"Na realidade, a Cornucópia já acabou" dizem os diretores

Luís Miguel Cintra e Cristina Reis esclareceram nesta segunda-feira que o fim da companhia já não estava dependente do estatuto de exceção proposto por Marcelo no sábado e entretanto recusado pelo ministro da Cultura
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Luís Miguel Cintra e Cristina Reis, os diretores do Teatro da Cornucópia que recentemente anunciaram o seu fim, por falta de verbas para continuar após 43 anos de atividade, escreveram nesta segunda-feira um comunicado para esclarecer "a lamentável confusão gerada nos órgãos de comunicação social pela inesperada visita" de Marcelo Rebelo de Sousa à instituição no passado sábado, dia do último espetáculo da companhia.

O Presidente da República propôs então a criação de um estatuto de exceção para o Teatro da Cornucópia. Perante tal repto, Cintra afirmou: "Não sou eu que tenho de voltar atrás, quem tem de voltar atrás é o ministério da Cultura". O ministro Luís Filipe Castro Mendes acabaria por cancelar os seus compromissos desse dia e também ele passou pelo Teatro da Cornucópia, onde esteve reunido com a direção.

Nesta manhã, no Fórum TSF, o ministro da Cultura fez saber que não vai ser criado qualquer estatuto de exceção para a companhia de Luís Miguel Cintra e de Cristina Reis: "Não nos parece que em termos jurídicos e de direito seja uma boa ideia." Acrescentando que se irá reunir com a direção da companhia, Luís Filipe Castro Mendes disse ainda ter sido surpreendido pela disposição da companhia em voltar atrás na decisão anunciada de fechar portas. Disposição essa agora negada em comunicado pela direção da Cornucópia.

"Surgiu o equívoco de que poderíamos mudar de opinião. O que levou o Senhor Ministro da Cultura, também presente, a admitir que o tivéssemos feito. E parece não se ter restabelecido a única versão correcta que existe, porque infelizmente a dúvida já não se põe: o Teatro da Cornucópia acaba no princípio do ano, na realidade já acabou", lê-se no comunicado que, quase no fim, é de novo perentório: "Não se tratará, portanto, agora de um estatuto de excepção, porque somos provavelmente excepção. A empresa dissolve-se nos próximos dias, dependendo apenas de procedimentos legais que terá de cumprir."

A decisão do fim da companhia não foi tomada "de repente", afirmou Luís Miguel Cintra ao DN na sexta-feira, diz em que esta foi conhecida, mas veio na sequência dos sucessivos cortes nos subsídios - "que já eram insuficientes" e que asseguravam o funcionamento da companhia, disse o ator, encenador e codiretor da companhia. No sábado, o lançamento do segundo volume do livro Teatro da Cornucópia - Espetáculos de 2002 a 2016 e um recital com poemas do francês Guillaume Apollinaire, com encenação de Luís Miguel Cintra e direção do maestro João Paulo Santos, marcaram o fim da Cornucópia.

Outra questão que Cintra e Reis abordam no comunicado é a do Teatro do Bairro Alto, sede onde a companhia trabalhava desde 1975, questão já levantada à tutela da Cultura e à Câmara Municipal de Lisboa. "Exprimindo um desejo de que pudesse ser aproveitado para fins culturais, não deixando que esse património viesse a constituir somente um valor capaz de colmatar indemnizações aos trabalhadores, a única dívida que a empresa que se extingue não tem porventura capacidade de resolver. Entendemos que de momento a intenção do Ministério é a de assegurar um ano de renda [o edifício é alugado a privados e a renda paga pela tutela da Cultura] no sentido de se proceder a um inventário rigoroso do património."

A companhia não avança, contudo, qual é o valor da dívida que o Teatro da Cornucópia diz não ter "por ventura" capacidade para resolver, relativa à indemnização dos seus "13 a 14" trabalhadores - entre técnicos e administrativos.

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