"A escola fechou os olhos a situações óbvias"
Depois de no ano passado ter estado em destaque pela negativa, por ter sido o principal foco do movimento de contestação "Chega de matrículas falsas", o agrupamento de escolas D. Filipa de Lencastre, no centro de Lisboa, está este ano a gerir os novos ingressos com muito maiores cautelas. "Tenho ouvido dizer que houve algumas situações anómalas que levaram também a um maior rigor por parte do Filipa", conta ao DN Marta Valente, uma das autoras da petição que, no ano passado, chegou à Assembleia da República e ditou mudanças nas regras. "Mas não tenho nenhuma garantia", ressalva
Apesar da satisfação de ter visto a contestação em que participou ter ditado mudanças, Marta Valente não se conforma com o facto de o Ministério da Educação não ter ido tão longe como os peticionários propunham. Manteve-se, por exemplo, a prioridade na continuidade aos alunos que já estão nos agrupamentos, bem como aos seus irmãos. O que no caso concreto dos alunos que entraram indevidamente, diz Marta Valente, eterniza a injustiça e bloqueia entradas a estudantes que teriam direito a frequentar o agrupamento.
Sentimento de injustiça
"Quem entrou na pré-primária do ano passado, e foram 38% que supostamente entraram com falsos encarregados de educação, tem o seu lugar garantido", conta, dando o próprio exemplo para explicar o sentimento de injustiça. "Apesar de ser moradora, a minha filha no ano passado não entrou no pré-escolar. E neste ano ainda não sei se entrará no 1.º ciclo. Decidi matriculá-la no agrupamento, até por uma questão de princípio", conta.
De acordo com dados relativos ao Agrupamento de Escolas Filipa de Lencastre, divulgados recentemente no âmbito de um inquérito feito pela Inspeção-Geral da Educação e da Ciência, 38% dos novos alunos do pré-escolar, 40% do 1.º ano e 35% do 5.º ano que entraram no ano passado não tinham os pais como encarregados de educação. Um número que, para Marta Valente, indicia uma prática instalada à qual a epedorscola devia ter dado resposta mais cedo: "A escola, nestes anos todos, andou a fechar os olhos a situações óbvias", critica.