"Perante o agravamento da pandemia por covid-19, verificado nos últimos dias, e que está a levar o SNS ao limite das suas capacidades, torna-se prioritário responder com todas as soluções ao dispor das autoridades de saúde de maneira a diminuir drasticamente a escalada de infetados, internamentos e óbitos que se estão a verificar". É assim que começa a tomada de posição do Grupo dos 50 (ver em baixo todos os nomes), do qual fazem parte políticos, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, cientistas, economistas, juristas, advogados, arquitetos, sobre o combate à pandemia por covid-19. Um grupo que reuniu esforços em 2017 para alertar a sociedade portuguesa sobre a urgência de uma nova Lei de Bases da Saúde, através de uma petição para a sua discussão, e que tem vindo também a reclamar um Estatuto para o Serviço Nacional de Saúde. .E o porquê de uma tomada de posição agora está igualmente explicada no documento. "O único motivo é a saúde da população e as insuficiências que se estão a verificar nas respostas que estão a ser dadas", exigindo que "toda a capacidade instalada seja colocada ao serviço de quem está doente", justificando tal exigência com o facto de que "em situações excecionais têm de ser tomadas medidas excecionais"..O apelo do Grupo dos 50 junta-se esta semana a outros da sociedade civil nas críticas à atuação do Governo e no apelo à vacinação massiva e aos maiores de 80 anos. Mas, no documento, datado de 25 janeiro, e a que o DN teve acesso, os subscritores - dos quais fazem parte a arquiteta Helena Roseta, a jurista Ana Pratas, o economista, José Reis, o ex-presidente do Infarmed, José Aranda da Silva, o advogado Ricardo Sá Fernandes, os médicos Cipriano Justo, João Proença, Jorge Espírito Santo, Nídia Zózimo, os enfermeiros Guadalupe Simões e José Carlos Martins, entre muitos outros - vão mais além do que os apelos à vacinação, fazem um balanço da atuação do Governo e pedem transparência na tomada de decisões..Nesta tomada de posição, os signatários consideram que "as medidas até agora tomadas, embora sejam necessárias para conter o agravamento ainda maior da situação, representam um compasso de espera para que seja posta em prática, em larga escala, a única solução que pode responder ao enorme número de acontecimentos indesejáveis que diariamente são noticiados"..Destaquedestaque"Constituiria um grave erro de avaliação, com consequências sociais e epidemiológicas dificilmente controláveis, atribuir à população os danos que toda a sociedade está a sofrer.".O Grupo dos 50 assume não "menosprezar a importância do confinamento e de todas as medidas de proteção aconselhadas pelas autoridades de saúde", mas defende ser preciso investir mais na "tomada de consciência por parte da população relativamente à gravidade do que se está a passar" para defender "a sua própria saúde e a dos outros"..Para este grupo de personalidades, "constituiria um grave erro de avaliação, com consequências sociais e epidemiológicas dificilmente controláveis, atribuir à população os danos que toda a sociedade está a sofrer". Por isso, sublinham, que é na ação pedagógica que está a chave para que se verifique melhor compreensão e maior adesão ao aconselhamento que é prestado pelas autoridades"..Os subscritores criticam a atuação do Governo de António Costa, que dizem estar a ser mais reativa do que preventiva. "O governo tem vindo a procurar tomar as decisões que mais se ajustam aos desafios que tem de enfrentar, mas fê-lo baseado num modelo de intervenção que em vez de os antecipar ou prevenir foi quase sempre reativo e de contenção de danos, acomodando-se às restrições orçamentais", lê-se no documento..O Grupo dos 50 reconhece que se está perante uma situação de grandes riscos para "a saúde de todos nunca antes conhecidos" e que alguns "erros e hesitações seriam sempre inevitáveis". Contudo, "não basta admitir que se cometeram erros ou que algumas soluções foram mal equacionadas. Eles devem ser explicados de maneira a que o escrutínio democrático seja feito, mas também para que todos e cada um participe na prevenção desses erros"..A meia centena de personalidades das diversas áreas reivindicam