A escola dos EUA onde se aprende a ser Pai Natal

Ter a responsabilidade de distribuir prendas e fazer felizes todas as crianças do mundo é um ofício com direito a curso
Publicado a
Atualizado a

Randy Schneider considera-se um pai natal profissional desde 1999, quando entrou numa loja para comprar uma barba branca e umas botas castanhas. Agora, com 66 anos, Schneider tem uma barba branca própria e frequenta a Escola Charles W. Howard para Pais Natais em Midland, no estado americano do Michigan. Com ele estão mais 200 pais natais e mães natais vindos dos EUA, Canadá, Dinamarca e Noruega para aprender como se fazem brinquedos de madeira, como melhor se podem contar histórias, guiar trenós, alimentar renas e, o mais importante de tudo, como se deve espalhar o espírito do Natal.

Há sempre bolinhos disponíveis durante os três dias deste curso de formação de pais natais naquela que "é a Harvard de todas as escolas de pais natais", afirma Schneider, um operador de guindastes na reforma. A escola foi fundada em 1937 e transformada em entidade sem fins lucrativos em 1987 por Tom e Holly Valent, os diretores. "É um privilégio ser Pai Natal", afirma Tom, sentado numa cadeira alta de madeira que ostenta a inscrição "Pai Natal" e está forrada a verde.

"Cada criança que chega ao pé e se senta no joelho do Pai Natal vai lembrar isso para sempre. E se estamos a criar uma memória duradoura na mente de uma criança, queremos ter a certeza de que é uma boa memória", afirma Tom. Ele e Holly referem que já tiveram de recusar inscrições de mais de cem pais natais, tal é o número de pessoas que manifestam interesse em frequentar o curso.

Um mar de automóveis vermelhos, muitos deles com placas de matrícula personalizadas, mostra que a escola está cheia. Um automóvel com uma matrícula da Geórgia proclama "UBGOOD" (transcrição fonética de "You be good" - "Porta-te bem") está estacionado ao lado de um outro com uma matrícula do Tennessee onde se lê "HOHO" (riso típico do Pai Natal). E ao lado deste um outro veículo, com matrícula da Califórnia, indica "IMCLAUS" ("Sou o Pai Natal").

Na escola dizem-nos que 2016 foi um ano recorde para inscrições de mães natais. "Não há melhor sítio do que este para encontrar marido", diz a brincar uma Senhora Natal, Kathy Armstrong, que encontrou o seu pai natal ainda na universidade depois de lhe oferecer uma camisola nesta época do ano tricotada por si. Estão casados há 44 anos. Eram fisioterapeutas até há dois anos, quando se reformaram. Foi quando surgiu a ideia de frequentar esta escola. "A Kathy colecionou sempre pais natais e eu sempre tive barba", explica Bill, que acrescenta terem decidido que "isto é algo que ambos queríamos fazer".

A camisola que Kathy ofereceu a Bill simboliza o amor de ambos pelo Natal. "Tinha uma rena à frente", recorda Kathy que afirma, com orgulho, ter sido ela a costurar o fato de Pai Natal que o marido usa. "E ainda me serve passados tantos anos", remata Bill.

Ao longo dos três dias, Kathy e Bill simularam posições divertidas de yoga, praticaram técnicas de respiração e aprenderam novas canções de Natal. O professor de expressão corporal fê-los dançar como se estivessem a embrulhar presentes, confecionar bolos ou a colocar presentes em meias altas ao som de clássicos da época como Jingle Bells e Santa Claus Is Comin" to Town, em conjunto com os restantes alunos.

"Até aprendemos linguagem gestual", afirma Bill, há muito membro da Irmandade Internacional dos Pais Natais de Barba Verdadeira (IBRBS, na sigla original em inglês). "É muito importante estarmos em condições de sabermos levar a alegria do Natal a todas as crianças", diz.

Truques para manter o estilo

Numa sala de maquilhagem, o pai natal Leon McBryde, um ex-palhaço profissional, ensina outros pais natais os segredos desta arte: como encaracolar bigodes, como aplicar blush nas bochechas e como obter o tom certo de rosa ou ainda como manter a barba branca e aparada tal e qual um pai natal a deve ter. "Para mim, o mais difícil é mesmo manter o cabelo branco", diz Schneider com um riso.

Numa das tardes alguns pais natais vestiram-se a preceito e foram até à loja Toys"R"Us local. O pai natal Fred Osther, de 80 anos, que viajou de Oslo para o curso deste ano, parecia um gnomo norueguês com o seu chapéu vermelho e pontiagudo enquanto ia comprando brinquedos na secção infantil. Um pouco mais adiante na loja, Claire, uma rapariga de 5 anos, cruza-se com o pai natal Barry Westmoreland, puxa-lhe ligeiramente pela barba e exclama: "Tu existes mesmo!"

Jornalista da Reuters, no Michigan

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt