A dúbia posição portuguesa
A posição da diplomacia portuguesa face à crise diplomática entre a Grã--Bretanha e a Rússia é demasiadamente dúbia e requer explicação clara e urgente. 25 países, entre eles a maioria dos membros da UE, decidiram expulsar cerca de 140 diplomatas russos, em sinal de solidariedade com a Grã-Bretanha, cujas autoridades apontam o dedo ao Kremlin, e pessoalmente ao presidente Putin, acusando-o de estar por detrás da tentativa de envenenamento do ex-espião russo Sergei Skripal e da sua filha. Acusações deste tipo só devem ser feitas quando existem provas de que o crime foi obra de agentes russos, pois, caso contrário, e principalmente depois da trafulhice informativa em torno do Iraque em 2003, que terminou com a invasão do país, o Reino Unido e os países que o apoiam serão alvo de descrédito e chacota. Putin certamente agradeceria. Nesta situação, é muito estranha a posição da diplomacia portuguesa, tanto mais quando o Ministério dos Negócios Estrangeiros afirma que "Portugal acredita que a concertação no quadro da União Europeia é o instrumento mais eficaz para responder à gravidade da situação presente". Onde está a "concertação"? Será que o dinheiro fala mais alto? No caso de Malta, Liechtenstein ou Chipre pode até "compreender-se" a razão que os levou a não se juntarem ao Reino Unido, visto que aí são branqueados capitais russos de origem duvidosa. Mas as relações económicas e financeiras entre Portugal e a Rússia não são assim tão volumosas que justifiquem a posição da nossa diplomacia. Será que o MNE português está mais bem informado do que os seus parceiros? Se assim é, poderia ter tomado uma posição semelhante à da Eslováquia, cujo primeiro-ministro, Peter Pellegrini, afirmou: "Não nos vamos deixar levar apenas por suposições de que a Rússia está por detrás do ataque", acrescentando que não existem "provas reais".
Jornalista e historiador