65% dos jovens detidos praticaram crimes sob efeito de álcool ou droga

Mais de um terço dos jovens disse ter consumido durante o internamento, dentro e fora das instituições. Em muitos casos família tem problemas com a justiça
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A maioria dos jovens internados nos centros educativos cometeu crimes sob o efeito de álcool ou drogas. De acordo com o estudo "Comportamentos Aditivos em Jovens Internados em Centros Educativo", realizado pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), as principais motivações foram ter dinheiro e por diversão. O inquérito mostrou ainda que estes jovens têm consumos mais nocivos do que os que andam nas escolas regulares, pertencem a famílias desestruturas e que mais de um terço teve consumos durante o período de internamento.

O estudo releva que "65% dos jovens cometeram pelo menos parte dos crimes sob o efeito de bebidas alcoólicas ou de substâncias ilícitas: 34% estiveram por vezes sob o efeito de bebidas alcoólicas, 8% sempre e 45% estiveram por vezes sob o efeito de substâncias ilícitas, 15% sempre". Roubo, furto e ofensa à integridade física foram os principais crimes que os levaram ao internamento. As motivações, adiantou Ludmila Carapinha, autora principal do estudo, foram sobretudo "para terem dinheiro e bens (66%), pela diversão e adrenalina (40%) e um terço por motivos relacionados com o consumo: para terem dinheiro para comprar ou porque estavam sobre o efeito das mesmas [substâncias]".

O inquérito, que se realizou em junho de 2015, através do questionário de autopreenchimento distribuído pelos seis centros educativos do país - responderam 142 jovens entre os 164 internados, correspondendo a 680 processos educativos -, mostrou que muitos deles já tinham comportamentos de maior consumo e mais nocivo antes do internamento do que os jovens que frequentam o ensino regular, com mais binge drinking (cinco ou mais bebidas numa só ocasião) e embriaguez. A cerveja, as bebidas espirituosas e a canábis são as substâncias preferidas.

Metade dos jovens internados admitiu ter tido problemas por causa dos consumos: atos de violência, problemas na escola e de comportamento em casa. Mas há um passado na vida destes jovens (o estudo incidiu entre os 14 e os 20 anos) que também pesa. Uma experiência de vida mais desestruturada que os jovens em geral. Apenas um terço viveu com ambos os pais, mais de 40% mudou três ou mais vezes de casa e muitas vezes de escola. "Um quarto dos jovens disseram ter familiares próximos de costumam ou costumavam consumir drogas e beber álcool, em 60% as famílias têm problemas com a justiça, têm um percurso escolar de baixo sucesso - 95% faltavam às aulas e 86% já tinham sido suspensos ou expulsos, 65% não iam à escola", referiu a autora do estudo. Segundo o inquérito, para mais de metade dos jovens, o recurso a substâncias psicoativas era uma forma de lidar com situações difíceis.

Consumir no centro

37% dos jovens que estão nos centros educativos disseram ter consumido, pelo menos uma vez, álcool ou drogas durante o período de internamento, que pode chegar a máximo de três anos em regime fechado. Cerveja, bebidas espirituosas e canábis foram as principais substâncias. Por terem autorização de saída para o exterior durante o fim de semana e férias, o estudo separou os consumos entre fora e dentro dos centros educativos. Assim, "34% já haviam consumido bebidas alcoólicas fora do centro educativo e 10% dentro. Por sua vez, 26% já haviam consumido substâncias ilícitas fora do centro educativo e 23% dentro".

Celso Manata, diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais, tem dificuldade em aceitar o consumo de álcool nos centros. "Não temos indícios de consumo de bebidas alcoólicas. Tinham de existir garrafas, cheiro e é feita revista. Relativamente à canábis é possível. É qualquer coisa que existe de forma muito similar no sistema prisional e naturalmente existem um conjunto de medidas preventivas e punitivas que são utilizadas para lutar contra isso", disse.

Para Helena Mesquita Ribeiro, secretária de Estado da Justiça, os dados não devem ser desprezados. "Compete a quem tem responsabilidades tomar em conta a conclusão do estudo e ver de que modo é que essas substâncias penetram nestes locais de modo a evitar que estes consumos que tanto de pretendem afastar tenham continuidade. O que temos de fazer do ponto de vista do ministério é controlar esses circuitos e mostrar comportamentos de solidariedade com quem cá está", disse, referindo que "o país não tem a quantidade de recursos humanos e técnicos habilitados que gostaria de ter", mas tem feito um bom trabalho. No espaço de dois anos espera reforçar as equipas de psicologia e psiquiatria nos centros.

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