A aventura dos cinco na corrida ao Eliseu

Há 11 candidatos na primeira volta das presidenciais francesas, mas é entre cinco nomes que a escolha dos franceses se faz. Quase 30% admitem abster-se, segundo as últimas sondagens, podendo haver um recorde de não votantes. Emmanuel Macron surge como favorito, seguido de Marine Le Pen, o terceiro lugar é disputado por François Fillon e Jean-Luc Mélenchon, sendo a quinta posição de Benoît Hamon. Os dois primeiros vão à segunda volta. A 7 de maio
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Emmanuel Macron - O reformista que precisa de convencer

Apesar de a sociedade francesa ser por vezes avessa a grandes mudanças, Emmanuel Macron procurou contrariar os críticos ao apresentar um plano económico em que propõe cortes de 60 mil milhões de euros na despesa, nomeadamente na área da saúde e dos subsídios de desemprego, bem como um plano de investimento de 50 mil milhões de euros a cinco anos. Além disso, o candidato do En Marche!, movimento independente criado há apenas um ano, indicou ainda que se chegasse ao poder eliminaria 120 mil empregos da função pública não substituindo quem sai. Com 39 anos, o ex-ministro da Economia de François Hollande tem ainda de se desfazer do título de novato, mostrando como e com quem iria governar caso ganhe a corrida ao Eliseu. No que toca ao terrorismo, Macron promete apostar no trabalho dos serviços de informações, reforçar a polícia, facilitar o acesso a dados como forma de prevenir ataques, criar uma verdadeira cooperação europeia em matéria de segurança e de troca de informações. Sobre a UE, também, defende uma verdadeira governação económica europeia e um orçamento para a zona euro.

Marine Le Pen - A nacionalista que quer tirar a França da UE

Filha do líder histórico da Frente Nacional Jean-Marie Le Pen, Marine Le Pen tenta capitalizar o apoio dos nacionalistas, xenófobos, racistas e eurocéticos convictos, juntamente com o apoio de todos os franceses descontentes com a evolução do processo de construção europeu e a consequente cedência de soberania, nas mais variadas áreas, à União Europeia. Candidata anti-imigração, antieuro, anti-Schengen, Le Pen, de 48 anos, promete um referendo sobre a saída do euro e da UE. Para ela, que apesar de tudo é deputada no Parlamento Europeu desde 2004, recuperar a soberania monetária e orçamental do país é a grande prioridade. Entre as 144 propostas do seu programa estão medidas como um limite anual de 10 mil imigrantes a poder entrar em França, bem como uma taxa extraordinária para quem for trabalhador de origem estrangeira. No campo da luta contra o terrorismo, Marine Le Pen propõe, entre outras coisas, retirar a nacionalidade francesa ou expulsar e proibir o regresso ao país de todos quantos sejam suspeitos de ligação ao extremismo islâmico.

François Fillon - O político que tenta renascer dos escândalos

Ex-primeiro-ministro de França entre 2007 e 2012, François Fillon viu a sua candidatura subitamente abalada pelas revelações de que tinha pago à mulher e aos filhos perto de um milhão de euros de dinheiro dos contribuintes em funções que nunca chegaram propriamente a desempenhar. Atualmente na terceira posição nas sondagens, alternando com Jean-Luc Mélenchon, o candidato do partido de direita Os Republicanos (antiga UMP) tem, tal como Emmanuel Macron, uma agenda reformista. As suas ideias passam pelo aumento da idade da reforma, o aumento do IVA para 22%, ou o fim das 35 horas de trabalho semanais para a função pública. Esta última uma medida introduzida no tempo do socialista Lionel Jospin. Apelidado por alguns de Thatcher francês (por comparação com a ex-primeira-ministra britânica), considerado como um admirador do presidente russo, Vladimir Putin, defende o reforço do controlo de fronteiras da União Europeia, o encerramento de locais de culto extremistas e a expulsão do território francês de estrangeiros com ligações a redes terroristas.

Jean-Luc Mélenchon - O insubmisso que Le Pen compara a Tsipras

Candidato da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, de 65 anos, tem causado surpresa por oscilar entre o terceiro e o quarto lugar nas sondagens, alternando com François Fillon e ficando à frente de Benoît Hamon, o candidato oficial do Partido Socialista do presidente cessante François Hollande. Crítico da UE, tal como Le Pen, o candidato da aliança França Insubmissa defende o abandono das regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento que regulam o euro e uma refundação da política agrícola. Considera que os atuais tratados europeus retiram liberdade de ação aos países e propõe uma defesa independente, nacional e popular por contraponto a uma Europa da defesa. Durante a campanha foi duramente criticado pela candidata da Frente Nacional, que se pretende afirmar como a única política que tem uma proposta concreta para tirar a França do euro e da UE. "Mélenchon é como Tsipras", afirmou Le Pen, comparando o candidato da esquerda radical ao líder do Syriza, que enquanto candidato prometeu romper com os credores internacionais e sair do euro e depois de se tornar primeiro-ministro da Grécia foi obrigado a pedir um terceiro resgate ao FMI-BCE-UE.

Benoît Hamon - O rosto do declínio socialista

Com apenas 7% das intenções de voto para a primeira volta, Benoît Hamon, de 49 anos, é o rosto do declínio do Partido Socialista em França. Nas presidenciais de há cinco anos, os socialistas saíram vencedores, tanto na primeira volta como na segunda, e Hollande foi presidente. Agora, o partido enfrenta uma espécie de pasokização, numa referência ao Pasok, que de um dos maiores partidos passou a força política quase irrelevante na Grécia. Defensor de uma União Europeia forte e unida, preconiza a substituição do Eurogrupo por uma assembleia parlamentar, composta por deputados nacionais e eurodeputados dos diversos Estados membros. Hamon defende ainda uma harmonização fiscal e social e a mutualização de uma parte da dívida dos países da UE. Uma ideia a que a Alemanha, a maior economia da UE, sempre foi avessa ao longo dos anos. O candidato socialista preconiza ainda um projeto europeu de defesa e, na luta contra o crime e contra terrorismo, propõe uma maior cooperação com a criação de uma agência europeia de serviços de informações.

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