1.Passeio Histórias (e locais) de Resistências Ribeira de Lisboa e Largo de São Roque Domingo, 31 de novembro Coordenei o livro Resistências - Insubmissão e Revolta no Império Português (edição LeYa/Oficina do Livro) constituído por 50 casos, relatados por 35 historiadores, muitos dos quais ligados ao projeto financiado pela Comissão Europeia Resistance, Rebellion and Resistance in the Iberian Empires. O desafio de hoje é pegar no livro e escolher um local emblemático para o ler, como em plena Ribeira de Lisboa (corresponde à zona entre o Terreiro do Paço e a Ribeira das Naus), onde a inquisição levava a cabo os seus autos-de-fé e onde, como se lê numa das histórias, foi condenada a mourisca Isabel Afonso em 1557. Não muito longe dali outra mourisca, Isabel Fernandes, mais conhecida por Maçuda, carregava água do Poço do Borratém, junto à Mouraria. No livro encontramos ainda locais como o Convento de São Roque (hoje ainda subsiste, no Largo Trindade Coelho, a igreja e o museu com o mesmo nome) onde vivia o mourisco Sebastião Quaresma; ou a Rua das Parreiras, junto ao Convento das Chagas (reduzida a escombros no terramoto), onde morava a padeira Mariana da Costa, nascida em Mazagão e presa pela Inquisição por blasfémia. Também a antiga Cadeia do Tronco (no pátio com o mesmo nome, na Rua das Portas de Santo Antão) foi o local onde foram presas algumas das mulheres negras que se revoltaram em Lisboa, em 1717, como se pode ler no livro. Quem estiver na zona de Setúbal pode também instalar-se na ribeira dessa cidade e ler as histórias de rebeldia das mulheres mouriscas que "ganhavam a vida na ribeira", preparando, salgando e vendendo o peixe que os homens pescavam. Os leitores que estejam em - ou se desloquem a - Mafra poderão também descobrir neste livro que a construção do convento foi feita à custa do trabalho forçado de milhares de homens deslocados de variadas partes de Portugal à revelia da sua vontade..2.Museu Ruínas do Teatro Romano Lisboa Segunda-feira, 1 de novembro.Recentemente classificado como monumento nacional, o Teatro Romano de Lisboa continua, contudo, a ser um local desconhecido de muitos lisboetas. Edificado no século I da nossa era, situado na zona histórica de Lisboa, perto da Sé, este museu e antigo teatro tinha capacidade para cerca de 4 mil espectadores, revelando-se como um dos mais importantes vestígios da presença romana em Portugal. Depois de aturadas escavações, o local foi recuperado e reabriu em 2015 enquanto museu, tendo o projeto recebido uma menção honrosa do Prémio Valmor em 2014. A beleza da vista para o Tejo que se observa do museu, a par da qualidade da exposição permanente, garantem uma tarde extraordinariamente bem passada que aqui recomendo..3.Exposição Rapture Ai Weiwei Cordoaria Nacional Lisboa Terça, 2 de novembro.Entra no seu último mês (encerra a 28 de novembro) a exposição do artista plástico chinês Ai Weiwei, na Cordoaria Nacional, em Lisboa. Esta é a primeira mostra do conhecido artista e ativista em Portugal, sendo impossível ficarmos indiferentes aos seus trabalhos originais e às peças que desenvolveu recorrendo a técnicas e materiais tradicionais do nosso país. Um generoso conjunto de fotografias, enormes construções, uma estátua do artista em cortiça (a que não será alheio o facto de o artista ter comprado casa em Montemor-o-Novo). O enorme barco negro com figuras de emigrantes agigantadas "esfrega-nos" na cara um problema muito atual e as bicicletas empoleiradas umas nas outras, formando uma vistosa peça no exterior do edifício, são duas das obras que me impressionaram, embora muito mais haja para ver no interior..4. Filme Visões do Império Realizado por Joana Pontes Quarta, 3 de novembro. Visões do Império é um filme sobre a forma como o império português e a sua história foram imaginados, documentados