A "Escola do Futuro" da programação não tem aulas, nem professores
Esta é a escola do futuro, na área do futuro". É assim que Pedro Santa Clara, diretor do projeto 42 em Portugal descreve a nova escola de programação 42 Porto, que abre portas a 14 de julho no coração da cidade, perto da Avenida dos Aliados. Dois anos depois do sucesso do campus da 42 Lisboa, em julho de 2020, a 42 Porto é agora a grande aposta deste projeto que promete ser uma disrupção do sistema de ensino tradicional, com um modelo inclusivo e inovador sem aulas, sem horários, sem professores e 100% gratuito.
"Esta escola diferencia-se por usar a tecnologia para implementar uma melhor pedagogia", conta Pedro Santa Clara ao DN. O segundo polo da 42, que chega agora à cidade do Porto, promete aumentar a oferta curricular e a empregabilidade na área da programação, que "certamente será vantajosa no futuro".
"Justifica-se abrir uma escola no Porto para poder oferecer esta área de estudos à população norte do país e também porque existem empresas tecnológicas no Porto interessadas, que nos desafiaram a abrir este segundo campus", explica. Segundo o diretor, "há uma enorme necessidade de recrutar talento nesta área".
Na 42 aprende-se de forma diferente, sem serem necessárias as principais componentes do ensino tradicional. Desde o primeiro dia que a aprendizagem é extremamente prática e os alunos desenvolvem projetos num plano de estudos semelhante a um jogo: ganham pontos conforme progridem no programa. Através da obtenção de pontos sobem de nível e desbloqueiam novos projetos, até concluírem o programa com o nível 21 e dois estágios.
Assim sendo, não existem aulas com hora marcada e cada aluno tem a liberdade de determinar o seu próprio percurso curricular, não havendo um período definido para concluir os estudos. "Cada um aprende ao seu ritmo" é o mote. Aliás, a escola está aberta 24 horas por dia durante todo o ano para que os alunos a frequentem sempre que necessitarem.
"O que a 42 fez nos últimos anos foi desenvolver uma plataforma de aprendizagem que leva os alunos através de uma sucessão de desafios. Depois cabe-lhes por si e trabalhando uns com os outros, aprender tudo o que é necessário para solucionar esses desafios. Não havendo aulas os alunos estão fisicamente presentes na escola, portanto temos um espaço de trabalho para os alunos desenvolverem os seus projetos", informa o diretor.
Como consequência de não existirem aulas, também não existem professores na 42. Pedro Santa Clara diz que "não temos professores, mas sim uma grande equipa pedagógica que está continuamente a aperfeiçoar a plataforma de aprendizagem". "De certa forma, em vez de termos professores a dar aulas, temos professores que são designers da experiência de aprendizagem", sublinha.
Logo, a escola de programação funciona segundo um modelo peer-to-peer, que privilegia a aprendizagem entre os alunos, que ensinam e avaliam-se mutuamente, em vez de uma típica relação aluno-professor.
Qualquer pessoa pode candidatar-se para integrar a 42 Porto, desde que tenha mais de 17 anos e não existe limite máximo de idade. No entanto, até se saber quem é admitido, existe um programa de seleção elaborado. "Todo o processo de candidatura passa por uma inscrição no site, depois uma série de testes online com jogos de lógica e, tendo passado nestas etapas, os alunos vêm fazer a "piscine" - um bootcamp de quatro semanas muito intenso. No fim, os alunos que passarem no bootcamp entram no programa", esclarece Pedro.
Também não é necessária experiência prévia nem conhecimentos base de programação para se poder fazer parte da 42. Segundo o diretor, "mais de metade dos alunos nunca tinha programado na vida" antes de frequentar a escola.
Aprender na 42 Porto é totalmente gratuito graças ao apoio de vários mecenas que financiam e incentivam este modelo de educação tecnológico. Critical Tech Works, Salt Pay, João Nuno Macedo Silva, Vicaima, BA Glass, Sodecia, Ecosteel, Sonae, Sogrape, Prozis e Amorim são alguns dos nomes e empresas parceiras do projeto.
Para Pedro Santa Clara, o futuro das empresas na maioria das áreas está nas tecnologias, uma vez que "hoje em dia uma grande parte dos negócios são digitais". Contudo, acredita que "Portugal tem falta de programadores avançados e essa falta é um estrangulamento grave ao crescimento da economia portuguesa. Muito investimento internacional viria para Portugal se houvesse mais gente disponível para trabalhar nesta área".
Assim, esta nova escola que assegura 100% de empregabilidade aponta para o desenvolvimento da área da programação no país, formando portugueses para os maiores desafios do mundo da informática.
ines.dias@dn.pt