500 páginas com (quase) todos os segredos da vida de Trump
As biografias sobre Donald Trump sucedem-se nos Estados Unidos, e em Portugal, a primeira após ter sido eleito sai na quarta-feira. O título é provocador - Trump Revelado - e o conteúdo das suas 500 páginas não o é menos. Até se pode começar pelo fim, pois é o capítulo escrito já depois de divulgados os resultados eleitorais, no qual a equipa de mais de 20 jornalistas do The Washington Post destacados para escrutinar a vida do candidato dos republicanos aponta a lista das falsidades ditas por Trump durante toda a campanha. Também destacam o modo mais educado como se apresentou aos eleitores no salão de festas de um hotel de Manhattan ao reclamar a vitória com "um comunicado escrito e lido num tom sério, profundo e quase solene". Ou, menos de 48 horas depois, ao visitar a Casa Branca e negar que o presidente Obama tivesse nascido no estrangeiro, mesmo que durante anos o tivesse dito. Até parecer "gracioso" ao chamar Hillary e Bill Clinton de "boas pessoas" e que desistira de a mandar prender.
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Os autores de Trump Revelado, Michael Kranish e Marc Fisher, garantem que esta é a biografia definitiva do 45.º presidente dos EUA, a quem não faltam histórias de todo o género: picantes, indiscretas e secretas, que retratam o candidato que "concluiu o mais improvável percurso na história das campanhas americanas" prometendo que iria mudar a decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo ou deportar imediatamente 11 milhões de imigrantes ilegais e que eleito justificou o volte-face com: "Precisamos de uma certa retórica para motivar as pessoas." Ou seja, consideram os autores, o polémico Trump abandonou o estilo "direto, malicioso, pragmático, zangado, trocista e insultuoso"; não se vai gabar mais do perfil de playboy; deixará de ser o empresário que enganou empreiteiros, agências imobiliárias e contratou imigrantes ilegais. Ou seja, em poucas palavras, protagonizou "uma das mais ousadas metamorfoses na história americana ao vender-se aos eleitores como um herói populista" que ignorou as regras da política moderna e ridicularizou as ideologias a troco de um "pragmatismo duro e rude alimentado por um ego sem freios nem vergonha". Vamos a alguns dos muitos casos do livro de Kranish e Fischer...
Ganância: Vender o nome por royalties
No capítulo "Império", os jornalistas revelam que entre 2011 e 2015, quando já era candidato, Trump deu início a negócios em mais de uma dúzia de países que tinham diferendos com os EUA, como a Turquia, a Indonésia e os Emirados Árabes Unidos. "Em quase todos os casos, o único envolvimento era licenciar a marca Trump a parceiros locais por comissões que atingiam milhões de dólares". Foi o que aconteceu na Geórgia com um projeto de 300 milhões em que "nada foi construído". Ou, no Azerbaijão, onde se "erguia um cintilante edifício de 33 andares com um letreiro no topo onde estava escrito Trump Tower", mas que não passava de um edifício fantasma.
Esta realidade empresarial foi facilitada a partir do momento em que se tornou uma estrela da televisão "presente em todos os lares" através do reality show O Aprendiz, que lhe permitiu também dar o nome a marcas de camisas para homem, ao perfume Success by Trump e a uma água, Trump Ice.
Espetáculo: Ficar careca no wrestling
Um dos momentos mais estapafúrdios de Donald Trump em busca do sucesso foi ter aceitado um combate de wrestling com Vince McMahon, o empresário da Wres- tleMania. No entanto, o combate entre os dois apenas aconteceria através de um representante no ringue, mesmo que o vencedor tivesse direito a rapar a cabeça do rival. O objetivo, dizem os autores, era apenas o de "cultivar novas audiências". O certo é que o característico redemoinho louro brilhava sob os holofotes enquanto eram transmitidas encenações dos dois empresários filmadas anteriormente. No fim, o wrestler que representava Donald Trump venceu e Vince McMahon ficou careca.
Diplomacia: Responder violentamente ao Papa
Num dos capítulos finais, "Trump! Trump! Trump!", os autores investigam o percurso político que o levou à vitória presidencial. Como quando queria destruir os rivais Bush, Rubio e Cruz e "a meio de um debate atacou Jeb Bush sobre a Guerra do Iraque. "Eles mentiram", disse Trump. "Disseram que existiam armas de destruição maciça e sabiam que não havia"". Ou: "O World Trade Center veio abaixo durante o reinado do seu irmão, lembre-se disso. O público vaiou e disse a Trump que tinha posto a sua vitória em risco. Mas ele não se arrependeu: "Tenho de ser sincero." Parecia que Trump procurava a controvérsia", dizem os autores.
Não deixam de contar outro caso, "a escaramuça com o Papa Francisco" depois de este ter afirmado que "uma pessoa que pensa apenas em construir muros, onde quer que possam ser, e não em construir pontes, não é cristã." A resposta não se fez esperar: "Pensei logo no Vaticano, com as suas muralhas maciças, e disse: "Bem, esperem aí, ele tem os maiores muros." Considerou "vergonhosas" as palavras do Papa e não deixou de dizer: "Se e quando o Vaticano for atacado pelo ISIS, porque como toda a gente sabe é o seu derradeiro troféu, posso prometer que o Papa se vai arrepender de não ter desejado e rezado para que eu fosse presidente."
Família: Desprezar o pai e trair a mulher
Um dos capítulos mais dramáticos é "Pai e filho", que relata o percurso empresarial do pai e de como este legou uma fortuna polémica e muitas vezes sob a ação da justiça. Explicam que Trump queria uma vida diferente e viver em Manhattan em vez de na periferia, como o pai. Considerava que "o dinheiro que ganhava era para gastar" e menosprezava a vivência nas partes sujas da cidade". Nas suas próprias palavras: "Não era um mundo que achasse muito atrativo." Daí que tenha "perdido a paciência com a estratégia do pai que construía para os habitantes de baixo e médio rendimento de Brooklyn e de Queens" e partisse à conquista da zona mais nobre de Nova Iorque em 1971. Dois anos depois, Trump estava mais próximo do seu objetivo ao criar um negócio próprio de imobiliário, mas o governo abriu um processo contra o pai e ele, o que o obrigou a entrar no mundo das influências nos bastidores do poder privado e público através de um amigo, Roy Cohn, que lhe ensinou uma máxima que seguiria toda a vida: "Quando atacado, contra-ataca com uma força esmagadora."
Aos métodos usados por Trump não escapam as mulheres, como contam: "A partir do primeiro dia enfrentou uma ofensiva de acusações de que tinha apalpado mulheres, tido um comportamento bárbaro e feito insultos, e ganhou." Até disseram que lhe "deu rosto humano". Ou quando se separou de Ivana porque "o nível de arrogância dela tornou-se maior nos últimos anos". Não faltam descrições da capacidade sexual ou de aventuras, mesmo que falsas, como ter namorado Madonna, entre outras das mulheres sexy de Hollywood.