e publicitados a partir do registo fotográfico, desde o final do século XIX até ao 25 de Abril de 1974. Realizado por Joana Pontes, o filme foi apresentado no DocLisboa do ano passado (pode ver-se um vídeo de apresentação no site do DocLisboa) e vai, também, ser exibido por estes dias na Mostra de Cinema de São Paulo, no Brasil. Complementando este visionamento (o DVD pode ser adquirido na FNAC e na FNAC online) vale a pena uma deslocação ao Padrão dos Descobrimentos onde a exposição, também intitulada Visões do Império, coordenada pela mesma Joana Pontes, nos dá um vislumbre dos contextos de produção e dos usos da fotografia, relacionando-os com alguns dos eventos e processos mais relevantes da história do império colonial português..5.Documentário Chico Buarque Chico: Artista Brasileiro Netflix Quinta, 4 de novembro. Chama-se Chico: Artista Brasileiro e é um documentário genial que retrata um artista igualmente genial, Chico Buarque. Disponível na Netflix, este filme apresenta-nos o músico, o dramaturgo, o escritor e o poeta, celebrando a arte popular e provocativa que o transformou num ícone cultural. Neste documentário realizado por Miguel Faria Jr. - o mesmo que realizou o documentário sobre Vinicius de Moraes - assistimos a um diálogo do artista com a própria memória, acompanhamos a descoberta do irmão alemão de Chico Buarque e vemos e ouvimos os testemunhos e as atuações de vários artistas em torno da sua grande obra..6. Caminhada Do Rato ao Princípe Real Mãe D'Água e Reservatório da Patriarcal de Lisboa Sexta, 5 de novembro. O Reservatório da Mãe d"Água das Amoreiras é onde, em Lisboa, começa o Aqueduto das Águas Livres. Construído sob as ordens do arquiteto Carlos Mardel entre 1746 e 1748 e concluído em 1834, no reinado de D. Maria II, é hoje um local misterioso e de rara beleza, onde se destaca o enorme tanque que vai sendo alimentado pela água que jorra da boca de um golfinho sobre uma cascata e de onde emergem quatro colunas que sustentam um teto de abóbadas de aresta que, por sua vez, suporta o magnífico terraço panorâmico sobre a cidade de Lisboa. O Museu da Água que ali funciona promove visitas livres e guiadas ao reservatório. Dali partindo a pé, em direção ao Príncipe Real, vamos encontrar outra joia quase desconhecida da cidade, o Reservatório da Patriarcal, edifício de meados do século XIX, integrado no projeto de abastecimento de água a Lisboa do engenheiro francês Louis-Charles Mary. A sua forma octogonal coincide com a do polígono representado pelo gradeamento de ferro em volta do lago que está localizado sobre o depósito, no centro do jardim do Príncipe Real. As abóbadas, os arcos e os trinta pilares de quase dez metros que os suportam impressionam o visitante, ainda mais quando se percebe a função importante deste local e de todo o complexo sistema de galerias subterrâneas que levavam água para a cidade..7. Pôr do Sol Rooftop do Bairro Alto Hotel Praço Luís de Camões Sábado,6 de novembro. O terraço do Bairro Alto Hotel, no Chiado, oferece uma das mais deslumbrantes vistas da cidade de Lisboa, sendo um dos locais mais perfeitos para terminar o dia. É por este motivo que encerro este "roteiro" com uma visita ao BAHR, assim se chama o restaurante & bar situado no 5.º piso deste hotel lisboeta, onde se pode petiscar (ou jantar) seguindo as deliciosas propostas de gastronomia portuguesa do chef Nuno Mendes e do chef executivo Bruno Rocha. O local é igualmente aprazível para ir apenas "beber um copo", sendo que neste capítulo não faltam também bons cocktails e vinhos portugueses para se saborear enquanto se desfruta da vista - dali se vê o Tejo, a ponte e o Cristo Rei e toda a outra margem do rio, a azáfama da Rua do Alecrim e do Largo Barão de Quintela e, indo a horas, um magnífico pôr do Sol..filipe.gil@dn.pt
