A angústia de Bergman com um tempero de humor
Haverá muito boa gente que, mesmo sem conhecer um único filme de Ingmar Bergman (1918-2007), não hesitará em classificá-lo como um símbolo uni- versal da angústia humana. Afinal, é ou não verdade que, através de títulos como O Sétimo Selo (1957) ou A Máscara (1966), o mestre sueco retratou as zonas mais recônditas da alma humana, expondo a nossa busca desesperada de significados seguros para uma tão frágil existência?
É um retrato apressado e maniqueísta. Para o provar, bastará evocar uma produção de 1964 que, entre nós, recebeu o sugestivo título de A Força do Sexo Fraco. Tudo se passa algures na década de 20 (do século passado), num contexto mais ou menos reservado e paradisíaco: um palacete onde vive um famoso violoncelista, rodeado pelas suas musas; e há também um crítico musical que, embora empenhado em escrever uma biografia do artista, vai tentando que o músico interprete uma peça que ele próprio compôs... Dito de outro modo: Bergman dirigiu uma comédia, deliciosa e contagiante, marcada por uma elegância que sabe rir das suas próprias convenções - foi também o seu primeiro filme rodado em película a cores.