos, porque ainda não caímos bem na realidade. São três títulos muito importantes e intensos na nossa carreira de ginastas e difícil de absorver." Apesar de ser a mais jovem já tem a "noção da importância de representar o país" em competições como esta dos jogos olímpicos europeus e sonha com o reconhecimento da ginástica acrobática pelo Comité Olímpico: "Acredito que vá acontecer e acredito que as nossas conquistas podem ajudar.".Treinador trata do físico e tem ajuda de coreógrafa nas coreografias.O treinador Lourenço França explicou ao DN que os bons resultados ajudam a superar tudo o que de menos bom acontece: "A falta de apoios e visibilidade é transversal a todas as modalidades amadoras, estamos um pouco aquém do que era desejável. Ainda estamos longe do equilíbrio entre esforço e visibilidade, ou seja, o esforço que elas fazem ser equiparado à visibilidade e apoio institucional.".Mas não é fácil vê-las passar por certas coisas. "Duas das nossas ginastas são estudantes universitárias e foi muito complicado conseguir uma preparação minimamente adequada para esta prova por causa dos exames delas e por causa de alguma intransigência de alguns professores em adiar exames. Um deles recusou-se a mudar um exame e ela arrisca-se a chumbar de ano porque optou por representar o país", denunciou o treinador..O papel dele é "prepará-las" bem fisicamente para as provas: "Treinamos cinco horas por dia para as preparar para os momentos das competições, para que naqueles 2,5 minutos, que é quanto dura cada exercício, elas o executem o melhor que conseguem." Sendo que no momento da competição não pode dar palpites como acontece no futebol. "Não posso gritar nem tenho descontos de tempo para pedir, é confiar nelas e assistir a toda uma preparação prévia dos três exercícios, um de equilíbrio, um dinâmico e um combinado", lembrou o técnico, que divide com a coreógrafa as responsabilidades da coreografia e escolha da sequência dos exercícios e dos seus elementos técnicos.