1.Passeio Histórias (e locais) de Resistências Ribeira de Lisboa e Largo de São Roque Domingo, 31 de novembro Coordenei o livro Resistências - Insubmissão e Revolta no Império Português (edição LeYa/Oficina do Livro) constituído por 50 casos, relatados por 35 historiadores, muitos dos quais ligados ao projeto financiado pela Comissão Europeia Resistance, Rebellion and Resistance in the Iberian Empires. O desafio de hoje é pegar no livro e escolher um local emblemático para o ler, como em plena Ribeira de Lisboa (corresponde à zona entre o Terreiro do Paço e a Ribeira das Naus), onde a inquisição levava a cabo os seus autos-de-fé e onde, como se lê numa das histórias, foi condenada a mourisca Isabel Afonso em 1557. Não muito longe dali outra mourisca, Isabel Fernandes, mais conhecida por Maçuda, carregava água do Poço do Borratém, junto à Mouraria. No livro encontramos ainda locais como o Convento de São Roque (hoje ainda subsiste, no Largo Trindade Coelho, a igreja e o museu com o mesmo nome) onde vivia o mourisco Sebastião Quaresma; ou a Rua das Parreiras, junto ao Convento das Chagas (reduzida a escombros no terramoto), onde morava a padeira Mariana da Costa, nascida em Mazagão e presa pela Inquisição por blasfémia. Também a antiga Cadeia do Tronco (no pátio com o mesmo nome, na Rua das Portas de Santo Antão) foi o local onde foram presas algumas das mulheres negras que se revoltaram em Lisboa, em 1717, como se pode ler no livro. Quem estiver na zona de Setúbal pode também instalar-se na ribeira dessa cidade e ler as histórias de rebeldia das mulheres mouriscas que "ganhavam a vida na ribeira", preparando, salgando e vendendo o peixe que os homens pescavam. Os leitores que estejam em - ou se desloquem a - Mafra poderão também descobrir neste livro que a construção do convento foi feita à custa do trabalho forçado de milhares de homens deslocados de variadas partes de Portugal à revelia da sua vontade..2.Museu Ruínas do Teatro Romano Lisboa Segunda-feira, 1 de novembro.Recentemente classificado como monumento nacional, o Teatro Romano de Lisboa continua, contudo, a ser um local desconhecido de muitos lisboetas. Edificado no século I da nossa era, situado na zona histórica de Lisboa, perto da Sé, este museu e antigo teatro tinha capacidade para cerca de 4 mil espectadores, revelando-se como um dos mais importantes vestígios da presença romana em Portugal. Depois de aturadas escavações, o local foi recuperado e reabriu em 2015 enquanto museu, tendo o projeto recebido uma menção honrosa do Prémio Valmor em 2014. A beleza da vista para o Tejo que se observa do museu, a par da qualidade da exposição permanente, garantem uma tarde extraordinariamente bem passada que aqui recomendo..3.Exposição Rapture Ai Weiwei Cordoaria Nacional Lisboa Terça, 2 de novembro.Entra no seu último mês (encerra a 28 de novembro) a exposição do artista plástico chinês Ai Weiwei, na Cordoaria Nacional, em Lisboa. Esta é a primeira mostra do conhecido artista e ativista em Portugal, sendo impossível ficarmos indiferentes aos seus trabalhos originais e às peças que desenvolveu recorrendo a técnicas e materiais tradicionais do nosso país. Um generoso conjunto de fotografias, enormes construções, uma estátua do artista em cortiça (a que não será alheio o facto de o artista ter comprado casa em Montemor-o-Novo). O enorme barco negro com figuras de emigrantes agigantadas "esfrega-nos" na cara um problema muito atual e as bicicletas empoleiradas umas nas outras, formando uma vistosa peça no exterior do edifício, são duas das obras que me impressionaram, embora muito mais haja para ver no interior..4. Filme Visões do Império Realizado por Joana Pontes Quarta, 3 de novembro. Visões do Império é um filme sobre a forma como o império português e a sua história foram imaginados, documentados