nesta tomada de posição que "o princípio da transparência esteja sempre presente nas decisões", "principalmente quando altera e colide com a vida das pessoas, obrigando-as a modificar hábitos, rotinas e modos de vida há muito adquiridos". .Considerando mesmo que "a opacidade da informação é um inimigo do combate à pandemia. Ter-se conhecimento dos fundamentos das decisões é não só um instrumento facilitador das soluções que em cada momento têm de ser tomadas, considerando a sua evidência científica, mas também um fator de aceitação e cumprimento da decisão"..Para este grupo, "só será possível minimizar o impacto do atual descontrolo da propagação da infeção recrutando todas as competências técnicas e científicas ao serviço de políticas mobilizadoras, fundamentadas na investigação"..Por outro lado, sublinham, "compete aos governantes proceder à avaliação política da situação objetiva por forma a envolver simultaneamente a população e todos os agentes que, no terreno, intervêm na aplicação das decisões que tecnicamente são consideradas as mais aconselhadas"..Sustentando, por isso, "se há recursos que ainda não estão a ser aproveitados no setor social e privado eles devem ser de imediato acionados de maneira a que não se verifique o agravamento ainda maior da situação pandémica. Todos, sem exceção, têm o dever de solidariamente contribuir para debelar esta catástrofe sanitária. Cabe, por isso, ao governo tomar as decisões que previnam males maiores para o que está a acontecer.".No que toca à vacinação, este grupo defende que "o governo deve investir todos os seus esforços" nesta forma de combate à pandemia, "sem esquecer a logística e a quantidade de profissionais necessários para que no menor espaço de tempo possível se consiga fazer a cobertura da grande maioria da população, considerando os critérios de risco etário, social e epidemiológico"..No documento é referido ser este "um dos aspetos críticos em termos de planeamento", pelo que "deve estar suficientemente delineado de maneira a não se verificarem falhas na sua aplicação. Nomeadamente, deverá ser público, elaborado por escrito e tecnicamente fundamentado". E quanto à possibilidade de alterações, o grupo argumenta que esta "também deverá ser de imediato publicamente justificada"..O momento que vivemos, coloca "em jogo milhões de vidas em toda a Europa e no país", sendo "inaceitável que o planeamento das necessidades não tenha sido feito com o máximo rigor exigido", refere o grupo. Por isso, este apelo vem pugnar para que se corrija ou que há a corrigir, surgindo no dia em que Portugal ultrapassa as 11 mil vítimas mortais por covid-19, ao registar 291 óbitos nas últimas 24 horas. Ao todo, o país contabiliza 653 878 casos de infeção e 11 012 vítimas mortais..(*)Os nomes de todos os signatários do Grupo dos 50: Adelino Fortunato (economista); Aguinaldo Cabral (médico(; Ana Feijão (médico); Ana Matos Pires (médica); Ana Prata (jurista); André Barata (jurista); Antónia Lavinha (médica); António Avelãs (professor); António Rodrigues (médico); Armando Brito Sá (médico); Augusta Sousa (enfermeira); Carlos Ramalhão (médico); Cipriano Justo (médico); Corália Vicente (matemática); Daniel Adrião (consultor); David Pires Barreira (psicólogo); Fernando Gomes (médico); Fernando Martinho (médico); Gregória Caeiro Von Amann (médica); Guadalupe Simões (enfermeira); Helena Roseta (arquitecta); Heloísa Santos (médica); Jaime Correia de Sousa (médico); Jaime Mendes (médico); João Lavinha (investigador); João Proença (médico); Jorge Espírito Santo (médico); José Aranda da Silva (farmacêutico); José Calheiros (médico); José Carlos Martins (enfermeiro); José Manuel Boavida (médico); José Maria Castro Caldas (economista); José Reis (economista); Luiz Gamito (médico); Luísa d´Espiney (enfermeira) ; Maria Deolinda Barata (médica); Maria João Andrade (médica); Maria Manuel Deveza (médica); Mariana Neto (médica); Mário Jorge Neves (médico); Nídia Zózimo (médica); Paulo Fidalgo (médico); Pedro Ferreira (matemático); Ricardo Sá Fernandes (advogado); Sérgio Esperança (médico) ; Sérgio Manso Pinheiro (geógrafo); Sofia Crisóstomo (farmacêutica); Teresa Gago (dentista).