A Crimeia está sob ataque militar ou psicológico?

A "fortaleza" está sob ataque. E mais preocupante do que o efeito "militar" para os russos é o "efeito psicológico": a necessidade de admitir que há ataques com "drones suicidas" e o ter de pedir "calma" aos habitantes e aos turistas russos que estão na Crimeia.
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O que era normal, afirma James Waterhouse, correspondente da BBC na Ucrânia, deixou de o ser. O ataque, ainda que sem consequências pelo que é relatado (o drone caiu no telhado e incendiou-se), à sede da Base Naval da frota russa do Mar Negro em Sevastopol, e todos os outros relatados incluindo um numa base aérea, mostram que "nem tudo está bem na fortaleza da Crimeia".

Serguei Aksyonov, líder da Crimeia nomeado por Moscovo, confirmou que os sistemas de defesa aérea estavam a "operar" e Mikhail Razvozhayev, chefe regional, reconheceu publicamente num post no Telegram que um drone ucraniano atingiu o "QG da frota. Caiu no telhado e incendiou-se". E agradeceu aos militares da defesa aérea: "Bom trabalho, rapazes".

"Surpreendente", considera outro dos analistas da BBC, porque a Crimeia é uma das "áreas mais fortemente defendida de ataques aéreos" e ainda porque no início do ano foram deslocados para a região unidades de mísseis S-400, equipamentos dos mais avançados do mundo, precisamente para garantir a defesa aérea.

O ataque de ontem à Base Naval da frota russa do Mar Negro surge no meio de uma série de explosões e ataques contra infraestruturas militares russas na Crimeia, península ucraniana anexada por Moscovo em 2014.

Na quinta-feira à noite, as forças russas abateram um drone perto de um aeródromo militar em Sevastopol.

Na terça-feira, ocorreram explosões numa base militar e num depósito de munições na Crimeia, que a Rússia descreveu como um ato de sabotagem.

No início do mês, uma explosão de munições destinadas à aviação militar perto do aeródromo militar Saki, na Crimeia, provocou um morto e vários feridos.

A 31 de julho, um ataque idêntico provocou cinco feridos e levou ao cancelamento das cerimónias do Dia da Frota Russa, celebrado nesse dia.

E o que muda com tudo isto? Quase nada consideram os serviços britânicos. Mesmo com "as crescente explosões atrás da linhas russas" que estão "provavelmente a preocupar a logística russa e as bases aéreas do Sul" as "alterações são mínimas no controlo de território na linha da frente".

O caso Zaporijia poucas alterações registou nas últimas horas: Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia, associou-se a António Guterres condenando as ações russas na central nuclear e reforçou o pedido para a retirada militar naquela região; a Rússia alertou, em carta, a ONU para o que diz serem as "provocações" ucranianas na central nuclear e acusou as tropas da Ucrânia de terem usado, em julho, armas químicas num ataque precisamente naquela área.

A Agência Internacional de Energia Atómica teme um acidente nuclear com consequências imprevisíveis na maior central nuclear da Europa que está sob controlo das forças russas, embora os funcionários ucranianos se mantenham no local.

Ambas as partes, ​​​​​​​russos e ucranianos, acusam-se mutuamente de ataques que podem provocar um desastre nuclear.

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