e publicitados a partir do registo fotográfico, desde o final do século XIX até ao 25 de Abril de 1974. Realizado por Joana Pontes, o filme foi apresentado no DocLisboa do ano passado (pode ver-se um vídeo de apresentação no site do DocLisboa) e vai, também, ser exibido por estes dias na Mostra de Cinema de São Paulo, no Brasil. Complementando este visionamento (o DVD pode ser adquirido na FNAC e na FNAC online) vale a pena uma deslocação ao Padrão dos Descobrimentos onde a exposição, também intitulada Visões do Império, coordenada pela mesma Joana Pontes, nos dá um vislumbre dos contextos de produção e dos usos da fotografia, relacionando-os com alguns dos eventos e processos mais relevantes da história do império colonial português..5.Documentário Chico Buarque Chico: Artista Brasileiro Netflix Quinta, 4 de novembro. Chama-se Chico: Artista Brasileiro e é um documentário genial que retrata um artista igualmente genial, Chico Buarque. Disponível na Netflix, este filme apresenta-nos o músico, o dramaturgo, o escritor e o poeta, celebrando a arte popular e provocativa que o transformou num ícone cultural. Neste documentário realizado por Miguel Faria Jr. - o mesmo que realizou o documentário sobre Vinicius de Moraes - assistimos a um diálogo do artista com a própria memória, acompanhamos a descoberta do irmão alemão de Chico Buarque e vemos e ouvimos os testemunhos e as atuações de vários artistas em torno da sua grande obra..6. Caminhada Do Rato ao Princípe Real Mãe D'Água e Reservatório da Patriarcal de Lisboa Sexta, 5 de novembro. O Reservatório da Mãe d"Água das Amoreiras é onde, em Lisboa, começa o Aqueduto das Águas Livres. Construído sob as ordens do arquiteto Carlos Mardel entre 1746 e 1748 e concluído em 1834, no reinado de D. Maria II, é hoje um local misterioso e de rara beleza, onde se destaca o enorme tanque que vai sendo alimentado pela água que jorra da boca de um golfinho sobre uma cascata e de onde emergem quatro colunas que sustentam um teto de abóbadas de aresta que, por sua vez, suporta o magnífico terraço panorâmico sobre a cidade de Lisboa. O Museu da Água que ali funciona promove visitas livres e guiadas ao reservatório. Dali partindo a pé, em direção ao Príncipe Real, vamos encontrar outra joia quase desconhecida da cidade, o Reservatório da Patriarcal, edifício de meados do século XIX, integrado no projeto de abastecimento de água a Lisboa do engenheiro francês Louis-Charles Mary. A sua forma octogonal coincide com a do polígono representado pelo gradeamento de ferro em volta do lago que está localizado sobre o depósito, no centro do jardim do Príncipe Real. As abóbadas, os arcos e os trinta pilares de quase dez metros que os suportam impressionam o visitante, ainda mais quando se percebe a função importante deste local e de todo o complexo sistema de galerias subterrâneas que levavam água para a cidade..7. Pôr do Sol Rooftop do Bairro Alto Hotel Praço Luís de Camões Sábado,6 de novembro. O terraço do Bairro Alto Hotel, no Chiado, oferece uma das mais deslumbrantes vistas da cidade de Lisboa, sendo um dos locais mais perfeitos para terminar o dia. É por este motivo que encerro este "roteiro" com uma visita ao BAHR, assim se chama o restaurante & bar situado no 5.º piso deste hotel lisboeta, onde se pode petiscar (ou jantar) seguindo as deliciosas propostas de gastronomia portuguesa do chef Nuno Mendes e do chef executivo Bruno Rocha. O local é igualmente aprazível para ir apenas "beber um copo", sendo que neste capítulo não faltam também bons cocktails e vinhos portugueses para se saborear enquanto se desfruta da vista - dali se vê o Tejo, a ponte e o Cristo Rei e toda a outra margem do rio, a azáfama da Rua do Alecrim e do Largo Barão de Quintela e, indo a horas, um magnífico pôr do Sol..filipe.gil@dn.pt