7 dias, 7 propostas por Francisco Guimarães
1. Feira do livro
Lisboa (até 12 de setembro)
Domingo, 5 de setembro
Como um bom digestivo, aconselha-se durante a noite, ali no limiar da hora de encerramento. O tempo estica como elástico, está mais fresquinho e evita-se os encontrões com estranhos ou presidentes da República que por ali passam a tirar selfies. A oferta é sempre ampla e de qualidade, como se quer - dos alfarrabistas às pequenas, médias e grandes editoras. É também um bom evento para nos encontrarmos com heróis. Na semana passada, bebi uma cerveja com o Afonso Cruz e encontrei o Gonçalo M. Tavares. Assim, confesso, vale a pena lá ir também durante a tarde.
2. Ler
Obra poética de Sophia de Mello Breyner
Segunda, 6 de setembro
Este livro não vem com palavrões na capa, nem sequer nos ensina a vivermos felizes com 37 regras que vão mudar o nosso acordar e a nossa digestão, mas fala mais sobre a humanidade e sobre a nossa existência do que qualquer manual do novo guru do Tibete. Normalmente, porque não é barato, está em desconto na Feira do Livro e pesa o mesmo sozinho do que três ou quatro livros juntos. A obra de Sophia versa sobre a totalidade do ser humano, os seus desejos, as suas amarguras e a sua relação com a natureza, com os objetos e consigo próprio. É um calhamaço que vale a pena trazer para casa.
3. Política
Fernando Medina - Carlos Moedas
Debate TVI e TVI24
Terça, 7 de Setembro
É o nosso futuro e o da nossa cidade que se debate neste único frente-a-frente destas eleições autárquicas. Portugal vive tempos difíceis do ponto de vista político. As pessoas estão anestesiadas, descrentes, e a abstenção está cada vez maior. A minha geração, a dos 20 e dos 30 anos - tal como as outras, ainda que numa escala maior -, cada vez se interessa menos por estes assuntos. Será um debate fundamental para a cidade de Lisboa e para o futuro do país, da direita e da esquerda. Estão na mesa as únicas opções, as duas únicas pessoas que podem ganhar as eleições. São duas pessoas muito diferentes no seu passado, na sua forma de estar, na sua forma de liderar e nas ambições que têm, com ideias também elas totalmente distintas para a capital. "Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar." O jogo é nosso. Vamos jogar ou não queremos ser protagonistas?
4. Fado
Mesa de Frades e Fado ao Carmo
Quarta, 8 de setembro
Finalmente. Reabriu a Mesa de Frades. Ali cantaram os melhores fadistas que Portugal já conheceu, e a casa resiste como lugar onde se cruzam gerações e géneros musicais. Os velhos dão lugar aos novos e os novos curvam-se diante do trinado amadurecido dos mais velhos. No dia da reabertura, liderados pelo guitarrista Pedro de Castro, passaram por lá a Carminho, a Teresinha Landeiro e o João Braga, só para dar três exemplos de uma noite cujo privilégio de quem lá esteve eu invejo. Já o Fado ao Carmo reabriu há mais tempo e está cheio de vida. Do fado tradicional ao cante, do fado moderno ao jazz, ali acontece de tudo, com surpresas inesperadas como Buba Espinho cantando com os seus amigos, Duarte e Chico, Carolina Milhanas com a sua potente voz e Luís Guerreiro, Bernardo Romão ou Rodrigo Costa Félix com fado nos sentidos.
5. Comer
Restaurante O Frade
Calçada da Ajuda, 14em Belém
Quinta, 9 de setembro
É dos sítios que mais gozo me dão frequentar em Lisboa, principalmente se estou no mood da cozinha alentejana. Criado nas raízes do sul das planícies de trigo, o chef Carlos Duarte Afonso encontrou uma fórmula - diria quase perfeita - de juntar os sabores tradicionais do coelho, das perdizes, do pato e da charcutaria com a inovação da cozinha de autor. Tudo é bom nesta casa. E tudo sabe realmente a comida, que hoje em dia é coisa rara. Não inventa muito, é simples e criativo sem ser pretensioso. É por isso que ao balcão a ver acontecer ou na esplanada com sardinheiras penduradas consigo comer um arroz de pato divinal - diferente de tudo o que já provei -, um arroz de corvina que só se deveria poder comer no paraíso e uma perna de borrego que não se mastiga de tão tenra que é. Além disso, quem lá trabalha sabe receber como se fosse a sua própria casa. Quando não tenho mais assuntos para rezar, peço para que estes sítios e estas pessoas nunca mudem.
6. Concerto
Orquestra Gulbenkian e os Seus Solistas
Sexta, 10 de setembro
Quando se trata de música, a beleza não tem rosto. Ainda assim, todos os anos, a Orquestra Gulbenkian procura dar relevo aos que habitualmente se escondem atrás de um instrumento, inaugurando a temporada com um instrumentista a tocar a solo, além do habitual conjunto, claro. Neste ano, serão dois solistas a acompanhar os homens e as mulheres que se vestem de preto e de pautas no horizonte. A orquestra vai andar entre a retidão do período clássico e o turbilhão do romantismo, e será dirigida pelo brilhante Martim Sousa Tavares - promissor estreante nestas andanças gulbenkianas que tem feito um trabalho notável como missionário da música clássica.
7. Música
Caetano Veloso Voz e Violão
Música Popular Brasileira
Sábado, 11 de setembro
A voz permanece cristalina, e o compositor brasileiro dará na emblemática sala lisboeta o último de quatro concertos acompanhados pelo seu violão. Caetano tem 79 anos, e a sua energia contagia qualquer alma preguiçosa como a minha. Calculo que entoe aquelas primeiras notas inconfundíveis do Leãozinho, música que escreveu para um dos filhos, e que reze a novena de Dona Canô, sua mãe, numa das mais geniais composições - Reconvexo. Aconselho uma pequena pesquisa sobre o significado desta enigmática canção de Caetano, interpretada por ele e pela irmã, Bethânia.
Escolhas e sugestões pelo escritor Francisco Guimarães