A Consciencia e o Romance

Ensaio
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Crê-se, por via da maior parte dos seus títulos já editados em língua portuguesa, que Lodge é um bem humorado que escreve Um Almoço Nunca É de Graça mas ignora-se que é o sisudo que redigiu After Bakhtin (1990) que trata da polifonia e da dialógica no romance. Aliás, esse volte-face na sua personalidade pode ser facilmente encontrado em David Lodge quando se o entrevista e se descobre que não é o interlocutor esperado e, decididamente, incapaz de pôr em livro um humor que no dia-a-dia parece inexistir em si.

Este A Consciência e o Romance foi publicado originalmente em 2002 e é uma das suas obras que reflecte sobre a literatura. São onze textos avulsos e reunidos como capítulos de um livro que não perdem a sua função nem se repetem tanto assim como o autor alerta no prefácio. David Lodge trata de vários criadores contemporâneos, uns mais conhecidos como é o caso do actual ultra-mediático Philip Roth mas, ao mesmo tempo, reflecte sobre autores do início do século XX como é o caso de Evelyn Waugh e E.M. Forster, do meio desse século , Kingsley Amis e o filho Martin, e regride até Kierkegaard e Dickens. Ou seja, a ementa é farta e serve aos propósitos de quem busca encontrar a importância da consciência na construção do romance.

Não se vão aqui descobrir as teses que o primeiro capítulo expõe como aperitivo para ler sofregamente todo o resto mas vale a pena repescar que as questões da alma versus consciência estão bem expostas e sintetizadas neste início do livro, curiosamente com a recuperação dos escritos do cientista português António Damásio postos em O Sentimento de Si e que tratam da capacidade do homem de interagir com o mundo e de extrair argumento para contar histórias, que resultam da existência de uma consciência antes apelidada alma e que nos torna diferentes dos outros animais.

Em seguida, Lodge parte destas abstracções que ainda incluem passagens sobre as obras de Francis Crick ou Daniel Dennet, por exemplo, e vai cotejar os autores atrás referidos para provar as suas hipóteses inscritas no primeiro e maior capítulo deste volume. Um ensaio que reúne géneros como a biografia, a história como contextualização e a crítica literária como contraponto e que não se deve mesmo perder neste início de 2009.

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