A estreia de Omara Portuondo em Sines marcou o último dia do FMM
O relógio marcava as 21.00 horas, quando Ava Rocha, ou Ava Patrya Yndia Yracema Gaitán Rocha, subiu ao palco do Castelo de Sines para abrir a última noite de concertos, seguida do concerto da tarde do músico português Pedro Mafama. Ao pôr-do-sol e com recinto ainda por encher, a cantora brasileira chegou com um chapéu de plástico e um fato às cores.
"Sines! É prazer gigante estar aqui", disse ao público. Ava explicou também aos presentes que este era o seu segundo concerto pós-pandémico e que aos poucos a vida está a voltar ao normal.
O público era inicialmente acanhado, mas algumas músicas depois, já se encontravam aos gritos e a dançar ao som da artista. Começou por tirar o chapéu e depois o casaco de forma sensual durante a atuação de "Você não vai passar". Tocou a música "Mar fundo", onde colocou um género de uma máscara feita com facas de cozinha, o conceito do seu disco "Ava Patrya Yndia Yracema" de 2015. Esta máscara é um adereço que a artista tem levado para os seus concertos.
Na música "Joana Darc", a cantora deitou-se, rebolou e rastejou no chão do palco, tornando a atuação mais intensa e contemporânea. Durante a sua atuação, deu ao público as músicas "Lilith", "Trança" ou "Manjar do Oriente". Para acompanhar a cantora, encontravam-se em palco músicos a tocar guitarra, percussão, bateria, baixo e teclado.
"Festival maravilhoso, pessoas maravilhosas. Foi uma grande noite obrigada" agradeceu a cantora brasileira no final.
Com 90 anos, Omara Portuondo ficou sentada numa cadeira de verga em palco. Sines recebeu a cantora pela primeira e última vez, sendo esta A última digressão de despedida dos palcos. Com a sua imagem projetada, o ícone entrou depois de uma pequena introdução feita por Yadasny José Porrtillo, pianista e diretor artístico. Sem dizer uma única palavra acenou à multidão e recebeu com uma onda de aplausos.
A segunda música rebentou com o castelo. Em coro todos repetiram o refrão "Quizas, Quizas, Quizas." De poucas palavras, a cubana apenas agradeceu uma vez ao público, ficando sempre a cantar.
Pouco antes do final, Yadasny apresentou todos os membros da banda ao vivo. "A voz, a incrível Omara." Todos aplaudiram e gritaram no recinto.
Num momento mais emocionante, a embaixadora de Cuba em Portugal Yusmari Diaz Pérez e o presidente da Câmara de Sines Pedro Mascarenha, subiram ao palco no final da atuação da cantora. "A diva de todos cubanos, um dos maiores símbolos da cultura cubana. És a representação da nossa noção. Por isso, decidimos dar-te hoje flores com as cores da bandeira cubana", referiu a embaixadora, recebendo dezenas de aplausos do público.
Omara levantou-se com as flores na mão com ajuda sorrindo para o público.
Diretamente de França para Portugal, o projeto Ladaniva, igual ao nome do jipe russo, trouxe consigo folclore arménio, sons dos Balcãs e reggae jamaicano. Com a maioria das músicas em francês, o público não sabia as letras, mas não deixou de mostrar entusiasmo e apoio durante a atuação. A barreira linguística não foi um problema.
"Sines are you great?", perguntou Jacqueline, a vocalista do grupo, mas o microfone não colaborou, deixando de funcionar. Mas o problema demorou pouco tempo. "Viemos de França e estamos muito felizes de estar aqui."
Com duas tranças e vestidos, parecia uma boneca em palco. Até os seus movimentos e dança remetiam para essa ideia. A vocalista sentava-se no chão do palco, sentido a música, cada vez que um membro grupo tinha um solo instrumental.
Na plateia todos imitavam os pedidos da vocalista. "Quero ver as vossas mãos para cima." E todos colocaram. Assim como todos saltaram e gritaram quando lhes foi pedido.
Tocaram também música tradicional da Green Island, ilha australiana. E uma canção sobre amor.
Seun Kuti voltou a atuar no Festival Músicas Mundo depois do seu último concerto na região em 2006. Desta vez chegou com o seu novo grupo Egypt 80 para fechar o programa do Castelo.
Num concerto único, começou com fogo de artifício de todas as cores, que pretendia fechar mais uma edição do evento. "O que se passa, Portugal? Feliz por estar aqui esta noite. Isto é Kalakuta show", introduziu o vocalista.
A atuação foi acompanhada por danças de origem africana representadas pela Sherafum Ayomide. Os ritmos africanos fizeram-se soar pelas paredes do castelo. Com uma forte componente instrumental, o palco recebeu a presença de Debosaxxy Adewunmi no saxofone barítono, Dime Dime Abayomi e Aknote Adio nas guitarras, Bature Niran na bateria, Alhaji no shekere (instrumento de percussão típico africano), Campari no baixo e Inspiration Adedoyin no trompete.
"Obrigada! Eu não tenho muito tempo e desculpem o meu português não é muito bom.", disse.
Sempre com uma mensagem política e social nas suas músicas. Seun Kuti pediu à plateia para ver o amor como uma revolução. "Duas pessoas decidem estar juntas e tornaram-se na melhor versão delas mesmas. Esta música não fala sobre romance mas sim que juntos conseguimos ser melhores. Amor é a revolução", atirou. Com muito entusiasmo da multidão, tocaram "Love & Revolution".
Seguiram-se os concertos no Palco Galp, com o grupo Re:imaginar Monte Cara composto por portugueses e cabo-verdianos, seguido pelo trio Guiss Guiss Bou Bess do Senegal e de França e, por último, o dj set Batida e o Dj Dolores.