A estrela do râguebi italiano que agora transporta infetados para o hospital
Maxime Mbanda é uma estrela em Itália. Como jogador da seleção italiana de râguebi, está habituado a que olhem para ele como uma referência, mas não tanto como agora, depois de se voluntariar para ajudar no combate à pandemia, que só em Itália já ceifou quase 14 mil pessoas. Apesar dos esforços do pai (cirurgião) para ele seguir medicina ele optou por servir o país através do râguebi. Agora a missão é outra: ajudar a transportar doentes infetados com o coronavírus.
Com a competição suspensa por tempo indeterminado, Mbanda procurou saber como podia contribuir para a ajudar a comunidade italiana, mesmo sem ter habilitações médicas. "Estava em Parma, sem treino, sem jogos no fim de semana. E então perguntei-me: 'o que é que posso fazer pela minha comunidade aqui em Parma?' Resolvi pesquisar na internet e encontrei um artigo que falava sobre colaboração entre a Comunidade de Parma e a Cruz Amarela", revelou à CNN.
De máscara no rosto e fato de proteção completo, o jogador começou por fornecer alguns alimentos e medicamentos aos idosos em Parma, depois passou para o transporte de infetados: "Estava num serviço de transporte de alimentos e remédios a idosos. Depois, fui colocado na transferência de doentes que dão positivo de um hospital da região para outro. Ajudo com a maca, transporte de cadeiras de rodas ou oxigénio."
No dia 20 de março foi colocado como motorista de uma ambulância a trabalhar 12 horas por dia, a mover pacientes infetados com o covid-19 entre os três hospitais da região de Emília-Romanha, uma das zonas mais afetadas pela pandemia no país. "A ideia era transferir pacientes de um hospital e levá-los para um hospital gratuito. Mas, na verdade, é impossível dizer que uma cama de hospital é gratuita porque todas as vezes que uma cama é libertada, é logo preenchida por alguém que está na sala de espera, porque há uma longa fila", revelou Mbanda.
O internacional italiano de 26 anos devia ter jogado com a Inglaterra numa partida do torneio das Seis Nações que foi posteriormente cancelada devido ao coronavírus. Agora que está na linha da frente e lida diariamente com a triste e crua realidade, diz que, se as pessoas vissem o que ele vê nos hospitais, "pensavam duas, três ou quatro vezes antes de saírem de casa, até mesmo para correr".
Ele jamais imaginou passar por uma situação em que tem de combater um inimigo invisível. "Há um mês, nunca diria que ia estar nesta situação. É incrível. Na escola, estudei a Primeira Guerra Mundial, a Segunda Guerra Mundial, a guerra do Iraque, a Síria, a África, mas isso é em outro mundo, contra um inimigo invisível. É irreal", revelou, antes de contar que os pais criaram-no "para ajudar as pessoas".
Quando pode, treina, apesar da época já ter sido cancelada: "Antes de ir para a Cruz Amarela ou no final da noite, quando volto, tenho que treinar. Faço burpees, pull-ups, chin-ups, quase um circuito CrossFit. Tenho que treinar para me manter em forma, porque espero que, o quanto antes, possamos voltar ao campo para jogar râguebi."
Mbanda pede ainda aos italianos que obedeçam às orientações do governo e apela aos jovens saudáveis que ajudem. "Para jovens que moram sozinhos, sem filhos ou sem parentes idosos, se estão aborrecidos em casa e a única coisa que estão a fazer é reclamar nas redes sociais, tentem pesquisar na internet ou façam uma videochamada de 30 minutos para uma pessoa idosa que está sozinha em casa. Há pessoas que precisam de voluntários, pessoas que precisam de ajuda e, neste período, temos que ficar juntos, fazer algo para ajudar os idosos", aconselhou, revelando que muitos dos doentes que transporta não falam, mas reagem com os olhos aos alarmes, os médicos e enfermeiras a correr de uma ala para a outra.